Natalia da Luz, Por dentro da África
Rio – Um dos brinquedos preferidos das meninas nigerianas trouxe para o mundo uma discussão importante em relação à representação dos personagens e de suas respectivas identidades. Negras e vestidas em trajes tradicionais, Queens of Africa fazem parte de uma coleção que representa a África, priorizando a Nigéria, terra natal do criador Taofick Okoya.
– Queremos incentivar meninas negras do mundo todo a se orgulharem de sua cor e cultura. As bonecas têm um impacto duradouro sobre essas crianças – conta em entrevista exclusiva ao Por dentro da África Okoya, que vende também pela internet para o Canadá, Estados Unidos e diversos países da Europa.
A ideia de criar a boneca nasceu em 1996. Desde então, o investimento de Taofick foi de 100.000 dólares, e ele lembra que esse empenho financeiro é contínuo, já que trabalha para acrescentar bonecas e bonecos que representem outros países africanos. Atualmente, mais de 8 mil bonecas são vendidas por mês por um valor entre 6 a 30 dólares, cada. Esse negócio representa cerca de 15% do mercado de brinquedos da Nigéria, país que cresce mais de 5% ao ano.
– Apenas os Estados Unidos são responsáveis por cerca de 70% dos pedidos que temos recebido. Eles estão satisfeitos com o conceito de África feito por um africano – destaca Okoya, que possui 14 funcionários trabalhando em seu projeto, produzindo unidades com detalhes feitos à mão.
Para o inventor, ter brinquedos e personagens de TV semelhantes às pessoas ajuda a aumentar a autoconfiança dos jovens. Ele conta que a alta classe já conhecia e apreciava bem as bonecas, mas a classe mais baixa ainda tinha dificuldades de acesso.
– Quero fazer bonecas acessíveis para o maior número de crianças africanas. Nossos filhos estão expostos a um monte de inseguranças através de jogos, brinquedos… Quando minha filha estava crescendo, todas as suas bonecas e personagens de TV eram brancas, e ela queria ser branca também. Isso pode afetar diretamente a segurança e autoconfiança das crianças – contou o nigeriano, que passou dois anos em campanha ressaltando a importância de bonecos semelhantes à representação do africano.
As coleções Rainhas da África e “Naija Princesses” são comparadas à Bárbie, produzida nos Estados Unidos desde 1959. Criada por Ruth Handler e o marido Elliot Handler, a boneca foi lançada oficialmente na Feira Anual de Brinquedos de Nova York, a em 9 de Março de 1959. Em relação à “Bárbie negra”, Okoya deve muito à sua invenção, não apenas financeiramente, mas pelo fato de o projeto ter ajudado com que ele fosse mais consciente em relação à infância, às referências que as crianças devem seguir e se inspirar, assim como a capacidade de lidar com questões sensíveis como a igualdade de gênero.
– Eu acredito que a Bárbie atenda aos brancos, enquanto as “Rainhas” daqui são produtos feitos por um africano para os africanos de todo o mundo, tentando mantê-los em sintonia com o seu patrimônio cultural.
Além das bonecas, há um conjunto de sete séries Rainhas da África, livros que estão disponíveis em Amazon e Kindle em mais de 12 países do mundo. Taofick fez todo o trabalho de base e de investigação e, em seguida, contratou escritores especializados em livros infantis, para colocá-los em linguagem fácil para as crianças compreenderem e apreciarem.
– Há sempre uma lição a aprender com cada edição. Cada história é escrita para impactar conhecimento e moral, como a preservação do meio ambiente, alimentação saudável e vida.
De acordo com o criador Taorick, bonecas que se assemelham às pessoas ajudam a aumentar a autoconfiança. E você, o que acha?