MAGAIZA
(nos garimpos de Moçambique)
Hera de Jesus
Partiu para o infinito do além, para as profundezas do vazio, de um vazio reluzente
E partiu para a cavidade escura, pôs-se a decifrar a sua dura realidade, nua e crua
Nos seus braços, uma picareta que espetavam o solo de uma mina esgotada
Nada mais havia restado, senão, corpos dispersos sem nenhuma sepultura
Sonhos dilacerados pelo cintilar das estrelas traiçoeiras
Homens e mais homens por alimentar
Que mais poderia levar tio Antônio, senão uma bagagem de saudades da sua Ka Gaza
Terra natal que o viu nascer, onde o gado pastou, e tão cedo se refugiou para as terras do rand?
Saudades da sua Jofina
Desamparada mulher, sua camponesa
Deus há de provir
O kutxinga não seria mau, não seria, assim permaneceria eterna a raiz do tio Antônio
Sonho algum resistia aquele lugar assombrado, demolidor da luz e companheiro da morte
Os golpes audazes das picaretas, traziam-no de volta ao mundo real
No interior de uma mina, esperando enterrar-se na sua própria sepultura.
Hera de Jesus
Por dentro da África