Por Alexandre Costa Nascimento, Por dentro da África
Setúbal (Portugal) – Cores, aromas e sabores, características que tornam a África um lugar único e especial, também são atributos presentes em uma boa taça de vinho. O charme da bebida nacional portuguesa e a personalidade marcante do continente africano se encontram na Quinta da Bassaqueira, no coração da região vinícola de Setúbal.
Na freguesia de Azeitão, a cerca de 30 quilômetros ao sul de Lisboa, está a sede da Bacalhôa Vinhos, uma das maiores vinícolas de Portugal. Para além das barricas de carvalho francês que dão personalidade aos diversos rótulos da marca, o espaço guarda também um verdadeiro tesouro: uma coleção privada com mais de 700 peças de 15 países africanos.
A exposição denominada Out of Africa é dedicada à rainha Nzinga e a três maravilhas paisagísticas de Angola: as Pedras Negras de Pungo Andongo, a Fenda de Tundavala e as Quedas de Kalandula. O acervo é composto por peças históricas e etnográficas, máscaras, esculturas em madeira e barro, cerâmicas, armas, joias além de peles e troféus de animais do continente africano.
A visita ao espaço dedicado à África é, acima de tudo, uma experiência sensorial que permite percorrer caminhos e histórias através da arte África ao som ambiente dos batuques enquanto sente-se no ar o perfume do vinho português maturando nas barricas do galpão ao lado.
Todo este acervo é um dos tesouros pessoais do empresário português José Manuel Berardo – também conhecido como “Comendador Joe Berardo” –, principal acionista da Bacalhôa Vinhos de Portugal, reconhecidamente um apaixonado pela África, pelo vinho e pelo mundo dos negócios.
Figura excêntrica e autoproclamado um colecionador de arte compulsivo, Berardo fez fortuna na África ainda na juventude, quando partiu aos 18 anos para explorar o ouro esquecido nas minas esgotadas da África do Sul. Com uma tecnologia inovadora para a época, ele conseguiu separar os valiosos grãos dourados da areia, o que lhe permitiu acumular uma das dez maiores fortunas de Portugal e uma das maiores do mundo, de acordo com ranking da revista Forbes publicado em 2009.
O empresário de origem madeirense chegou a perder grande parte de seu patrimônio com a crise e chegou a ser considerado falido, mas conseguiu se reerguer e mantém negócios e grande influência no setor dos vinhos em Portugal.
Além do roteiro que permite uma viagem à África, a Quinta abriga diversas obras de arte ao ar livre — como o espólio do escultor nipônico Nimoru Nizuma e o jardim japonês que abriga a árvore Kaki, descendente em quarta geração da única árvore sobrevivente à bomba de Nagasaki.
Também merecem destaque as oliveiras milenares, que foram transladadas para a sede da Bacalhôa: são dois exemplares com mais de 2 mil anos de idade e que ainda produzem azeitonas. As duas árvores milenares convivem lado a lado com outras oliveiras mais jovens, estas ainda nas faixa dos 500 anos de idade.
Outras duas exposições temáticas integram o local: a coleção de Art Nouveau e Art Deco e a exposição O Azulejo Português do Século XVI ao Século XX, com peças que testemunham mais de cinco séculos deste tipo de arte em Portugal.
A visita ao Azeitão também permite conhecer a Quinta da Bacalhôa e o Museu da Bacalhôa, a menos de 5 quilômetros da sede, conjunto arquitetônico e de vinhas que pertenceu à Casa Real Portuguesa e foi casa de verão do rei D. Manuel I.
Assista ao vídeo da Quinta da Bacalhôa
A visita que começa em Portugal e passa pela África, Europa e Japão termina com um retorno a Setúbal, com uma deliciosa sessão de degustação de três vinhos produzidos no local: o tinto JP Azeitão de castas portuguesas, um branco de uva Alvarinho e o tradicional e inigualável Moscatel de Setúbal.
Serviço
Onde: Azeitão, Setúbal – Portugal.
Preço: 6 euros por pessoa (Museu + Palácio e Quinta da Bacalhôa + degustação)
As visitas devem ser marcadas no site