Por Andre Carlos Zorzi, Por dentro da África
Após dois anos de espera, a bola volta a rolar na disputa pelo torneio mais importante de futebol do continente: a Copa Africana de Nações, também conhecida por CAN.
A partir do dia 14 de janeiro, o Gabão recebe 16 equipes de todo continente, que serão divididas em quatro grupos. Os dois melhores de cada um avançam às quartas de final, e os vencedores dos confrontos seguem para as semi finais e a final, disputada em 5 de fevereiro. As partidas serão disputadas em quatro cidades-sede: Libreville, Port-Gentil, Franceville e Oyern.
Metade das equipes irá em busca do título inédito, enquanto a outra metade concentra 22 taças ao todo. Confira abaixo os grupos do torneio e os palpites do Por Dentro da África para cada seleção:
*equipes marcadas com asterisco são as favoritas a passar de fase.
Grupo A: Gabão*, Camarões*, Burkina Faso, Guiné-Bissau
Grupo B: Argélia*, Senegal*, Tunísia, Zimbábue
Grupo C: Costa do Marfim*, Marrocos*, República Democrática do Congo, Togo
Grupo D: Egito*, Gana*, Mali, Uganda
Egito
Após ter conquistado o tricampeonato consecutivo nas edições 2006/08/10, os faraós não conseguiram voltar ao torneio desde então, muito por conta da delicada situação política que vive o país, chegando inclusive a paralisar o campeonato local em algumas oportunidades. Porém, assim como Brasil e Alemanha, o time do norte sempre será favorito quando disputar o continental. Irá em busca do 8º título.
Fique de olho – El Hadary, Fathy, Abdallah Said
Gana
A presença dos ganeses entre os semifinalistas vem sendo nas últimas cinco edições da competição. Com diversos jogadores tendo papéis relevantes em grandes ligas, o país vem com ainda mais vontade de levantar o caneco após bater na trave em 2015, perdendo a final nos pênaltis.
Fique de olho – Afful, Badu, André Ayew
Argélia
Um dos times com mais jogadores com papel de destaque em grandes ligas europeias. Na última edição, era apontada como uma das principais favoritas após a grande Copa do Mundo em que bateu de frente com a campeã Alemanha, mas apresentou futebol muito abaixo do esperado.
Nas Eliminatórias para a Rússia-2018, passa por apuros, na lanterna de seu grupo, precisando tirar cinco pontos da Nigéria em quatro rodadas caso queira continuar sonhando.
Fique de olho – M’Bolhi, Mahrez, Slimani
Costa do Marfim
A geração de ouro da equipe só conquistou um título após a aposentadoria do atacante Didier Drogba. Sem a pompa de favorita de outros anos, e desta vez sem poder contar com o astro Yaya Touré, que também se despediu da seleção, não parece improvável que a equipe repita o feito da última edição e se sagre campeã.
Fique de olho – Aurier, Serey Die, Kalou
CORREM POR FORA
Gabão
Em 2015, Aubameyang provou que não consegue resolver sozinho. Apesar de ter um elenco razoável a seu lado, e o bom goleiro Ovono na retaguarda, ainda não parece o momento para os gaboneses levantarem sua primeira taça.
Jogando em casa, porém, não seria surpresa caso chegassem ao menos às semi finais.
Fique de olho – Ovono, Evouna, Aubameyang
Tunísia
Tende a ser o time do Norte com mais dificuldades para avançar de fase em seu grupo com Argélia e Senegal. A vantagem é que fechará a fase de grupos diante do Zibábue, enquanto seus concorrentes fazem um confronto direto – o que pode se tornar desvantagem caso a equipe já chegue eliminada, ou caso os rivais precisem apenas de um empate para avançar.
Da Tunísia veio a maior goleada do processo qualificatório: 8 x 1 sobre o Djibuti.
Fique de olho – Mathlouthi, Abdennour, Khazri
Senegal
Única equipe com 100% de aproveitamento nas Eliminatórias. Ao lado do Mali, é considerada como a mais forte seleção a nunca ter conquistado um título africano.
Fique de olho – Kouyaté, Gueye, Sadio Mané
Camarões
Os torcedores que esperavam por um passeio nas Eliminatórias se frustraram com um futebol pouco empolgante. A camisa pesa, mas já há algum tempo a tradição não tem se refletido em campo. Não seria surpresa se caísse ainda na primeira fase, por exemplo.
Fique de olho – Ondoa, N’Koulou, Moukandjo
POUCO BRILHO
Mali
A geração atual não assusta mais tanto quanto há alguns anos. Se passar de fase no grupo complicado em que foi sorteada, ao lado de Gana, Egito e Uganda, deve ganhar confiança e ter condições de ir longe.
Fique de olho – Sylla, Sambou Yatabaré, Moustapha Yatabaré
Burkina Faso
Boa parte dos envolvidos no vitorioso ciclo da equipe que culminou com a final da CAN em 2013 e a quase ida à Copa do Mundo de 2014 envelheceu, e o time já não demonstra tanta capacidade. Pode ir às quartas de final, mas dificilmente vai além disso.
