Com informações da Universidade Estadual da Paraíba (Por Oziella Inocêncio)
O Museu Assis Chateaubriand (MAC) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) recebe, neste mês de agosto, parte da programação do “4º Agosto para a igualdade racial”, mais conhecido como “Agosto Negro”, evento realizado pelo Movimento Negro de Campina Grande (MNCG). Abrigar iniciativas semelhantes se alinha à proposta do MAC de incentivar o debate cultural e demais atividades que estimulem o pensar independente e a educação cidadã, o que vem consolidando sua vocação para casa das artes e do conhecimento.
O “4º Agosto para a igualdade racial” abordará a temática “Africanizando as Escolas Públicas através da Lei 10.639/03” e acontece de 25 a 29 deste mês, homenageando nesta edição a escritora mineira Carolina Maria de Jesus [1914-1977].
O Museu acolhe a atividade no dia 28, a partir das 9h, com a Associação Cultural de Capoeira Badauê e o mestre de Capoeira Sabiá, e a Associação Cultural Domínio Capoeira, com o contramestre de Capoeira e professor de Educação Física, Raposa. Em seguida,haverá as palestras “Cotas para a Raça Negra no Serviço Público e Desigualdades Raciais no Brasil” e “Guetos – O Apartheid Urbano”, com os palestrantes Ivaldinete de Araújo Delmiro Gemes, doutora em Ciências Sociais e professora da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA-Ceará) e Sergio Carvalho Santos, poeta, escritor, percussionista e fundador do Afro-Parceiros de Salvador-BA, respectivamente. A leitura dramatizada do poema “Gritaram-me Negra”, da coreógrafa, poetisa, estilista e dramaturga peruana Victoria Eugênia Santa Cruz [1922-2014], coordenada pela professora de Filosofia Kalligiana Farias, com alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima, se dará posteriormente.
A programação conta com várias palestras discutindo temáticas afins, bem como apresentações culturais, sendo que a abertura ocorre no auditório do Colégio Estadual da Prata, às 13h15, com o coordenador do evento, o historiador e militante do Movimento Negro de Campina Grande, Jair Nguni. Na mesma oportunidade, o doutor em História e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que também é membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) daquela universidade, Élio Flores, discorrerá a respeito do tema “Racismo e Literatura na vida da escritora Carolina Maria de Jesus”. Além disso, está prevista para o dia 25, no mesmo local, a apresentação do Grupo de Dança King’s- Hip Hop e da Banda de Fanfarra do Colégio da Prata.
Preleções, seminários, oficinas, workshops e lançamentos de livros, dentre outras atividades, integram o cotidiano do MAC, que atua como um interlocutor não apenas contemplativo, mas questionador de seu tempo e afeito ao diálogo profícuo. O Museu Assis Chateaubriand é localizado na Rua João Lélis, 581, bairro do Catolé, em Campina Grande. Outras informações podem ser obtidas por meio do telefone (83) 3337-3637.
Mais sobre o “Agosto Negro”
De acordo com Jair, o Agosto Negro tem se constituído verdadeiramente como um espaço de reflexão e luta contra o racismo no campo de educação e combate ao genocídio do povo negro, além de servir como um canal de debate sobre a importância cultural e intelectual dos africanos e afro-brasileiros no processo de formação social e histórico da nação brasileira. “Não é por acaso que nessa edição vamos homenagear a escritora, poetisa, cantora, compositora e romancista Carolina Maria de Jesus, que fez história na literatura brasileira quando publicou seu primeiro livro, Quarto de Despejo, na década de 60. Uma mulher, negra, pobre e favelada, que teve sua obra publicada em 13 idiomas, chegando a atingir mais de 40 países”, explicou.
Contudo, o coordenador acrescentou que nem tudo no evento irá girar em torno dessa justa homenagem. “Também queremos debater a intolerância religiosa, em virtude do Terreiro Ilê Axé Babá Obá Igbo, do Pai Antunes de Oxalá, ter sido atacado com um coquetel molotov no bairro do Jardim Borborema”, enfatizou. Outra preocupação do evento refere-seà efetivação do ensino de história da África e cultura afro-brasileira no currículo escolar, oferecendo formação e capacitação para os professores no que trata da Lei 10.639/03. “Queremos levar para as escolas uma cultura de paz, de valorização do processo civilizatório dos povos africanos e de promoção do respeito às diferenças étnicas e culturais”, concluiu Jair.