Coluna África em Verso: “Magaiza”, por Hera de Jesus

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The use of mercury to extract gold poses health risks to artisanal miners. Photo: IRIN/Kenneth Odiwuor
Photo: IRIN/Kenneth Odiwuor

MAGAIZA

(nos garimpos de Moçambique)

Hera de Jesus

Partiu para o infinito do além, para as profundezas do vazio, de um vazio reluzente

E partiu para a cavidade escura, pôs-se a decifrar a sua dura realidade, nua e crua
Nos seus braços, uma picareta que espetavam o solo de uma mina esgotada

Nada mais havia restado, senão, corpos dispersos sem nenhuma sepultura
Sonhos dilacerados pelo cintilar das estrelas traiçoeiras
Homens e mais homens por alimentar

Que mais poderia levar tio Antônio, senão uma bagagem de saudades da sua Ka Gaza
Terra natal que o viu nascer, onde o gado pastou, e tão cedo se refugiou para as terras do rand?

Saudades da sua Jofina
Desamparada mulher, sua camponesa
Deus há de provir
O kutxinga não seria mau, não seria, assim permaneceria eterna a raiz do tio Antônio

Sonho algum resistia aquele lugar assombrado, demolidor da luz e companheiro da morte
Os golpes audazes das picaretas, traziam-no de volta ao mundo real
No interior de uma mina, esperando enterrar-se na sua própria sepultura.

Hera de Jesus

Por dentro da África