África nas Olimpíadas: Maria Lurdes Mutola – O poeta, a promessa e a corrida

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Motola em prova na Rússia – Foto Olympic

Por André Carlos Zorzi, Por dentro da África

Filha de pai operário e mãe doméstica, foi criada em uma casa humilde, feita de madeira e zinco, no bairro do Chamanuclo, nos arredores de onde hoje é a cidade de Maputo, sendo a mais nova de dez irmãos.

Quando jovem, adorava jogar futebol, e devido à sua grande qualidade, chegou a inscrever-se em um torneio masculino, pela equipe dos Águias d’Ouro, o que causou muitas polêmicas e discussões.

Em uma de suas partidas, foi vista por José Craveirinha, um dos poetas mais reconhecidos e premiados da África, que enxergou nela grande potencial esportivo, e a apresentou para seu filho, então treinador de atletismo do Clube Desportivo de Maputo.

Por algum tempo, Maria tentou conciliar os dois esportes, mas, por orientação do técnico, acabou seguindo somente pelo caminho das corridas, deixando para trás sua grande paixão.

Não demorou muito para que, com apenas 15 anos de idade, conseguisse se classificar para disputar seus primeiros Jogos Olímpicos, na Coréia do Sul-1988. No mesmo ano, recebeu a oportunidade de integrar o departamento de atletismo do Benfica, em Portugal.

Foto – Olympic

Porém, as autoridades moçambicanas não liberaram a permissão para tal, e ela não pôde aproveitar a chance. Algum tempo depois, conquistou uma bolsa de estudos em Oregon, nos Estados Unidos, para onde finalmente pôde partir.

Sabendo das oportunidades que sempre costumam surgir no ambiente esportivo de alto nível, seu pai a fez prometer que nunca aceitasse mudar de nacionalidade ao longo de sua carreira esportiva. Para ele, o povo moçambicano era humilde, e havia batalhado demais pela liberdade para que um de seus filhos se “vendesse” a outra nação.

Propostas acabaram vindo, mas ela cumpriu a promessa, e disputou nada menos que seis edições dos jogos Olímpicos representando o país africano: 1988, 1992, 1996, 2000, 2004 e 2008.

Em Atlanta-1996, tornou-se a primeira, e até hoje única, medalhista olímpica de Moçambique, com o bronze nos 800m livres. Seu maior feito viria quatro anos depois, em Sidney, quando, na mesma prova, conquistaria a tão desejada medalha de ouro, feito que a eternizou na história do país, e também lhe rendeu homenagens em nomes de ruas e escolas de sua terra natal.

Aos 37 anos, encerrou sua carreira nas pistas, e voltou ao continente onde nasceu para morar na África do Sul. Lá, foi chamada para jogar torneios de futebol pela pequena equipe do Luso África, podendo assim dar continuidade ao sonho interrompido na juventude.