‘Palmares: Uma realidade histórica’

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Ilustração de Zumbi dos Palmares – Reprodução – Divulgação

Jorge Narciso de Matos (in memoriam)
Enviado por Ademir Barros dos Santos 

Palmares, realidade histórica, agora tomada como paradigma para os afro-brasileiros e tendo, como centro, a figura de Zumbi, foi o tema de trabalho do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (NUCAB).

Embora sejam reconhecidas algumas conquistas, muitas geradas pelas lutas da comunidade negra, há, ainda, um vasto elenco de oportunidades que, em alguns casos, já estão consagradas na Constituição Federal e em algumas leis; mas, lamentavelmente, constituem-se em letras mortas, que somente a luta do afro-brasileiro poderá trazer para a prática cotidiana.

Já não se sonha somente com um país livre, mas, sim, com um país justo, que tenha a capacidade de eliminar as desigualdades sociais que afligem a maioria da população brasileira e, nessa, destacam-se os afros-descendentes, com os piores índices de mortalidade infantil, de renda per capita, desemprego, analfabetismo e outros.

Por este motivo, O Dia Nacional da Consciência Negra significa corajosa evocação do Capitão Zumbi de Palmares quanto ao sonho de igualdade no desenvolvimento, na partilha, e no respeito ao ser humano.

Cronologia do Quilombo de Palmares

1597 – 40 escravos revoltosos fogem de um engenho ao sul da capitania de Pernambuco e criam a Angola Janga – angolinha (bantu), na Serra da Barriga (hoje, União de Palmares)
Africanos, crioulos, mestiços índios e até alguns brancos fugitivos – passaram a viver em Palmares. Pluralidade étnica – um exemplo atemporal.

1602 – O Gov. Diogo Botelho envia a primeira expedição contra Palmares e retorna com a falsa notícia de sua destruição.

14-2-1630 – invasão holandesa – (até 1654) 26 mil escravos foram trazidos, durante o período, pelos holandeses (preço 43 florins + 50 fls. de alimentação e transporte – eram vendidos – 100 a 400 fl.).

1635 – Guerra entre portugueses e holandeses, favorece a fuga de escravos. Palmares cresce. Fugir era a forma mais flagrante de resistência.

1637 – Chegada do conde holandês Maurício de Nassau-Sieger, Gov. de Pernambuco.

1643 – a Holanda passa a enviar, sem sucesso, expedições contra Palmares.

1654 – expulsão dos holandeses de Pernambuco.

1654/69 – Portugal retoma as expedições punitivas contra Palmares. Todas derrotadas: os quilombos adotavam a guerra de emboscada – abandonavam os mocambos atraindo o inimigo para dentro da mata.

1655 – o Padre Antônio Mello “acolheu uma criança com poucos dias de vida” (Zumbi). Novas expedições; alguns palmarinos são capturados.

1663 – o capitão negro Gonçalo Rebelo comanda duzentos soldados contra Palmares. São cinco meses de luta. retorna com quarenta prisioneiros. Todos são degolados.

1665 – Zumbi retorna a Palmares.

1667 – nova expedição, com quinhentos soldados. É derrotada.

1667/1677 – Ataques dos palmarinos no litoral para roubar armas, libertar negros e vingar-se dos senhores e feitores dos engenhos.

1677 – expedição de Fernão Carrilho, experiente em lutas, contra negros sublevados. Retorna com duzentos prisioneiros. 1678 – Ganga Zumba vai ao Recife para firmar um pacto com o governador Aires de Sousa e Castro, que prevê a deposição de armas dos quilombos em troca da concessão de terras e da liberdade. A alforria só seria concedida aos negros nascidos no quilombo; os outros retornariam ao cativeiro. O pacto divide Palmares. Zumbi torna-se o líder da resistência ao acordo. Ganga Zumba abandona o quilombo.

1687 – o bandeirante Domingos Jorge Velho compromete-se com o governador da capitania de Pernambuco, Souto Maior, a destruir Palmares.

1692 – Domingos Jorge Velho parte com exército formado por brancos, índios e mamelucos; após dias de caminhada, montam acampamento próximo a Macaco, o principal mocambo de Palmares.

3 de fevereiro de 1694 – chegam à Serra da Barriga, seis canhões e reforço de duzentos homens.

5 de fevereiro – enfrentamento dos dois exércitos; os quilombolas são encurralados na beira de um despenhadeiro e centenas de negros caem no precipício; os quilombolas tentam a estratégia do refúgio nas matas, sem sucesso; são perseguidos e centenas de negros são degolados.

7 de fevereiro – O Quilombo de Palmares é destruído.

Dezembro de 1694 – surge a notícia de que Zumbi vive.

1695 – Zumbi é reconhecido com um grupo, roubando armas de um vilarejo de Pernambuco.

Novembro de 1695 – António Soares, homem de confiança de Zumbi, é capturado. Sofre tortura e, diante da promessa de sua liberdade, revela o esconderijo do antigo chefe na Serra Dois Irmãos.

20 de novembro – Antônio Soares conduz um grupo de quinze bandeirantes paulistas ao local onde se encontra Zumbi. Soares aproxima-se de seu líder, ferindo mortalmente.

21 de novembro – o corpo de Zumbi apresenta quinze ferimentos a bala e inúmeras marcas de arma branca. Seu pênis é cortado e enfiado na boca; a cabeça é tratada em sal fino e enviada ao Recife, onde é exposta em praça pública.

Notas
Principais Mocambos de Palmares – Macaco (+ 500 casas), Cerca do Amaro, Sucupira, Osenga, Acotirene, Zumbi, Tabocas, Dambrasanga, Adambalaquetuche; havia, também, mocambos móveis.

ZUMBI – Baixinho, magricela, coxo (perna esquerda) – aprendeu português e latim com o Padre Antônio Mello. Preferiu a morte à escravidão.
Sua história está sendo contada por aqueles que o combateram – tornou-se mito após sua morte:
– Para os escravos, era símbolo da liberdade;
– Para a sociedade colonial, um fantasma que ameaçava permanentemente a posse pacífica de escravos. (“não podemos permitir outro Palmares”).

Palmares
– a visão romântica de alguns historiadores

Rocha Pita
– refere-se aos palmarinos “estimando mais a liberdade entre as feras que a sujeição entre os homens”.
Oliveira Martins – “o mais belo, o mais heroico de todos os exemplos históricos do protesto do escravo”.

Nina Rodrigues – “justa admiração pelo valor e abnegação com a qual Palmares se defende, mas exalta a destruição da maior das ameaças à civilização do futuro povo brasileiro”, porque “teria plantado, no coração do Brasil, um novo Haiti, refratário a todo progresso e inacessível à civilização”.

Adoção do Dia Nacional da Consciência Negra / Alternativa ao mito da Princesa Isabel: esforço da comunidade negra em ser sua própria interlocutora.
No espírito dos palmarinos, bem como na visão e na liderança de Zumbi, existe o desafio inerente lançado a um sistema econômico e social que sempre exerceu negativo impacto sobre os pobres, os povos indígenas e sobre os descendentes de africanos.

A república de Palmares desafiou, por sua própria existência, o paradigma colonial clássico imposto ao Brasil. Cabe relembrar: é no Brasil que está a maior diáspora negra.

*Jorge Narciso de Matos foi coordenador do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira – Nucab da Universidade de Sorocaba