Kiriku: a lenda do bebê guerreiro que salvou sua aldeia da feiticeira

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Imagem de Divulgação


Natalia da Luz, Por dentro da África

Rio – Uma lenda que virou filme, peça de teatro, espetáculo de dança em todo o mundo leva um pouco da África para diferentes culturas. Kiriku conta a história de um recém-nascido superdotado que sabe falar, andar e correr. Ele é o salvador de sua aldeia, ameaçada pela feiticeira Karabá.

Kirikou e a Feiticeira (Kirikou et la Sorcière) é uma obra voltada ao público infantil, mas com camadas simbólicas que falam também aos adultos. É um convite ao diálogo entre culturas e uma poderosa ferramenta para repensar as formas como representamos a África nas narrativas globais.

Ainda no ventre da mãe, kiriku ordena o seu nascimento e sua mãe diz que, se ele pode pedir para nascer, é porque tem capacidade para realizar isso sozinho. Em resposta, o menino nasce, corta seu próprio cordão umbilical e diz: “Meu nome é Kiriku”.

A criança é bem pequena e nem sequer chega aos joelhos de um adulto, mas a sua coragem parece ser maior do que a de todos os adultos juntos. Ao longo do conto, é possível ver a representação positiva da cultura africana, valorizando a oralidade, os saberes ancestrais e a força coletiva das comunidades. A trilha sonora, composta por Youssou N’Dour, contribui para criar uma atmosfera autêntica e envolvente, transportando o espectador para um universo mágico e ao mesmo tempo real.

Reprodução do filme Kiriku – Com o olhar espiritual, a lenda inteira traz referências, como exemplo, ao baobá, que é cultuado como uma árvore sagrada, conhecido como “a única árvore que nasce de cabeça pra baixo”! Creio que a lenda ficou conhecida por dois motivos principais: porque agrada muito as crianças de todas as nacionalidades e porque os adultos também aprendem com ela – conta em entrevista ao Por dentro da África Mario Tenório, psicanalista e especialista em Lendas Africanas.

Diferentemente de muitas histórias de guerreiros africanos, Kiriku não é forte, não anda armado, não comanda um exército. A sua coragem é acompanhada de doçura, paz, tranquilidade. Ele não usa roupas enquanto a sua oponente Karabá é banhada de jóias, maldade e poder.

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Logo após o nascimento de Kiriku, seu tio vai até a feiticeira para exigir o fim de suas maldades contra a aldeia. Kiriku insiste em acompanhá-lo, mas ele não permite a presença do sobrinho, que se esconde em seu chapéu. Disfarçado, Kiriku consegue salvar o tio de uma morte certa.

O pequeno guerreiro é movido pela curiosidade, pela energia e deseja saber o motivo de tanta maldade. Em uma dessas tentativas, a bruxa tenta matá-lo, mas ele foge. Um dia, com a ajuda da mãe, ele arma um plano para visitar o sábio da montanha e aprender mais sobre a feiticeira.

Reprodução do filme Kiriku

Kiriku descobre o motivo de tanta maldade de Karabá e a liberta da maldição quebrando os feitiços que ela fizera contra a sua aldeia.  No filme, dirigido por Michel Ocelot (1998), é possível enxergar altruísmo, astúcia, perdão, a importância da coletividade e do amor na aldeia.

Mario Tenório, que elege o nascimento de Kiriku como um dos momentos mais marcantes da história, utiliza o filme em seu curso de ensinamentos sobre lendas africanas para que seus alunos abordem questões sobre a própria espiritualidade.

 

Assista a alguns trechos do filme: