Fernando Guelengue, Por dentro da África
Luanda – O jornalista e ex-editor da Rádio Despertar, Elias Xavier Fernandes, foi encontrado sem vida no último domingo, 27. Segundo a esposa de Elias, Maria Adão Viegas, a depressão teria sido a principal causa do suicídio do angolano de 34 anos. O enterro será nesta quinta-feira, no cemitério de Viana.
Ao Por dentro da África, Maria disse que, nos últimos meses, Elias estava mais afastado da família e dos amigos. “A distância se intensificou após o término do tratamento de malária quando ele ficou inconsciente durante dois dias no hospital”, explica a viúva que encontrou o marido com fios amarrados ao pescoço.
A perda de memória era uma situação preocupante para Maria, que precisava relembrar de coisas triviais do dia-a-dia ao marido. “Foi delicado, mas, aos poucos, ele deu sinal de recuperação. Era essa a imagem que eu tinha dele antes desta notícia tão triste”, lamenta a companheira com o filho do casal de 3 anos no colo.
No jornalismo, Elias se destacou como moderador, editor e realizador do programas de análise dos fatos da semana na Rádio Despertar, de onde ele foi demitido há dois anos.
Em entrevista na época, o jornalista teria reconhecido que a sua expulsão devia-se ao fato de ele ter feito uma denúncia de censura da emissora. Na ocasião, ele havia entrevistado os jornalistas e ativistas Makuta Nkondo e Domingos da Cruz, críticos do partido (UNITA) que gere a emissora.
Também formado em direito pela Universidade Católica de Angola, o último posto de trabalho do jornalista foi na direção administrativa de uma empresa multinacional que operava no ramo de mineração. Nos últimos meses, segundo Maria, a empresa havia suspendido os trabalhadores pedindo que aguardassem em casa devido a um período de crise.
“Praticamente, ele estava desempregado porque até hoje a empresa não se manifestou. E isso já tem seis meses. Ele tinha muitos planos e projetos, por isso não compreendo essa atitude de ter tirado a própria vida. No sábado, eu perguntei para que serviam os fios (que ele usou para se asfixiar). Ele disse que era para puxar algumas coisas que estavam debaixo de casa.”
O enterro do jornalista será nesta quarta-feira, no cemitério de Viana, Luanda a partir das 10h