Natalia da Luz – Por dentro da África
Limpopo – Imaginem seis mil anos se passarem e uma árvore continuar de pé, forte, com milhares de litros de água armazenados e uma sombra de dar inveja? É assim com o baobá, árvore de grande porte (proveniente das savanas africanas) que pode chegar a aproximadamente 40 metros de altura e cerca de 10 metros de diâmetro!
Com um tronco tão grande, é possível morar, jantar e brindar ali dentro! Por que não chamar os amigos e celebrar dentro do maior Baobá do mundo? Esse lugar existe e está em Modjadjiskloof, Limpopo, na África do Sul. O “baobá-bar” é tão espaçoso que precisaria de uns 40 adultos com braços estendidos para abraçar os 43 metros de circunferência! Dentro do exótico estabelecimento cabem 15 clientes bem à vontade, como se não estivessem dentro de uma árvore!
Conheça o hotsite da África do Sul
O baobá personifica o espírito africano. É considerada a árvore da vida, com uma importância única para comunidades inteiras. Diante delas, em muitas regiões, nativos se reuniam porque acreditavam que o espírito do Baobá os ajudaria a tomar decisões importantes. Ela também é considerada uma fonte de fertilidade e a solução medicinal para muitos males. Há uma lenda no Senegal (a imagem de um baobá faz parte do brasão do país) que diz que se um morto for sepultado dentro de um baobá, sua alma irá viver enquanto a planta existir! Lembrando que o baobá vive muito…
– Seis mil anos é demais, mas com certeza, mil anos eles vivem. É um dos seres vivos mais velhos do mundo junto com a Sequóia (conífera originária da Califórnia-EUA, que chega a medir 12 metros de diâmetro, 150 metros de altura e viver mais de quatro mil anos) – , conta o botânico Massimo Bovini, em entrevista ao Por dentro da África do Sul. Uma das particularidades do baobá, segundo ele, é o fato de as flores serem polinizadas por morcegos, consumidores vorazes de néctar, e florescerem durante uma única noite! – Elas têm bastante néctar e seus frutos, na época de escassez de comida, servem de alimentação, além de haver indícios para a cura da malária.
O baobá parece realmente poderoso! Ele foi muito divulgado durante o século XX, através da obra O Pequeno Príncipe (de Antoine de Saint – Exupéry), mas antes que nós decidíssemos contar o tempo, ele já crescia e se tornava um símbolo sagrado para muitos povos africanos. Ele faz parte da família das Malváceas, especialidade de Massimo, que trabalha no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, área que guarda um dos cinco exemplares da espécie que existem no estado!
– Por aqui, elas não crescem muito, por não serem adaptadas como em seu habitat natural: a África. O maior baobá que eu conheço está na Ilha de Paquetá – (próxima à cidade do Rio), diz sobre a árvore. – (OBS: O leitor Andre Luiz contou ao Por dentro da África que, segundo os registros de Paquetá, o baobá “Maria Gorda” tem 106 anos).
As Malváceas possuem um grupo de espécies formadas por árvores enormes com folhas compostas, e de flores e frutos grandes… Mas nem todas têm a particularidade de armazenar milhares de litros de água como o baobá que, de acordo com o seu diâmetro e altura, pode comportar mais de 120 mil litros! Difícil imaginar tanta água dentro do tronco de uma árvore… Está aí então o segredo da longevidade do baobá que se mantém saudável durante as secas africanas! Outra lenda que o botânico nos conta é que a árvore teria sido plantada de cabeça para baixo, pois quando está totalmente sem folhas, causa a impressão que suas raízes tomaram o lugar de seus verdadeiros galhos.
Garanta aqui a sua passagem para África do Sul
No cerrado brasileiro, temos um exemplar nativo bem próximo a esse símbolo africano: a “Barriguda”, que também armazena um bocado de água. Em se tratando de baobá original, o lugar mais comum para admirá-los por aqui é em Recife, onde a prefeitura tombou alguns baobás transformando-os em atração turística. Certamente eles chamam a atenção de muita gente, mas não chegam a ser tão exóticos quanto a árvore-bar da África do Sul, onde é possível beber um licor de marula (bebida típica da região do Limpopo), enquanto relaxa dentro de um baobá.
(Reportagem escrita em 2010, no blog Por dentro da África do Sul, no Jornal do Brasil)