Por Andre Carlos Zorzi, Por dentro da África
Josia Thugwane foi o primeiro negro a conquistar uma medalha de ouro pela África do Sul, apenas dois anos após o Apartheid oficialmente chegar ao fim. Josia trabalhava em uma mina de carvão, ganhando menos de U$350 por mês, e treinava correndo pela região de Mzinoni, na província de Mpumalanga, onde vivia com outros nove familiares.
Em fevereiro daquele ano, o maratonista sofreu um assalto quando estava em seu carro. Ele conta que tentou espantar os ladrões cantando os pneus, e justamente nesse momento ouviu um tiro. Não sentiu dor, mas viu muito sangue por todos os lados, originado pelo projétil que atingiu seu queixo. Ao pular do carro em movimento, também sofreu uma lesão nas costas. Tudo isso a poucos meses do grande momento de sua vida, fazendo com que muitos acreditassem que ele não fosse capaz de retornar aos treinos e disputar a Olimpíada em tempo.
No dia da maratona de Atlanta-1996, lá estava Josia, que se manteve no pelotão de frente durante praticamente todo o percurso. Quase na metade da prova, um momento histórico era registrado: Thugwane ocupava uma das três primeiras posições, ao lado de Lawrence Peu e Ghert Thys, outros dois sul-africanos.
Já no último quarto da prova, apenas dois outros competidores mostravam-se fortes concorrentes a tirar a medalha do sul-africano: o queniano Erick Wainaina e o sul-coreano Lee Bong-Ju, a quem Josia temia por já ter enfrentado tempos antes, e considerava um atleta bastante determinado e forte.
Quando os três estavam próximos à entrada do estádio, para a reta final da maratona, Thugwane conseguiu disparar na liderança, com uma ligeira vantagem. O que se seguiu foi a prova de maratona mais disputada ocorrida na história das Olimpíadas.
Thugwane foi o primeiro a cruzar a linha de chegada, seguido de perto por Bong-Ju, que levou a prata, apenas três segundos depois, e Wainaina, que conquistou o bronze oito segundos depois.
O maratonista dedicou sua conquista ao povo sul-africano e ao presidente Nelson Mandela. Continuou morando na África do Sul, e, duas décadas depois, considera que seu feito é pouco lembrado e subestimado em seu país.