Natalia da Luz, Por dentro da África
Cidade do Cabo – Uma das bebidas mais apreciadas do mundo encontrou no finalzinho do continente africano a terra perfeita para fazer fama. O clima mediterrâneo combinado com um solo rico influenciado pela proximidade dos oceanos Atlântico e Índico asseguram o crescimento das fazendas sul-africanas, reconhecidas mundialmente pela qualidade.
– A África do Sul tem um clima muito propício à produção de bons vinhos que, na verdade, sempre existiram. Com o crescimento do consumo no mundo, o público passou a conhecer vinhos de países até então desconhecidos como fabricantes, tais como Austrália, Nova Zelândia e África do Sul – contou ao Por dentro da África o sommelier e consultor Marcos Lima, destacando que os exemplares sul-africanos são perfeitos para a gastronomia.
Perfeitos e com características de Velho Mundo! Segundo o especialista, características como estas estimulam o crescimento e ajudam a conquistar o mercado.
– O vinho sul-africano tem mais estrutura, é mais complexo e pede acompanhamento. Você pode beber perfeitamente durante um jantar, diferentemente de muitos outros que não combinam – descreveu, justificando a classificação de Velho Mundo como a dedicada aos vinhos mais tradicionais provenientes de países como França, Itália, Portugal e Espanha.
As vinícolas, além de uma grande fonte de recursos para a África do Sul (o nono produtor mundial), fazem parte da história do país e, especialmente, da ocupação holandesa. A primeira videira foi plantada em 1655, por Van Riebeeck, precursor da colonização holandesa no sul do país. Simon Van Der Stel, que se tornou o primeiro governador da região em 1679, teria sido o maior incentivador da indústria, com um vinhedo próprio, inclusive.
No início do século XVIII, a área que mais desenvolveu a cultura do vinho foi Constantia (Western Cape), que passou abastecer os reinos da Europa. A expansão Napoleônica teve uma relação estreita com o crescimento da produção de vinhos, já que a bebida produzida na França foi proibida de entrar na Inglaterra como sanção.
A produção cresceu ao longo dos anos em fazendas nas províncias de Mpumalanga, Northen Cape, Free State. Mas principalmente em Western Cape, região mais ao sul do país, se localiza o pólo do vinho africano com mais de 100 mil hectares de vinhedos! Este paraíso está nas redondezas da Cidade do Cabo, que destaca como um de suas principais atrações a visitação às fazendas com tardes regadas a tintos e brancos, que aos poucos chegam no Brasil. Stellenbosch (na Cidade do Cabo) é uma região de grande prestígio, produzindo anualmente (de acordo com o Sommelier Wine) cerca de dez milhões de hectolitros de vinho.
– Um que encontramos com mais facilidade no Brasil é o Meerlust. Mas ainda há muitos que não chegaram e têm potencial para ganhar o mercado brasileiro, que vem se expandindo muito rapidamente – afirmou o sommelier, ressaltando a uva Pinotage como a especialidade sul-africana.
Quem tem um pouco mais de tempo e é especialista merece uma visita prolongada à Rota 62, a mais longa do país e provavelmente do mundo! Cruza as maiores regiões produtoras da bebida da África do Sul, desde a província de Western Cape (onde fica a Cidade do Cabo) a Porto Elizabeth, em Eastern Cape. Mas se o visitante não tem tempo para percorrer 850 quilômetros, pode visitar fazendas próximas à Cidade do Cabo, como Worcester, o distrito que mais produz vinho em todo o país, ou então Stellenbosch.
As rotas abrangem uma série de atividades como visitação às fazendas, degustação e o acompanhamento de toda a produção da bebida. Você pode entrar em um tonel com vários turistas e acompanhar todo o processo de produção: da colheita até a garrafa.
Para fazer uma boa degustação, o segredo de Marcos Lima é esquecer o preconceito em relação aos produtores, tipos de uvas.
– Antes de saborear, a gente não deve criar barreiras porque aí a probabilidade de não gostar aumenta – opinou Marcos, que listou umas dicas para quem for participar da rota dos vinhos na Cidade do Cabo.
-Se você visita três fazendas por dia, o melhor é escolher no máximo cinco vinhos (uns dois brancos e três tintos) para poder curtir a atração (sempre acompanhado de um copo d’água) – lembrando que, caso a idéia seja degustar a variedade da vinícula, que deixe as outras fazendas para os dias seguintes.
O artigo artigo foi publicado no Jornal do Brasil em 2010
Por dentro da África