A longa e dramática crise na República Democrática do Congo

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Monusco – As forças de manutenção de paz da Monusco mantêm as suas posições em apoio às forças armadas da RD Congo para repelir o M23 e proteger os civis na parte oriental do país

Com informações da ONU News

Desde janeiro, a violência na República Democrática do Congo tem atingido a região leste, rica em recursos naturais. Diversos líderes, incluindo o secretário-geral da ONU, mobilizam esforços para pressionar todas as partes envolvidas a cessar os confrontos entre as forças governamentais e o grupo armado M23, apoiado por Ruanda.

As Nações Unidas, por meio de suas agências e forças de paz, enfrentam um cenário de extrema violência, com um número elevado de mortos e feridos devido aos combates no leste do país. Além disso, a varíola M se espalha de forma alarmante, e a estação chuvosa aumenta os temores sobre a propagação de doenças endêmicas.

Ação das tropas de paz e das agências humanitárias

As operações humanitárias da ONU na RD Congo datam de 1960, logo após a independência do país da Bélgica e sua adesão às Nações Unidas. Atualmente, diversas agências da ONU atuam no território, oferecendo apoio em áreas como educação, vacinação, distribuição de alimentos e abrigo para deslocados pela violência.

A década de 2000 e o surgimento do M23 marcaram alguns dos períodos mais intensos de conflito no país. Apesar disso, a assistência humanitária prossegue. No mês passado, a ONU retirou funcionários não essenciais de Kivu do Norte após o assassinato do governador militar da província. O Escritório da ONU de Assistência Humanitária (OCHA) mantém equipes ativamente respondendo às crescentes necessidades no terreno.

Antes da escalada recente dos combates, a ONU já havia alertado que 21 milhões de pessoas precisavam de assistência humanitária. O avanço do M23 tem forçado centenas de milhares de pessoas a fugir, especialmente das cidades de Goma, Sake e da província de Kivu do Sul. Das cerca de 7 milhões de pessoas deslocadas internamente, 700 mil estão em movimento entre as províncias de Kivu do Norte e do Sul.

Alimentação e abrigo

A insegurança alimentar, as precárias condições de saúde e a falta de abrigo agravam a crise humanitária. Atualmente, 2,7 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar severa nas regiões orientais de Ituri e Kivu. O OCHA, em parceria com o Programa Mundial de Alimentos (WFP), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), coordena esforços para fornecer suprimentos essenciais.

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) auxilia na proteção dos deslocados, enquanto o Escritório de Direitos Humanos direciona vítimas para organizações parceiras. Já a Organização Internacional para Migrações (OIM) apoia comunidades deslocadas, fornecendo abrigos de emergência, água potável, saneamento e assistência na gestão de acampamentos.

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Saúde pública em risco

A OMS classifica os deslocamentos em massa como um “pesadelo” para a saúde pública, com surtos de doenças como cólera e varíola M. Equipes médicas especializadas prestam atendimento em meio à sobrecarga hospitalar, e milhares de doses de vacinas estão prontas para distribuição.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) fornece kits médicos de emergência para hospitais em Goma, destinados a mais de 50 mil pessoas afetadas pela violência. A crise também impacta severamente a saúde materna, com três mulheres morrendo por hora devido a complicações na gravidez e no parto, além de relatos de sequestros, estupros e exploração sexual como táticas de guerra.

Diante da insegurança, o Programa de População da ONU (UNFPA) suspendeu viagens para campos de deslocados e implementou clínicas móveis para atender emergências. Junto a outras entidades da ONU, solicita apoio urgente para operações de emergência no país.

Missão de paz e cooperação com autoridades congolesas

A Missão da ONU na RD Congo (MONUSCO) atua sob um mandato do Conselho de Segurança desde 2010 para auxiliar o governo congolês na proteção de civis e na estabilização do país. Embora as operações de paz tenham um papel distinto das agências humanitárias, ambas se complementam na resposta à crise.

A ONU planejava reduzir sua presença na RD Congo, com a retirada de 11,5 mil boinas-azuis. No entanto, em dezembro, o Conselho de Segurança renovou o mandato da MONUSCO a pedido do governo congolês. Durante a última reunião de emergência, a chefe da missão, Bintou Keita, destacou os desafios enfrentados em meio ao conflito.

Na última semana, combatentes do M23 mataram quase 20 integrantes das forças de paz da ONU e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Ambas as forças atuam em apoio ao exército congolês na defesa contra o M23 e na proteção de civis.

Origens da crise e exploração de recursos

Os conflitos no leste da RD Congo remontam ao genocídio de 1994 contra os tutsis em Ruanda. A exploração de recursos minerais tem sido um fator-chave na intensificação da violência, com metais preciosos como ouro, diamantes e minerais raros financiando grupos armados.

Minerais como coltan, estanho, tântalo e tungstênio são extraídos em áreas de conflito e comercializados para sustentar milícias, segundo relatórios do Conselho de Segurança da ONU. A instabilidade na região continua a ser impulsionada por interesses econômicos e disputas territoriais.

A ONU segue atuando para mitigar os impactos da violência, mas a crise humanitária e a instabilidade persistem como desafios críticos para a RD Congo e a comunidade internacional.