Natalia da Luz, Por dentro da África
Rio – Ele tem nome de herói, do primeiro presidente após a independência de Moçambique, que influenciou não apenas os africanos, mas a vida deste lado do Oceano Atlântico. Brasileiro, filho de pai negro e mãe branca, ele recebeu o nome de Samora Machel.
– Meu pai sempre foi ativista do movimento negro. Suas fontes de inspiração eram Steve Biko, Nelson Mandela e, principalmente, Samora Machel – conta em entrevista exclusiva ao Por dentro da África Samora Machel Almeida.
Desde muito pequeno, Samora, hoje com 25 anos, sempre demonstrou orgulho pelo nome, sempre soube explicar a sua origem, de onde veio, quem era o moçambicano Samora e um pouco da história do líder africano.
– Para mim, o grande Samora tem uma importância enorme por ser uma fonte de onde busco inspirações para a vida. Na África, é visível o amor e carinho que seu povo sente quando fala dele – ressalta o brasileiro formado em Ciências da Computação.
Por conta da sua relação com a história do país, Samora estuda bastante o passado e a contemporaneidade de Moçambique a partir de jornais internacionais, pesquisas e contatos com moçambicanos. Desta forma, ele também se sente um transmissor da história de Moçambique.
– Para onde quer que eu vá, de uma forma não proposital, eu tenho que contar o porquê que tenho este nome, quem foi este homem, por que meus pais colocaram este nome… No final, todos ficam surpresos e demonstram respeito!
Samora: o herói de Moçambique
O primeiro presidente de Moçambique foi um militar, líder revolucionário de inspiração socialista que liderou a Guerra da Independência de Moçambique e se tornou o primeiro presidente (de 1975 a 1986) após a independência do país. Conhecido como o “Pai da Nação”, ele morreu quando o avião em que estava caiu em território sul-africano, em 1986.
Neto de um guerreiro, Samora Moisés Machel (Prêmio Lenin da Paz de 1975) foi educado como nacionalista e, quando estudante, tomou conhecimento dos importantes acontecimentos no mundo como a formação da República Popular da China com Mao Tse-Tung, em 1949, a independência de Gana com Kwame Nkrumah, em 1957, seguida da independência de vários outros países africanos. Em 1963, ele deixou o país e se juntou à FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), na Tanzânia.
Nessa altura, o partido político FRELIMO defendia que não seria possível conseguir a independência sem uma guerra de libertação. Samora, então, foi levado para receber treinamento militar na Argélia. No seu regresso à vizinha Tanzânia, ele ganhou o posto de comandante.
Com a mudança de atitude de Lisboa, foi assinado, em 7 de Setembro de 1974, o Acordo de Lusaca, entre o governo provisório português e a FRELIMO. Assim, foi montado um governo de transição, e a independência foi realizada em 25 de Junho de 1975.
Encontro com Graça Machel
Em 1998, o Samora brasileiro visitava a casa de seus parentes em Brasília, no mesmo período em que Nelson Mandela e Graça Machel, ainda recém casados, estavam no Brasil. Ele foi parar no mesmo hotel do casal mais famoso da África do Sul!
– Ao avistar um dos assessores da comitiva sul-africana, minha mãe contou sobre a homenagem que fizera ao primeiro presidente de Moçambique. Imediatamente, Graça Machel pediu que me levassem até a ela e Madiba. Mandela me pegou no colo, me abraçou, o tempo todo sorrindo. Ele disse para eu estudar bastante para me tornar, futuramente, um bom presidente do Brasil, assim como Samora foi para Moçambique – recordou o brasileiro que vive em Andradina (São Paulo), completando que aquele havia sido o primeiro de muitos encontros com Graça Machel.
Graça Machel foi a segunda esposa de Samora Machel e a primeira-dama de Moçambique, desde 1976, quando se casou com Samora Machel , morto em 1986. Em 1998, casou-se com Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul, eleito em 1994. Pelos casamentos, ela tornou-se a única pessoa no mundo a ser primeira-dama de mais de uma nação.
Desde então, a relação entre Samora e Moçambique aumentou. Em 2010, ele teve um segundo encontro com Graça Machel, que retornou ao Brasil para participar de um congresso em São Paulo.
– Encontramos-nos em um hotel de São Paulo, trocamos presentes, e recebi o convite para visita-lá em Moçambique e conhecer “meus irmãos” moçambicanos. Em 2011, fui à convite dela e do Presidente Guebuza para participar das homenagens de Aniversário dos 25 anos de morte de Samora, em Maputo.
O brasileiro ficou hospedado na residência de Graça e participou de todo protocolo das homenagens como visita à Praça dos Heróis Moçambicanos e à Praça da Independência, além das cerimônias internas da família Machel.
– O fato curioso é o tratamento que, desde então, recebo da família. Sou muito feliz por possuir o carinho de Mama Graça e de toda família. Após isso, trocamos contatos, e Graça prometeu enviar correspondências, sempre que pudesse, já que, na época, a internet não era muito difundida.
Por conta da relação de carinho com a família de Graça Machel e Moçambique, Samora desenvolveu projetos para estreitar ainda a distância entre o Brasil e Moçambique. Em 2012, ao voltar para o Brasil, a comunidade moçambicana começou a procurá-lo,fazendo pedidos de amizade pelo facebook e formando um conjunto de ideias e programas fortalecendo o elo entre os dois países.
– Algumas das conquistas desta relação foram um convite para ser membro da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique (CCIABM) e a ida de um programa técnico para Maputo.Os moçambicanos brincam comigo, dizendo que Samora Machel voltou brasileiro e mulatinho (risos)! Eu tenho um grande orgulho por ter Moçambique e Samora como parte da minha história e posso imaginar a saudade que sentem dele.
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