OLHOS DE RUANDA
Por Ilda Castro (1997)
Olhos parados. Sem brilho, sem vida
– centros de uma grande ferida –
a implorarem ao mundo, atenção.
Olhos que nos olham no coração
tal raios incandescentes,
fundindo nossa razão, nossa mente.
Olhos parados, sedentos como o corpo
que os acolhe e guarda.
Tal como o corpo, sofrem total embargo
e já não enxergam mas – como fantasmas – vagam.
Olhos a chorarem lágrimas de sangue, pois
já enterraram amigo, mãe, irmão, pai.
Olhar totalmente sem rumo, Não sabe aonde vai,
por todos os lados há fome, sangue, desrespeito, iniquidade.
Fitam, então, o céu azul-anil – só claridade!…
O negro corpo cai ao chão e nem sente ser queimado
pelo sol fustigante, inclemente – sol dourado.
Os olhos se fecham sofridos, cansados,
à espera da morte, companheira quase amada,
que os libertará dessa vida tão sofrida,
levando-os a fitar – quem sabe –
não chão seco, crestado, empoeirado,
mas riachos cantantes e estrada verde, florida…
ILDA CASTRO (RDA/1997)
Por dentro da África