Natalia da Luz, Por dentro da África
Rio – Um projeto experimental que pode transformar diferentes partes do mundo planeja levar água para comunidades rurais da Etiópia, nação mais antiga da humanidade e a primeira a abrigar o Warka Água, recipiente criado para captar água potável da atmosfera e disponibilizá-la para consumo.
– Warka Water visa à capacitação das comunidades que sofrem com a escassez de água e à produção de água potável a partir da atmosfera (chuva e neblina), utilizando um sistema passivo (sem consumo de energia) e fenômenos naturais (gravidade e condensação) – explicou em entrevista exclusiva ao Por dentro da África, o idealizador Arturo Vittori.
O nome do projeto é inspirado na árvore gigante ‘Warka’, uma figueira nativa da Etiópia, tradicionalmente utilizada para reuniões públicas, e que faz parte da cultura e do ecossistema local.
Estudos recentes mostram que apenas 34% da população da Etiópia têm acesso a um melhor abastecimento de água. Isso quer dizer que cerca de 60 milhões de pessoas não têm água potável.
A torre pode ser construída e montada por moradores locais, sem a necessidade de andaimes ou equipamentos elétricos. Com 10m de altura, ela pesa apenas 60 kg e pode captar cerca de 100 litros de água por dia.
Construída com materiais baratos reciclados (blocos de pedra locais, fios de cânhamo, cabos de poliéster e malha de bioplástico), a estrutura é feita principalmente de bambu. O revestimento interno (de plástico reciclado em espécie de rede) agrupa gotículas de orvalho que vão ao encontro do recipiente de coleta.
Onde e quando nasceu a ideia
A ideia foi desenvolvida há dois anos, em um estúdio italiano, pelo arquiteto Arturo Vittori. Depois de visitar, em 2012, aldeias rurais na Etiópia e testemunhar a dramática situação da falta de água potável, Vittori disse para ele mesmo que era imperativo agir e projetar uma solução para aquelas comunidades.
A Etiópia é a segunda nação mais populosa da África e a décima maior em área. O país faz fronteira com Sudão, Sudão do Sul, Djibuti, Eritreia, Somália e Quênia, e divide com a África do Sul o posto de maior número de Patrimônios Mundiais da UNESCO no continente (oito, cada país).
– Atualmente, estamos realizando experimentos em um protótipo localizado em Bomarzo, na Itália. A Warka Água é um projeto experimental, temos melhorado o conceito. Testei a construção de nove protótipos em escala real, e estamos atualmente desenvolvendo o protótipo 10 – disse o arquiteto sobre a torre que custa cerca de US$ 1000 e pode ser construída em menos de uma semana por uma equipe de seis pessoas.
Alternativa para áreas de insegurança alimentar
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) advertiu que a escassez de água é uma das questões mais urgentes relacionadas à segurança alimentar no Oriente Médio e no Norte da África. A disponibilidade de água doce per capita na região caiu dois terços ao longo dos últimos 40 anos e deverá diminuir mais 50% até 2050, segundo a FAO.
A agricultura e outras atividades afins consomem mais de 85% dos recursos de irrigação, água subterrânea e água vinda das chuvas e, com o aumento da população urbana e das exportações, mais produtos agrícolas serão necessários.
Objetivo de Desenvolvimento do Milênio
De acordo com a ONU, o Norte de África e a África Subsaariana fizeram diferentes níveis de progresso para o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio sobre a água. O Norte da África tem uma cobertura de 92% e está a caminho de cumprir a meta de 94% antes de 2015. No entanto, a África Subsaariana vive um caso em contraste, com 40% das 783 milhões de pessoas sem acesso a uma fonte de água potável na região.
Uma análise dos dados de 35 países da África Subsaariana (representando 84% da população da região) mostra diferenças significativas entre os mais pobres e os mais ricos da população, tanto em áreas rurais e quanto urbanas. Mais de 90% dos mais ricos em áreas urbanas usam fontes melhoradas de água e mais de 60% têm água encanada no local. Nas áreas rurais, a água canalizada é inexistente em 40% mais pobres das famílias, e menos da metade da população utiliza qualquer tipo de fonte melhorada de água.
Cronologia do projeto
Desde 2012, Vittori já percorreu um longo caminho e está pronto para construir o primeiro piloto e testá-lo no campo. Em 2019, quando o projeto estiver concluído, ele pretende iniciar a produção em larga escala.
– Esperamos revigorar a economia local por meio de atividades de fabricação e dar oportunidades para investir em atividades mais produtivas e educação infantil. Acreditamos que esse projeto pode ser um trampolim para capacitar as comunidades a construir uma maior independência – explica Vittori na descrição do projeto.
Produção do Warka
Para encontrar fonte de água, o idealizador lembra que é preciso perfurar profundamente no solo até 1.600 pés (500 m). Para trazer a água para a parte superior requer bombas e equipamentos elétricos, que são caros e difíceis de manter. Com a Warka, seria possível fornecer fontes sustentáveis e acessíveis de água!
Veja os elementos essenciais do projeto:
Coleta de água por dia: 13 a 26 galões (50 a 100 L), média anual
Armazenamento do tanque de água: 264 galões (1000 L)
Construção: 4 dias, 6 pessoas (com a mão, sem máquinas energia elétrica necessária)
Montagem: 3 horas, 4 pessoas
Peso: £ 132 (60 kg)
Materiais: bambu, cânhamo, pinos de metal, bio-plástico
Dimensões: Altura 33 pés (10 m) – pegada Ø 13 pés (4,2 m)
Área de superfície: Rede 262 m² (80 sq m.), Coletor de 141 m² (43 sq m.), Canopy 285 m² (87 metros quadrados).
Custo: $ 1.000 (produção na Etiópia)
Manutenção: fácil de ser mantido, limpos e reparados.
Unindo forças
A equipe de Vittori está levantando fundos para apoiar o primeiro teste de campo na Etiópia (Março de 2015). Para construir o primeiro protótipo, é preciso adquirir materiais, empregar pessoas, cobrir as despesas de viagem. Por isso, a contribuição da população (em qualquer parte do planeta) é tão importante. Para saber mais sobre o projeto, clique aqui.
– Nós trabalhamos de forma independente, sem assistência específica de outras organizações, apenas alguma colaboração nas fases de desenvolvimento de projetos específicos. A implantação da torre requer manutenção, limpeza e reparação, mas é uma operação simples,que não precisa de técnicos especializados ou equipamentos elétricos. O mais interessante disso é que há possibilidade de instalá-los em outros contextos geográficos com condições ambientais e meteorológicas semelhantes.
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