Camarões retorna à Copa das Confederações 14 anos após emocionante final

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Os capitães Rigobert Song e Patrice Evra exibem a taça do torneio
Os capitães Rigobert Song e Patrice Evra exibem a taça do torneio

Por André Carlos Zorzi, Por dentro da África

A seleção de Camarões será a representante africana na Copa das Confederações da Rússia este ano, vaga garantida quando conquistou a Copa Africana de Nações no último mês de janeiro.

A seleção camaronesa pegará o Chile em sua estreia na competição, no próximo dia 18 de junho. Na sequência, enfrentará Austrália, dia 22, e a Alemanha, que não enviará a equipe principal para o torneio, dia 25.

Apenas dois atletas que atuam em clubes africanos disputarão o torneio: o camaronês Joseph Ngwem, do Progresso da Sambizanga, de Angola, e o neozelandês Michael Boxall, do Supersport United, da África do Sul.

A Copa das Confederações reúne os campões dos torneios continentais de cada confederação, além do país-sede e do atual campeão da Copa do Mundo.

RETORNO

Confederacoes Camaroes Juntos = Homenagem a Marc-Vivien Foé na cerimônia de encerramento da competição
Homenagem a Marc-Vivien Foé na cerimônia de encerramento da competição

A última participação da equipe no torneio ocorreu em 2003, na França, quando chegou à final e perdeu para a França. Trata-se da melhor campanha de uma seleção africana em competições profissionais oficiais da FIFA. Antes, havia disputado em 2001.

Além da medalha de prata, a campanha de 14 anos atrás ficou marcada pela morte do meia Marc-Vivien Foé, ocorrida em campo, devido a um infarto.

O Por Dentro da África preparou uma retrospectiva daquela campanha enquanto nos preparamos para disputa de 2017. Confira abaixo!

CAMARÕES

A vaga para a Copa das Confederações de 2003 veio ainda no ano anterior, com a conquista da CAN, superando grandes equipes como o Egito, o Mali (país-sede) e o Senegal, nos pênaltis, na grande final.

Apenas o goleiro Kwekeu e o atacante Adjam, ambos reservas, atuavam no futebol camaronês. O técnico alemão Winfried Schäfer convocou principalmente atletas da liga francesa, 11 ao todo, com os demais espalhados pelo resto da Europa.

Um dos mais experientes do elenco era o capitão Rigobert Song, então com 26 anos de idade, no Lens (França). Duas promessas chamavam atenção: o goleiro Kameni, assumindo a titularidade com apenas 19 anos, o jogador mais jovem de todo o torneio, e o atacante Samuel Eto’o, então no Mallorca (Espanha), com 22.

Outros nomes conhecidos também estavam presentes: Tchato, Atouba, M’Bami, Geremi, Emana, Djemba-Djemba e Foé.

Sorteada em um grupo difícil, ao lado de Brasil, Turquia e Estados Unidos, as expectativas não eram tão grandes, principalmente por conta da recente participação na edição de 2001 do torneio, quando acabou eliminada na 1ª fase após enfrentar Japão, Canadá e Brasil.

A equipe se classificou com antecedência e conseguiu chegar à final graças a vitórias pelo placar mínimo, e uma sólida defesa, que fez com que não sofressem nenhum gol durante o tempo regulamentar ao longo do torneio.

CAMARÕES 1 X 0 BRASIL

Equipe foi capaz de parar Ronaldinho Gaúcho, à época atleta do PSG, em negociação com o Barcelona
Equipe foi capaz de parar Ronaldinho Gaúcho, à época atleta do PSG, em negociação com o Barcelona

Logo na primeira fase, os camaroneses tiveram pela frente os campeões mundiais brasileiros. Mesmo sem alguns dos principais nomes do título, ocorrido no ano anterior, como Ronaldo, Rivaldo e Marcos, a equipe brasileira trazia bastante qualidade – o lance do gol, originado aos 38’ do segundo tempo, foi um exemplo disso.

