“Pintar permite reivindicar questões abandonadas pelos líderes”, diz Roberto Mendes

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15622299_10154809031327052_4451513906826179471_nNatalia da Luz, Por dentro da África

Rio – Das ruas de Bissau, capital da Guiné-Bissau, ele coleta experiências, costumes, vivências. Esse conjunto de referências é inspiração para ilustrar quadros e moldar esculturas. Com a intenção de compartilhar um pouco do cotidiano guineense, o artista Roberto Mendes enaltece a sua cultura e estimula a mudança de mentalidades.

-Cada quadro transmite uma mensagem, uma crítica positiva ou negativa. No entanto, na maioria das vezes, procuro reportar os principais problemas que abalam o continente africano e encontrar a melhor forma de reivindicar situações que, para mim, poderiam merecer mais atenção por parte dos líderes africanos -, disse Roberto, em entrevista exclusiva ao Por dentro da África.

 

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Com cerca de 1,5 milhão de habitantes, a Guiné-Bissau é um país da África Ocidental que faz fronteira com o Senegal e Guiné-Conacri.  Após a independência de Portugal, declarada em 1973 e reconhecida em 1974, o país convive com a instabilidade política. Até hoje, nenhum presidente eleito conseguiu completar um mandato de cinco anos. 

Em poesia, escultura ou pintura, a cultura da Guiné-Bissau é o ponto de partida para o trabalho do guineense, que acredita que as manifestações artísticas disseminam valores históricos que tratam de nossas origens.

-Pintar permite-me libertar sentimentos que me criam certa inquietude. Muitas vezes, explicá-los por palavras torna-se difícil. Por isso, embarco na boleia (carona) da pintura e da poesia para desfrutar desses momentos – contou o pintor nas horas vagas, que também trabalha como professor de direito do trabalho e mediador penal na área da justiça.

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Roberto aprendeu a pintar sozinho e, ao longo dos anos, construiu amor pelas artes. Apesar de ter exibido muitas de suas obras em Portugal e Guiné-Bissau, as suas atividades artísticas, no geral, são desenvolvidas a partir de um compromisso pessoal, como cidadão.

-Malangatana dizia que o jovem não devia cantar, esculpir, dançar, pintar e escrever com o desejo de ganhar o pão de cada dia, mas de forma natural de aprendizagem, com entrega para que ele não comparasse a sua obra com a dos demais e adquirisse uma certa soberba, – lembrou o guineense, fazendo referência ao poeta moçambicano Malangatana, falecido em 2011.

Em sua terra natal, o poeta que fala português, francês, crioulo e manjaco (línguas da Guiné-Bissau) lamenta que a cultura seja deixada de lado pelos governantes do seu país. Para ele, o incentivo ao trabalho dos artistas abre caminhos para o desenvolvimento.

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-O artista deve ser como o tocador de marimba, de flauta africana, de piano e de outros instrumentos. Tocam porque sentem prazer por dentro – completou Roberto.