André Carlos Zorzi, Por dentro da África
(estudante de jornalismo da PUC-SP)
São Paulo – Em uma noite histórica, a emoção que faltou ao longo dos 120 minutos de bola rolando sobrou nas cobranças de pênaltis realizada para definir a Costa do Marfim como a grande campeã africana em 2015.
O Jogo
Durante o primeiro tempo, os marfinenses dominaram as oportunidades de gol, apesar de Gana ter tido a melhor chance para abrir o placar, vinda dos pés de Atsu, aos 25’. Os ganeses passaram a dominar a partida nos 30 minutos seguintes à volta do intervalo, para que então a Costa do Marfim crescesse novamente após o período. Os 90 minutos não foram suficientes, e a partida prosseguiu para a prorrogação, onde os jogadores, exaustos, mantiveram a baixa quantidade de lances criados.
Pênaltis
Em uma das coincidências que só o futebol pode proporcionar, o 0 x 0 repetiu o placar da final entre as duas equipes, realizada em 1992, conhecida justamente por ter sido a primeira competição envolvendo seleções na qual as cobranças alternadas avançaram a ponto de que todos os jogadores em campo realizassem suas tentativas, incluindo os goleiros.
Após as quatro primeiras cobranças, tudo indicava para um título de Gana, quando Wakaso e Jordan Ayew haviam convertido suas penalidades, ao passo que Bony e Tallo desperdiçaram para a Costa do Marfim.
Nas quatro cobranças seguintes, Barry defendeu a cobrança de Atsu, e Acheampong cobrou para fora, fazendo com que os gols feitos por Aurier e Doumbia empatassem o placar.
A igualdade permaneceu conforme todos os outros atletas de linha converteram suas penalidades, até que chegasse a vez de Razak, goleiro ganês, fazer sua cobrança: rasteira, entre o centro e o canto esquerdo de Barry, que espalmou a bola.
Na sequência, foi o próprio arqueiro Barry que tomou distância e colocou a bola no fundo das redes de Razak, sacramentando o bicampeonato dos Elefantes.
Para melhorar ainda mais a história, este foi o primeiro jogo de Barry como titular nesta edição da competição. O experiente goleiro, que já defendeu a camisa marfinense em outras competições, como a Copa do Mundo e a CAN, só assumiu a titularidade na grande decisão graças a uma lesão sentida por Gbohouo durante um treinamento às vésperas da partida.
Destaques da Competição:
É necessário lembrar e parabenizar Gana por uma campanha na qual apresentou um bom futebol, evoluindo gradualmente ao decorrer da competição e novamente batendo na trave na hora da decisão, fazendo com que uma das grandes gerações da história do país permaneça sem ganhar um título. De qualquer forma, devem voltar fortes em 2017.
A superação da República Democrática do Congo veio desde as Eliminatórias, quando foi a última a classificar-se para o torneio, abocanhando a única vaga de melhor 3º colocado entre todos os grupos, graças a uma histórica vitória por 4 x 3 conquistada sobre a Costa do Marfim fora de casa. Na Copa, avançaram às quartas de final com a pior campanha entre os classificados, apenas três empates e dois gols marcados. Enfrentando o xará Congo, estava perdendo por 2 x 0 quando virou a partida marcando quatro gols na última meia hora. Encerrou sua participação com uma honrosa medalha de bronze, no último jogo do lendário goleiro Kidiaba trajando a camisa da seleção nacional.
O Congo-Brazzaville não vencia uma partida válida pela competição há mais de 40 anos, quando enfim superou os favoritos Gabão e Burkina Faso nesta edição. Avançar às quartas com a melhor campanha da 1ª Fase retomou o orgulho do país por sua seleção, que já fora campeã no longínquo 1972. Trabalho creditado a um time fraco no papel, mas esforçado em campo, e ao técnico francês Claude Leroy, que já treinou equipes em oito edições da CAN, avançando de fase em sete delas.
Após anos realizando campanhas decepcionantes, a África do Sul apresentou um futebol acima das expectativas, apesar de ter sido vice-lanterna do torneio. Enfrentando três difíceis adversários no “Grupo da Morte”, saiu à frente no placar em todos os seus jogos, e sofreu todos os seus gols depois dos 15’ do segundo tempo. Se souber aprimorar a consistência de jogo e o condicionamento físico, é uma equipe com capacidade para dar bastante trabalho na próxima edição da CAN e até mesmo almejar uma vaga na Copa do Mundo na Rússia.