Após reposição de bola do goleiro Dida, ela viajou pelo alto até o meio-campo, quando um camaronês a cabeceou para a frente. Os zagueiros Lúcio e Juan buscaram fazer a cobertura. Eto’o, em meio aos dois, conseguiu chutar longe da área e encobrir o arqueiro. 1 x 0.

“É uma vitória que nunca vamos esquecer. Nós éramos uma família, e queríamos permanecer unidos, e vencer unidos. Nós sabíamos que não tínhamos grandes talentos individuais, ou jogadores conhecidos a nível mundial. Mas sabíamos que se permanecessemos juntos e trabalhassemos duro, poderíamos superar qualquer um”, relembrou o goleiro Kameni anos depois, em entrevista ao canal da FIFA.

ESCALAÇÃO:

Kameni, Tchato, Perrier Doumbe, Song, M’Bami, Geremi, Eto’o (N’Diefi, aos 95’), Mettomo, Foé (Atouba, aos 64’), Idrissou (Job, aos 67’) e Djemba Djemba.

CAMARÕES 1 X 0 TURQUIA

A equipe não era a primeira opção da FIFA, que esperava contar com os vice-campeões da Copa do Mundo ou da Eurocopa (uma vez que Brasil e França, os campeões, já estavam garantidos) na Copa das Confederações.

Com as negativas de Alemanha e Itália, a entidade convidou a Espanha, melhor equipe do Ranking da FIFA ainda não-classificada ao torneio.

Com outra negativa, a vaga foi cedida aos turcos, que viviam seu auge àquele momento: no ano anterior, haviam chegado às semi finais e levado a medalha de bronze na Copa do Mundo.

Aos 11’ de jogo, após cruzamento pela esquerda, Eto’o cabeceou a bola com o goleiro já vencido, mas ela passou raspando a trave. Já próximo ao final da etapa inicial, o capitão Rigobert Song chutou a perna de Basturk em disputa de bola, num lance polêmico que poderia ter gerado a expulsão. O árbitro, porém, advertiu-o somente com o cartão amarelo.

Logo na volta do intervalo, a Turquia conseguiu três ótimas oportunidades na cara do gol em menos de 1’. Pouco depois, Sanli conseguiu encobrir o goleiro, mas Mettomo salvou a bola em cima da linha. Aos 26’, o turco acertaria em cheio a cabeça do juiz em uma tentativa de cruzamento, num lance curioso.

Já nos acréscimos da partida, Cetin derrubou o camaronês Job, que havia entrado no lugar de Idrissou aos 11’ da etapa final. O juiz deu pênalti.

Geremi converteu, e, com a vitória brasileira no outro jogo da rodada, os camaroneses se classificaram com antecedência à fase seguinte.

ESCALAÇÃO:

Kameni, Tchato (Mezague, aos 78’), Doumbé, Song, M’Bami, Geremi, Eto’o, Mettomo, Foé, Idrissou (Job, aos 56’), Djemba-Djemba (Atouba, aos 70’)

CAMARÕES 0 X 0 ESTADOS UNIDOS

Com a classificação garantida, os camaroneses se deram ao luxo de mandar um time com nove reservas a campo – apenas Mettomo e Idrissou já haviam sido titulares no torneio. Eto’o, M’Bami e Geremi entraram nos últimos 15 minutos para tentar melhorar o jogo, mas o placar não se alterou.

