Angola: Isabel dos Santos no centro de investigações sobre corrupção

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Isabel dos Santos – Arquivo Pessoal

Por dentro da África

Filha do ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, ela foi nomeada pela revista Forbes, em 2013, como a primeira bilionária em África. Hoje, Isabel dos Santos está no centro de um grande escândalo de corrupção.

Uma investigação realizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) aponta que Isabel, seu marido (Sindika Dokolo) e intermediários teriam criado cerca de 400 empresas e subsidiárias em 41 países. O documento destaca o desvio de mais de 110 milhões de dólares da Sonangol (petrolífera estatal angolana) para Dubai, onde a empresária vive.

A investigação que expõe acordos entre empresários, políticos e advogados, envolveu 36 veículos de comunicação de todo o mundo e mais de 700 mil registros confidenciais desde a década de 80.

Saiba mais sobre o Luanda Leaks no especial
da Agência Pública

Diante das revelações, Isabel afirma, em suas redes sociais, ser vítima de perseguição política desde que o novo presidente, João Lourenço, assumiu o poder, em agosto de 2017. Antes disso, por 37 anos, desde a independência de Angola (11 de novembro de 1975), o seu pai, José Eduardo dos Santos, esteve no comando do país.

O Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos – PEDRO PARENTE / ANGOP / LUSA

Um dos países mais pobres da Terra, apesar de ser o segundo produtor de petróleo no continente africano (cerca de 1,7 milhão de barris diários), Angola enfrenta uma crise econômica desastrosa que escraviza seus cidadãos. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 2019, o país tinha 52% da sua população vivendo na pobreza.

Uma das principais receitas do país vem da comercialização de diamantes. Em 2018, a Sociedade de Comercialização de Diamantes de Angola (Sodiam) informou que a comercialização do mineral havia superado 1,2 bilhão de dólares. O anúncio é um paradoxo para o país que tem a maior taxa de mortalidade infantil do mundo (157 em cada mil crianças morrem com menos de 5 anos, segundo o UNICEF).

Vacinação contra a febre amarela em Angola – Foto de UNICEF

A forma como a ex-presidente da Sonangol lidou com o a administração e com os recursos do seu país para se tornar a mulher mais rica de África ilustra a estatística vergonhosa que coloca Angola como a 15º nação mais corrupta de todo o mundo, segundo dados da Transparência Internacional.

O poder como fonte de corrupção em Angola

Ao Por dentro da África, o ativista angolano Rafael Marques, que há mais de 20 anos denuncia abusos por parte do governo e empresas em seu país, diz que a corrupção governa a vida dos cidadãos, é ela que permite que os cidadãos possam ou não ascender em Angola.
Rafael Marques – Foto de Graça Campos – Correio Angolense
“A nossa sociedade está desmoralizada, e a minha luta tem sido para que os cidadãos tenham conhecimento do que se passa e, sobretudo, que tenham consciência de que temos que mudar de atitude. Temos que deixar de pensar na corrupção como loteria, onde poucos ganham e quase todos perdem”, disse Rafael Marques. Leia a reportagem em Por dentro da África.

Arresto de bens em Angola

Em 30 de dezembro de 2019, um tribunal angolano decretou o arresto dos bens de Isabel. Como explica o Maka Angola, ‘o arresto está previsto nos artigos 402.º e seguintes do Código do Processo Civil em vigor em Angola. Ele pode ocorrer quando o credor tenha receio de insolvência do devedor ou de ocultação de bens por parte deste’.  Leia o texto sobre o arresto de bens no Maka Angola

Império em Portugal

Em Portugal, de forma indireta, Isabel controla parte da Galp, Efacec, NOS e Eurobic (banco que teria sido usado para transferir dinheiro da Sonangol para uma offshore em Malta). Leia o especial do Jornal Expresso, em Portugal