O machismo e a relação entre empregadas e empregadores em Angola

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Foto – PNUD Angola

Por Gabriel Ambrósio, Por dentro da África

Luanda – No  livro de Paulina Chiziane “Eu, mulher… por uma nova visão do mundo”, a escritora moçambicana reúne relatos interessantes sobre sociedades e culturas conservadoras e o desrespeito em relação às  mulheres e seus corpos. Em conversas com jovens mulheres da capital angolana, aprendi mais sobre a relação entre patrões e empregadas.

Os homens machistas que ‘têm’ o poder econômico e influência na periferia e nos centros urbanos tendem a demonstrar a sua valentia machista. Certo dia, em um coletivo, algumas senhoras começaram a compartilhar as suas experiências como trabalhadoras domésticas nas cidades do Kilamba e Mutamba. Elas relatavam que, muitas vezes, trabalhavam sem direito à alimentação digna e que as patroas endinheiradas lhes tratavam pior do que os homens.

Em suas pesquisas, o mestre senegalês Cheikh Anta Diop tinha chegado à conclusão de que as sociedades negras africanas eram matriarcais, mas depois da interculturalidade envolvendo povos africanos, europeus e asiáticos, a nossa cultura foi se ‘desmatriarcalizando’. Hoje, nós podemos afirmar sem medo de errar que, grande parte dos homens angolanos é machista e desprovida de respeito às mães e irmãs.

A nossa própria educação é patriarcal e eurocêntrica, ela nem sempre liberta e empodera as mulheres. Infelizmente, essas questões não têm sido tratadas ou denunciadas pelas próprias mulheres, aliás, muitas delas nem sabem como lutar, inclusive diante do assédio sexual.

Segundo o dicionário jurídico, assédio sexual significa “insistência importuna junto de alguém com perguntas, propostas, pretensões sexuais(NETO[2], 2012, p.32). O que acontece com as nossas irmãs, sobrinhas e filhas é exatamente isso. O assédio sexual é comum no local do trabalho, a partir de relações de poder entre as pessoas. Segundo uma jovem angolana, os machistas aproveitam-se da ausência de organizações feministas em nosso país.

Você é machista porque reduzes a mulher a um simples objeto de prazer sexual. Para você, a mulher só tem ‘bunda’ e não competência. Você, homem machista, precisas saber que a mulher, solteira ou casada, não é obrigada a te oferecer o corpo.

Aqui em Angola, a secretária da Promoção da Mulher nem mesmo sabe dos diversos perigos que as jovens periféricas passam. Nos musseques, muitas jovens passam por várias situações e nem têm onde se queixar. “Deixei o meu currículo e os responsáveis horas depois ligaram manifestando que gostaram de mim. Eles falaram: “se a sua irmã não aceitar, não vai trabalhar comigo”, disse uma das jovens.

A moça não consegue o emprego porque se nega a usar o próprio corpo como moeda de troca. É um drama sociocultural e econômico. Os empregos são, em sua maioria esmagadora, designados para os homens, e eles ainda se acham no direito de aliciar e corromper as jovens em troca de emprego.

Por que os contratadores pedem o corpo e não as competências das mulheres?  Será que elas só possuem uma única coisa que podem oferecer?  Convido os homens que têm consciência e que respeitam as mulheres angolanas a pensar nisso. Considero as táticas dos aproveitadores vergonhosas para nós, homens. Nunca se esqueça de que a dignidade da mulher é uma necessidade para toda a sociedade.

Nunca aceite uma proposta que vai te subjugar e lute contra as injustiças. Vamos sonhar com um mundo melhor para os seres humanos. Um mundo melhor para as mulheres.

“Cada dia cresce a minha experiência e mais claras e se tornam minhas reflexões sobre a vida e sobre o mundo. Pretendo revelar um pouco desta experiência sem falsidade nem superficialização para quebrar o silêncio, para comunicar-me, para apelar à solidariedade e encorajamento das outras mulheres ou  homens que acreditam que se pode construir um mundo melhor” (2013. P. 8). – Paulina Chiziane