ESCALAÇÃO:

Kwekeu, Atouba, Njanka, Emana, Mettomo (c), Epalle, Bahoken (Geremi, aos 83’), Mezague (M’Bami, aos 75’), Idrissou, Falemi, Job (Eto’o, aos 75’)

CLASSIFICAÇÃO – 1ª FASE

GRUPO A

7 pontos – Camarões

4 pontos – Turquia

4 pontos – Brasil

1 ponto – Estados Unidos

GRUPO B

9 pontos – França

6 pontos – Colômbia

3 pontos – Japão

0 ponto – Nova Zelândia

SEMI FINAL

CAMARÕES 1 X 0 COLÔMBIA

 Lance do jogo entre Camarões x Colômbia, válido pelas semi finais
Lance do jogo entre Camarões x Colômbia, válido pelas semi finais

A seleção camaronesa saiu à frente logo aos 9’ de jogo. Geremi chegou pelo lado direito do ataque. Sem conseguir cruzar por conta da marcação, retornou a bola para Djemba-Djemba, que fez lançamento longo pelo alto.

O goleiro acompanhou a bola, que foi para a cabeça de Idrissou, que retornou-a para a entrada da pequena área. Com o goleiro batido, Ndiefi apenas completou para as redes, abrindo o placar. 1 x 0.

Aos 24’ do segundo tempo, Tchato foi expulso, deixando os camaroneses com mais dificuldades para conter os rivais. Mesmo assim, o placar se manteve até o fim da partida.

Por volta dos 30’, veio o momento que tornaria a partida histórica por um motivo além da vaga na grande final. Marc-Vivien Foé desabou no chão dentro do círculo de meio-campo. A bola, que estava nos pés de Geremi, pelo lado direito, foi isolada para a lateral para que o atendimento médico pudesse ser feito.

O atleta foi atendido e substituído por Mezague. O jogo prosseguiu, uma vez que ainda não se tinha a completa noção do que havia ocorrido a Foé, um infarto fulminante que pôs fim à sua vida aos 28 anos de idade, em 26 de junho de 2003.

ESCALAÇÃO:

Kameni, Tchato, Song (c), Njanka, M’Bami, Geremi, Ndiefi (Atouba, aos 74’) Mettomo, Foé (Mezague, aos 75’), Idrissou (Falemi, aos 90’), Djemba-Djemba

CAMARÕES 0 X 1 FRANÇA

França e Camarões prestam minuto de silêncio a Marc-Vivien Foé no dia da final
França e Camarões prestam minuto de silêncio a Marc-Vivien Foé no dia da final

A realização da partida foi colocada em dúvida por conta da recente tragédia. Porém, a delegação camaronesa, o Ministro dos Esportes do país e membros da família Foé concordaram que o jogo fosse realizado como forma de homenagem ao atleta.

Homenagens marcaram o pré-jogo e também o pós-jogo. Em campo, o que se viu foi um jogo com bastante fair play, com o tempo regulamentar findado em 0 x 0. Na prorrogação, Thierry Henry fez o gol de ouro após receber passe de Thuram, que havia entrado no decorrer da partida e garantiu o título aos franceses.

Àquele momento o resultado parecia ser o menos importante. Os franceses vibraram de forma moderada e os camaroneses receberam as medalhas de prata de forma honrosa em um momento marcado por novas homenagens a Foé. Os capitães das equipes fizeram questão de levantar a taça juntos, simbolizando o momento.

ESCALAÇÃO

Kameni, Perrier Doumbé, Song (c), Atouba, M’Bami, Geremi, Ndiefi (Eto’o, aos 67’) Mettomo, Mezague (Emana, aos 91’), Idrissou, Djemba-Djemba

SELEÇÃO DO TORNEIO

Os camaroneses ainda tiveram jogadores escolhidos para todos os setores do campo na seleção de melhores do torneio organizada pela FIFA, com Kameni (goleiro), Rigobert Song (defesa), Marc-Vivien Foé (meio-campo) e Samuel Eto’o (ataque). Atouba e M’Bami também fizeram parte da lista de destaques para um hipotético “banco de reservas”.

Marc-Vivien Foé também foi escolhido postumamente como Bola de Bronze, ou seja, o terceiro melhor jogador da competição, atrás apenas de Henry (França) e Sanli (Turquia).