Maurício Wilson Camilo da Silva, Por dentro da África
Este texto constitui um estudo sobre o importante papel cultural que a Sombra di Polon, que se tornou importante para organização política e militar do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) como meio unificador dos povos sudaneses e litorâneos, onde, principalmente, os Balanta, Mandinka e Cristãos Civilizados tiveram estratégias que foram importantes para luta de libertação territorial da Guiné e Cabo Verde.
Foi dali que constituíram-se os meios de “ensinamento dos mais velhos aos mais novos”, as primeiras escolarizações corânicas e a alfabetização de ensino revolucionário do PAIGC. Era espaço da prática de Djambadon (um manifesto cultural caracterizado pela dança, cantiga e percussão) e Toka Tina (uma manifestação exclusiva das mulheres associada à Mandjuandadi da herança de cristandadi di Jiba, Catcheu, Bissao e Bolama).
Nesses espaços definidos pela Sombra di Polon, os camaradas do PAIGC consultavam Iran (uma crença na ancestralidade e divindade baseada nos espíritos sobrenaturais e guardiões da natureza) para saber do desfecho sobre o ataque contra os portugueses.
O nome Guiné (Genna, Ghenea, Ginea, Gueni, Guinea, Jenni, Genni, Jinne, Djienne, Djénné), se referia a uma povoação indígena, fundada por volta de 1040, nas margens do Níger. Ela estava localizada a sudoeste de Tumbuctu, por onde passava o ouro em direção ao Mediterrâneo. Foi importante centro comercial, capital do antigo Império Fula, detentor do comércio de ouro escravo (RESENDE, 1994, p. 91).
O termo Baloba remete à dimensão física do terreiro que simboliza o lugar onde as incorporadoras da ancestralidade, as Balobeiras, vivem nas matas sagradas e fazem as consultas espirituais.
Sombra di Polon se torna um espaço de soberania e controle espiritual, político e religioso através de um conselho de anciãos, que, quando morrem, se transformam em espíritos guardiões que mediam os vivos com a divindade Iran (JONG, 1988).
Constitui espaços da prática de Djambadon, que surgiu no contexto cultural da hegemonia Mandinka e Toka Tina como manifestação de herança afro-portuguesa nas antigas cristandades de Cacheu, Ziguinchor, Bolama, Bissau, Geba e mais tarde Bafatá. (LOPES, 2003).
Leia a pesquisa aqui – Salvador e suas cores – Maurício Wilson
*Maurício é arquiteto e urbanista pela FAU UFRJ, mestrando em Sociologia pela PPGS UFF e pesquisador-sócio do Real Gabinete Português de Leitura (RGPL) no Rio de Janeiro e associado ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa em Guiné-Bissau