Decepções da Competição:
Apesar de se tratar de um fator extracampo, cabe citar o transtorno ocasionado pela torcida da Guiné Equatorial, na partida disputada em Malabo, em que o time da casa perdeu para os ganeses por 3 x 0. Centenas de objetos arremessados ao campo e aos torcedores adversários, ocasionando a paralisação da partida por mais de meia hora, e gerando até mesmo confrontos entre os adeptos e a polícia. O público presente na disputa de 3º lugar, realizada na mesma cidade, foi bastante baixo, provavelmente por conta do receio da população em voltar ao estádio apenas dois dias após o ocorrido.
Ainda fora dos gramados, um sorteio realizado para definir quem avançaria às quartas de final entre Mali e Guiné-Conacri escancarou a necessidade da CAF elaborar mais critérios de desempate que não se resumam apenas a pontos, gols e confrontos diretos, a fim de evitar que método tão cruel se repita.
Dentro de campo, a seleção da Argélia era a mais cotada a faturar a taça, mas após apresentar um futebol pouco convincente nas duas primeiras partidas e apenas regular no último jogo da fase de grupos, caiu logo na fase seguinte, frente aos marfinenses. Não chega a ser um fiasco, porém, levando em conta os bons nomes do elenco e a recente campanha histórica na Copa do Mundo, a campanha fica abaixo das expectativas.
Com boa parte dos jogadores participantes da campanha na qual foi finalista na última edição do torneio, a Burkina Faso não apenas foi eliminada na primeira fase no grupo mais fraco do torneio como apresentou um futebol muito abaixo das expectativas, deixando a equipe na lanterna da competição.
Mesmo não sendo uma das principais candidatas ao título, esperava-se que a seleção de Camarões ao menos passasse de fase, o que não aconteceu, já que a equipe não venceu sequer uma partida e ainda ficou na lanterna de seu grupo.
Confira abaixo como foram as penalidades da grande decisão:
Wakaso (Gana) – Converteu – 1 x 0
Bony (C. Marfim) – Travessão – 1 x 0
J. Ayew (Gana) – Converteu – 2 x 0
Tallo (C. Marfim) – Para Fora – 2 x 0
Atsu (Gana) – Goleiro Pegou – 2 x 0
Aurier (C. Marfim) – Converteu – 2 x 1
Acheampong (Gana) – Para Fora – 2 x 1
Doumbia (C. Marfim) – Converteu – 2 x 2
A. Ayew (Gana) – Converteu – 3 x 2
Y. Touré (C. Marfim) – Converteu – 3 x 3
J. Mensah (Gana) – Converteu – 4 x 3
Kalou (C. Marfim) – Converteu – 4 x 4
Badu (Gana) – Converteu – 5 x 4
K. Touré (C. Marfim) – Converteu – 5 x 5
Afful (Gana) – Converteu – 6 x 5
Kanon (C. Marfim) – Converteu – 6 x 6
Baba (Gana) – Converteu – 7 x 6
Bailly (C. Marfim) – Converteu – 7 x 7
Boye (Gana) – Converteu – 8 x 7
Serey Die (C. Marfim) – Converteu – 8 x 8
Razak (G) (Gana) – Goleiro Pegou – 8 x 8
Barry (G) (C. Marfim) – Converteu – 8 x 9
Confira o guia sobre a competição produzido pelo colaborador André Carlos Zorzi – Guia da CAN 2015 – Portal Africano de Futebol
Relembre o caminho dos campeões:
Eliminatórias:
Costa do Marfim 2 x 1 Serra Leoa
Camarões 4 x 1 Costa do Marfim
R. D. do Congo 1 x 2 Costa do Marfim
Costa do Marfim 3 x 4 R. D. do Congo
Serra Leoa 1 x 5 Costa do Marfim
Costa do Marfim 0 x 0 Camarões
Competição:
Costa do Marfim 1 x 1 Guiné-Conacri
Costa do Marfim 1 x 1 Mali
Costa do Marfim 1 x 0 Camarões
Costa do Marfim 3 x 1 Argélia
Costa do Marfim 3 x 1 R. D. do Congo
Costa do Marfim (9) 0 x 0 (8) Gana
Artilheiros da Competição:
3 Gols – Bifouma (Congo-Brazzaville), Mbokani (R. D. do Congo), Javier Balboa (G. Equatorial), André Ayew (Gana), Akaichi (Tunísia)
Melhor jogador do torneio (oficial): Christian Atsu
Relembre o torneio
Gana x Costa do Marfim: Duelo de gigantes na grande final
Definidas as semifinais da Copa Africana de Nações