Por André Carlos Zorzi, Por dentro da África
Ao lado de dois atletas trajando uniformes profissionais, Eric Moussambani, da Guiné Equatorial, preparava-se para pular na água trajando uma sunga simples azul, com um cordão branco pendurado. Antes de ser dado o início da prova, os atletas de Tadjiquistão e Nigéria pularam na piscina, queimando a largada. Eric era o único remanescente, e nos dois próximos minutos teria atenção exclusiva no mundo dos esportes aquáticos.
Para entender como havia chegado ali, é necessário voltar alguns meses no tempo, antes das Olimpíadas de Sidney de 2000. Eric estava ouvindo rádio na cidade de Malabo, onde vivia em seu país natal, quando se interessou por um anúncio: O Comitê Olímpico da Guiné Equatorial estava procurando nadadores dispostos a participar dos próximos Jogos Olímpicos.
À época, a Federação Internacional de Natação estava distribuindo vagas para países com pouca tradição e estrutura no esporte, visando incentivar sua prática, e uma delas sobrou justamente para a Guiné Equatorial.
Moussambani compareceu ao teste, e surpreendeu-se quando percebeu que foi o único candidato a se apresentar. Como não havia sequer uma piscina de medidas oficiais no país, foi aprovado dentro de uma de 12m, localizada nas dependências de um hotel.
A partir daí, o nadador passou a treinar em um rio, e dedicou-se a prestar atenção em nadadores estadunidenses profissionais durante os treinos às vésperas da competição. No momento em que se jogou na água, todos estavam curiosos para ver como o simpático competidor africano se sairia.
Desengonçado, conseguiu completar a primeira metade da prova em 40s97. Para se ter noção, o recorde mundial daquele trecho, à época, era de 22s83. Com a virada para a última metade da prova, Moussambani acabou perdendo um pouco do senso de direção, aproximando-se ora à divisão de raia à sua esquerda, ora à sua direita.
No último quarto de prova, o nadador sentiu o cansaço e perdeu o fôlego, reduzindo bastante o ritmo. Entusiasmados pela demonstração de esportividade de Eric, os torcedores começaram a aplaudí-lo e incentivá-lo a terminar a prova, fato que foi decisivo para que conseguisse finalizar a prova em históricos 1m52s72, uma eternidade para a prova, cujo vencedor àquele ano conseguiu bater em um tempo inferior a 48s.
Mesmo sem conquistar uma medalha, Moussambani conseguiu escrever seu nome na história dos Jogos Olímpicos, e é até hoje lembrado como um exemplo de superação e de orgulho para seu país.
Acompanhe o especial do Por dentro da África sobre a África nas Olimpíadas