Mudança climática é ‘multiplicador de ameaças’ à paz

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Foto de OCHA – Otto Bakano

Com informações da ONU

Com a mudança climática sendo cada vez mais reconhecida como um “multiplicador de ameaças” por cientistas, representantes políticos e sociedade civil em todo o mundo, o Conselho de Segurança das Nações Unidas realizou um debate aberto em 25 de janeiro para discutir seu impacto concreto sobre a paz e a segurança internacionais.

O encontro aconteceu quase dois meses após as 197 partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, UNFCCC, concordarem em uma maneira concreta de implementar o Acordo de Paris de 2015 – que busca manter aquecimento global abaixo de 1,5°C em relação a níveis pré-industriais – e antes da Cúpula do secretário-geral sobre o Clima, convocada para 23 de setembro deste ano.

Risco climático: debater ou não debater?

Se mudança climática é uma questão que deveria ou não ser examinada pelo órgão de paz e segurança da ONU tem sido um assunto controverso. Alguns Estados-membros acreditam que isto tira espaço de outras entidades da ONU, com mandatos específicos para desenvolvimento social e econômico, ou para proteção ambiental.

O primeiro encontro do Conselho de Segurança para examinar os vínculos entre mudança climática e insegurança aconteceu em abril de 2007.

Desde então, o órgão da ONU tem dado cada vez mais passos que reconhecem efetivamente que os dois assuntos são relacionados: em julho de 2011, outro debate aberto sobre a questão foi realizado; em março de 2017, a resolução 2349 foi adotada, destacando a necessidade de responder aos riscos relacionados ao clima para responder ao conflito no Lago Chade; em julho de 2018, um debate sobre “entendimento e resposta a riscos de segurança relacionados ao clima” foi realizado.

Em um sinal da importância da discussão para muitos países, o debate teve a presença de mais de 70 Estados-membros e reúne declarações de dezenas de ministros na câmara do Conselho, incluindo do Kuwait, Bélgica, Indonésia, Alemanha e Polônia.

Cientistas e jovens irão aconselhar o Conselho

Pela primeira vez em sua história, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) foi convidada para informar membros do Conselho sobre assuntos envolvendo clima e condições meteorológicas extremas.

O professor Pavel Kabat, chefe científico da OMM, apresentou claros dados científicos ao debate.

“Mudança climática tem uma infinidade de impactos à segurança – reduzindo os ganhos em nutrição e acesso a alimentos; elevando o risco de incêndios florestais e exacerbando desafios à qualidade do ar; aumentado o potencial para conflitos por água; levando a maior deslocamento interno e migração”, disse. “Isto é cada vez mais visto como uma ameaça de segurança nacional.”

Ele destacou que a OMM está pronta para apoiar a ONU e Estados-membros com “ciência de ponta” e “informação especializada” para que decisões informadas possam ser feitas.

Antes de o plenário ser aberto para membros do Conselho de Segurança, uma representante jovem e pesquisadora sobre segurança ambiental, Lindsay Getschel, foi convidada a discursar.

Ela foi ao encontro com três pedidos ao órgão da ONU: uma resolução reconhecendo oficialmente mudança climática como uma ameaça à paz e à segurança internacional; o segundo, uma avaliação sobre como mudança climática impacta juventudes locais – como por exemplo, através de deslocamento, desemprego, insegurança alimentar e recrutamento em grupos armados; e uma redução da dependência de energia de combustíveis fósseis em missões da ONU pelo mundo e compromisso de que 50% da energia usada sejam de fontes renováveis até 2025, com relatos regulares ao secretário-geral para monitoramento do progresso.

Ela finalizou lembrando aos presentes que muitas pessoas pelo mundo “não têm o luxo de se importar com este assunto” e pediu para líderes mundiais “cumprirem suas palavras”.

Com informações da ONU