Um jogo pela preservação: Yao Ming denuncia massacre de elefantes e rinocerontes

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Yao Ming em aldeia no Quênia - Kristian SchmidtPor Natalia da Luz, Por dentro da África

(artigo publicado no Portal ahe!, em 2012)

Rio – A bola de basquete sempre foi o seu instrumento de trabalho. Do alto de seus 2,29 m, Yao Ming é um dos atletas mais conhecidos da China. Eleito oito vezes estrela do NBA,o ex-jogador veste agora outra camisa. Em sua primeira cruzada pelo continente africano, a missão dele é denunciar um massacre cruel de animais selvagens em nome da ambição humana

– De um lado, uma enorme pilha de peles; de outro, milhares de presas de marfim ainda sujas porque haviam sido enterradas para fugir da fiscalização. Todas elas são marcadas com o peso e o local. Se isso foi o que foi confiscado, imagina o que não foi? – compartilha com inconformismo em seu blog, criado para falar de sua nova experiência.

Yao Ming diante de uma carcaça de rinoceronte - Kristian SchmidtYao é o nome chinês que tenta amenizar as feridas provocadas, na maioria, pelos próprios conterrâneos que alimentam um mercado macabro de marfim e chifres de rinocerontes, que pode chegar a custar 120 mil dólares no mercado asiático. Os chifres são usados na medicina tradicional chinesa, e sua exploração é sustentada por uma crença de serem afrodisíacos.

Esses animais, à beira da extinção, morrem não por acidente ou doença. A batalha é contra o anseio pelo dinheiro, contra a crueldade. Nos últimos 10 anos, a caça de rinocerontes aumentou assustadoramente.

Só para ter uma ideia deste massacre, no Kruger Park, na África do Sul, entre 1990 e 2005, cerca de 14 rinocerontes foram caçados, segundo dados da administração. Apenas em 2013, 635 já foram mortos no país.

Enquanto caminha pelos parques nacionais do Quênia e da África do Sul, Yao se comove com a realidade e descobre as consequências.

– Estar diante dos rinocerontes e elefantes me deixou muito feliz. Podemos ver a maravilhosa diversidade de animais que habitam em nosso planeta e não podemos permitir que eles desapareçam do nosso mundo.

Comércio de chifres de rinocerontes matou 440 animais em 2011 na África do Sul - Kristian SchmidtEm entrevista exclusiva, Janet Fang, responsável pela ONG WildAid, da China, disse que o principal objetivo do documentário de Yao é retratar uma triste estatística sem precedentes com a demanda pelo marfim e chifres de rinocerontes.

– Yao Ming tem trabalhado com a WildAid desde 2006. Ele tem uma influência muito positiva na China, e por isso nós os escolhemos para ser o protagonista desse importante trabalho. Ele decidiu ir ver de perto essa crise em campo aberto – disse Janet, destacando que a estrela do basquete chamou a atenção de muita gente, inclusive da mídia local e internacional. O número de seguidores do Wild Aid China, por exemplo, aumentou mais de 20% desde que Yao se uniu à causa.

Mercado de marfim

Segundo pesquisa da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, se a caça aos elefantes permanecer, os animais poderão ser extintos até 2020. Um dado assustador e um convite à espécie humana para que participe da luta.

O mercado de marfim ganhou novas proporções quando, a partir de 1993, o governo chinês passou a ignorar uma regra internacional que bania, desde 1989, o mercado internacional de marfim.Depois da China, os Estados Unidos são o segundo grande mercado consumidor de um negócio selvagem.
Yao diante de milhares de presas de marfim apreendidas - Kristian SchmidtNegócio este que continua em alta devido ao consumo de luxo, que ignora as consequências para a natureza e suas espécies. Segundo a organização WildAid, apenas no ano passado, mais de 23 toneladas de marfim ilegal foram encontradas, número recorde desde 1990.

A indústria da morte

Eles se organizam em cartéis, com estrutura que envolve carros, armas, tranquilizantes, helicópteros. Tudo isso para servir a uma indústria que ignora a vida. Os chifres de rinocerontes são arrancados brutalmente e os animais deixados em meio à savana em um ritual macabro e impune.

– As leis precisam ser mais fortes, e um grande movimento precisa ser travado para reduzir drasticamente esse mercado. Eu e outros conterrâneos asiáticos devemos trabalhar com as organizações para tentar parar esses atos – contou em seu blog.

Em busca de uma nova consciência

– Para a maioria dos pais, a nossa maior aspiração é dar a melhor educação possível para os nossos filhos. Acho que se as pessoas se dessem conta de que, comprando marfim ilegal compromete-se a educação na África, eles não comprariam – conta o ex-jogador do Rockets Houston (NBA) sobre a falta que um elefante faz na comunidade de Samburu (Quênia), que convive com os animais, imprescindíveis para a vida e o turismo local.

Um elefante caçado na região significa 200 crianças sem educação. Defender a causa, tendo Yao no time, é de grande valor. Uma propaganda veiculada na mídia chinesa usa o ex-atleta e astro do basquete e Ding Junhui, jogador de sinuca, pedindo para as pessoas não comprarem objetos provenientes desses animais.

Janet acredita que com a participação de Yao, uma nova consciência vai emergir, especialmente com o documentário. Após finalizado, o material será exibido em canais de TV internacionais.
 Yao Ming com Kinango, um elefante de duas semanas, órfão da indústria - Kristian Schmidt

– Nós estamos confiantes sobre essa campanha, sobre o movimento que ela pode gerar e fazer com o que consumidores chineses digam não ao marfim e aos chifres de rinocerontes, porque quando você compra esses produtos, você também mata – desabafou.
Depois da temporada de 12 dias no Quênia e na África do Sul visitando parques nacionais,cemitérios de animais e comunidades, Yao deixa o continente com uma vitória.

– Eu levarei uma incrível lembrança positiva da beleza, da diversidade, mas também uma tristeza profunda em relação aos atos de algumas das 7 bilhões de pessoas em todo o mundo que massacram o futuro dessas duas espécies.

 
Por dentro da África