Uma nova ponte entre o Brasil e o continente africano

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Foto de RICARDO STUCKERT durante encontro de Lula com estudantes africanos no Brasil

Gerson Brandão, Por dentro da África

Do Senegal ao Egito, da Mauritânia à África do Sul, a eleição do presidente Lula foi
amplamente comemorada e vista como um novo amanhecer nas relações Brasil –
África. Muito além dos cumprimentos protocolares e declarações de apreço pela força
das instituições democráticas brasileiras, o novo mandato do presidente Lula
representa para lideranças políticas e lideranças sociais do continente africano o
retorno de um amigo e a certeza de que parcerias para o progresso do hemisfério sul
serão estabelecidas ou fortalecidas nos próximos quatro anos.

Em um discurso muito aguardado na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas (COP27), no Egito, o presidente eleito não apenas confirmou as expectativas de que o Brasil “estava de volta ao mundo”, mas sobretudo reafirmou o compromisso de trabalhar na luta contra a destruição dos recursos naturais, na luta contra a desigualdade social.

Quando o presidente Lula diz que: “O Brasil está pronto para se juntar novamente aos esforços para a construção de um planeta mais saudável; de um mundo mais justo, capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada”, ele fala de quão importante é o compromisso do governo brasileiro com a proteção do meio ambiente e com o futuro das próximas gerações, mas também fala de solidariedade que tanto nos fez falta nos últimos quatro anos.

Frente à África, o presidente eleito terá a oportunidade de cooperar com a agenda de
combate à fome, com a qual ele se comprometeu em 2013, mesmo depois de já ter
saído da presidência ao mesmo tempo em que poderá liderar a coordenação dos
países do hemisfério sul para que o compromisso de criação de um fundo global anual
de 100 bilhões de dólares venha a ser uma realidade. Assim, os países que mais
sofrem com as mudanças climáticas tenham parte dos recursos necessários para se
adaptar as emissões e a poluição causada pelos países mais industrializados.

Já no âmbito da COP27, os países com as maiores florestas tropicais do mundo (Brasil,
Indonésia e República Democrática do Congo – RDC) lançaram uma parceria para trabalhar
juntos na preservação da biodiversidade e proteção de riquezas naturais. Os países
têm interesse comum em colaborar para aumentar o valor das florestas tropicais e
garantir que essas áreas continuem a beneficiar tanto o meio ambiente quanto as
pessoas. Porém além da parceria com a RDC, um outro parceiro prioritário do Brasil
na luta contra os efeitos negativos das mudanças climáticas deve ser Madagascar, a
bela ilha no Oceano Índico que indica os sinais mais evidentes de insegurança
alimentar, e consequente aumento da pobreza como impacto imediato do aquecimento
global.

O “Brasil-solidário” que suscita tanta admiração no mundo reapareceu no Egito,
durante a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas com o
compromisso de liderar um novo movimento global construindo pontes com a África e
com o resto do mundo para que a proteção do meio ambiente contenha estratégias
tanto de redução da pobreza quanto de coesão social.
Seja bem-vindo de volta, presidente Lula!

Leia também: A importância da representação diplomática e da cooperação com o continente africano

*Gerson Brandão trabalha para a ONU desde 1999. Viveu em diferentes lugares do mundo, principalmente no continente africano como Libéria, Sudão, Mali e Moçambique. Como pesquisador e consultor, o brasileiro já visitou 30 países africanos.