Fique de olho – Pitroipa, Alain Traoré, Kaboré
Marrocos
Provavelmente a equipe mais fraca da Áfria do Norte. Deve brigar pela segunda colocação de seu grupo com a República Democrática do Congo. Não possui grandes nomes conhecidos no elenco. Na defesa, um caso curioso: Manuel da Costa, jogador nascido na França, com nome português e passagem pelas seleções de base de Portugal.
Fique de olho – Benatia, El-Arabi
República Democrática do Congo
Desta vez, o público brasileiro não irá se deparar com o lendário goleiro Kidiaba, aposentado da seleção após a última CAN. Em seu lugar, joga Matampi. Dificilmente repetirá o feito da última edição do torneio, quando ficou com a medalha de bronze.
Fique de olho – Zakuani, Mpeko, Mbokan
ZEBRAS
Uganda
Longe do torneio desde 1978, vive sua melhor fase em décadas, conquistando inclusive resultados bastante expressivos na briga por uma vaga na próxima Copa do Mundo. Se tivesse caído em um grupo mais acessível, teria boas chances de avançar às quartas de final.
Fique de olho – Walusimbi, Massa e Sserunkuma
Togo
Teve uma das mais emocionantes classificações. Após empatar com a Libéria em casa na 4ª rodada, a Federação trouxe o experiente técnico Claude Le Roy, especialista em CANs (vai para sua 9ª), para os dois jogos restantes. Em sua estreia, na penúltima rodada, a equipe buscou um improvável empate em Monróvia depois de sair perdendo por 2 x 0 para os Liberianos. Na derradeira partida, goleou o Djibuti por 5 x 0 e contou com uma série de improváveis resultados de outras equipes para carimbar sua vaga como o segundo melhor segundo colocado, em outras palavras, o “último da fila” na classificação.
Porém, é bom lembrar: incluindo todos os jogos oficiais disputados pelos togoleses desde outubro de 2014, o time venceu apenas o fraquíssimo Djibuti. Seus dois principais astros, o goleiro Kossi Agassa e o atacante Emannuel Adebayor treinam apenas pela seleção há alguns meses pois estão sem clube.
Fique de olho – Agassa, Atakora, Adebayor
Guiné-Bissau
Única estreante desta edição, garantiu a vaga com antecedência num equilibrado grupo com Quênia, Zâmbia (campeã em 2012) e Congo-Brazzaville (semifinalista em 2015), mesmo tendo enfrentado supostos atrasos nas premiações ao longo da qualificação. Deve ficar pela primeira fase e dificilmente disputará outra edição tão cedo.
Fique de olho – Jonas Mendes, Zezinho, Bocundji Cá
Zimbábue
Ausente há mais de uma década, possui um elenco com poucos nomes conhecidos e dificilmente passará de fase.
Fique de olho – Bhasera, Billiat, Musona
EQUIPES QUE NÃO SE CLASSIFICARAM
A Guiné-Conacri, que chegou às quartas de final na última edição ficou atrás de Zimbábue e Suazilândia em seu grupo. Já a África do Sul, presença constante no torneio, ficou atrás de Camarões e Mauritânia.
A boa geração de Cabo Verde, que apresentou ótimos resultados nos últimos anos, parece ter perdido o gás: deixou a classificação escapar na última rodada. Caso tivesse vencido a eliminada Líbia, em casa, estariam presentes no torneio. Outra equipe que decepcionou foi a Nigéria, no conturbado Grupo G, que acabou prejudicado com a desistência do Chade, o que tirou a possibilidade dos integrantes do grupo de concorrer a uma das vagas de melhor segundo.
DESISTÊNCIAS ENTRE ATLETAS
O fato de ser o único continental realizado a cada dois anos (o restante ocorre a cada quatro), as condições de estrutura e segurança dos países-sede serem consideradas longe do ideal por parte dos clubes europeus, e até mesmo fatores mais complexos, como a forma como se dá a construção da identidade nacional em diversos países e o fato de muitos jogadores de alto nível possuírem apenas cidadania africana, sem ter vínculos fortes com o país de ascendência, faz com que muitos atletas não façam questão de disputar o torneio.
Um dos exemplos mais recentes foi o da seleção de Camarões: nada menos que sete atletas presentes na pré-lista de convocados com 35 nomes se recusaram a participar da equipe num primeiro momento.
Nyom, Amadou, Assembe, Onana e Zambo afirmaram que não gostariam de deixar seus clubes, e possivelmente perder suas posições. Joel Matip, do Liverpool, alegou uma má experiência com a comissão técnica anterior, que dirigiu a equipe na Copa do Mundo do Brasil. Por fim, Poundje, que tem possibilidade de atuar pela França, disse que prefere não vestir a camisa de Camarões em jogos oficiais, o que o impediria de atuar por outras equipes nacionais.