Por Gabriel Ambrósio, Por dentro da África
São Paulo – Esse texto resulta das minhas reflexões, como leitor e como um ser livre para pensar e se manifestar sobre o mundo. A partir daí começam os interrogatórios sobre os conceitos da História, da história da colonização, dos processos de independências, dos grupos de intelectuais que defendem os seus diplomas, os seus vários prêmios, seus artigos e tudo o mais. Não sou titular de mordomias acadêmicas, nem artigos científicos, mas sou observador e tento construir os meus pensamentos sobre africanidade, angolanidade e Américas, e sobretudo a respeito do Brasil.
A cada dia reflito sobre o que é o processo de criação, produção e se temos uma cultura. Apesar de termos uma cultura indígena, acadêmica, social, religiosa em diferente casos, é a reflexão da imitação de alguns pontos, que aqui exponho. A academia, ou seja, o mundo sócio-cultural não reflete não? As sociedades colonizadas repetem toda a política colonial, cultural, religiosa e econômica-discriminatória contra os povos indígenas da América Latina e África. A ciência se recria e se inventa, mas os problemas sociais como a violência, drogas e dominação consciente e inconsciente permanece. Os professores reproduzem os mesmos teóricos, os mesmos métodos de avaliação de aprendizagem. Os exames não qualificam e nem fazem a qualidade de ensino. Nós, humanos, não somos objetos, nem somos máquinas. Até os computadores recusam os termos que não conhecem… Vamos seguir, mas não é para repetir mais:
1 – Ciência e Grécia – Os termos por eles inventados como a matemática que haviam aprendido no Egito antigo. Lá foi onde começaram muitas práticas que os gregos desenvolveram, mas não se fala nada!
2 – A cultura do ensino da gramática, começando pelos métodos de ensino – A gramática de cada língua é padronizada para deixar as outras sempre excluídas. Havia no Egito antigo escribas e alunos da professora Hipátia que codificavam os ensinamentos gramáticos. Só se fala da Alexandria, sem referenciar o Egito.
3 – Os símbolos e deuses – As constituições e códigos contêm muitos plágios, principalmente nos Países afrikanos e particularmente nas ex-colônias portuguesas.
4 – A justiça e suas simbologias – Todos os símbolos têm o mesmo formato, uma mulher branca segurando espada e olhos vendados ou abertos. Os africanos só recebem sem tentar verificar algo. Basta chegar aos tribunais em todos os países… O mais grave ainda é que, na Constituição Angolana, tira a terra nas mãos dos autóctones. Por quê? É o plágio dos europeus.? Mas no passado, nem mesmo os reis ou rainhas tiravam a terra em benefício deles. Temos que repensar… Os legisladores devem repensar urgentemente. Os gregos também plagiaram o Egito Antigo.
5 – Só consideram os moldes de sua celebração de casamentos como os ternos e vestidos brancos. Por que só tem de ser assim? Em diferentes etnias africanas, quando casavam, não usavam ternos, mas vestiam-se. Temos que refletir.
6 – A moda de cabelo liso pelo mundo todo – Pensam nos indígenas das Américas? O cabelo modelo europeu é seguido por boa quantidade de mulheres no mundo. Por que todas as mulheres afrikanas imitam os cabelos lisos e desvalorizarem os cabelos naturais? Essa doença da imitação de tudo do exterior é muito vil. Até quando as pessoas questionarão? Por que os homens devem manter as barbas cortadas, cabelos curtos, principalmente, nós negros? Meus amigos afrikanos sempre se incomodam com o meu cabelo… É a cultura herdada pelo colono manter o cabelo cortado. Por que assim? Em nossos países, os jovens com cabelos só podem ser artistas. Será que o cabelo tira os meus pensamentos ou a minha personalidade? Afrikanos, parem de seguir cegamente. Repreendam o vosso fanatismo nas ideias francesas, inglesas ou portuguesas. Chega de opressão por cultura!
7 – O formato dos desenhos gregos dos homens e mulheres é um padrão predominante. Hoje, há um padrão de mulheres e homens que a mídia divulga. Por que todos os homens têm de ser altos? Se existem diferenças genéticas, por que as mulheres têm de ser magras e altas? Quem começou os concursos de beleza e por que, para desfilarem, devem andar de calcinha? Afinal, as mulheres só valem quando mostram o corpo? E os homens têm de mostrar o físico e as cuecas, quem criou os misters sempre aqueles altos?
8 – Os filmes praticamente têm dois viés: um europeu e outro norte-americano. O resto é só para fazer sem muitas admirações. Os afrikanos, neste aspecto, estão além…
9 – A música e o desporto – Primeiro, a música norte-americana é mais consumida, é mais liberal. O desporto europeu é mais visto e comentado. Os afrikanos torcem o tempo todo por clubes europeus e há casos em que os amigos brigam. Tudo isso é o fanatismo inconsciente pelos colonizadores. O desporto “rei” futebol por eles inventados têm mais popularidade.
10 – A filosofia – Embora exista em todas as culturas, segue-se a referência somente da Europa, e um pouco da oriental. Nos últimos séculos, a norte-americano com ontologia europeia também.
11 – A tecnologia vem da Europa, Ásia e América – Nunca falam da tecnologia do passado afrikano. Ela é sempre esquecida. Os astrônomos e as descobertas de metais e ferros pelos impérios africanos são desconhecidos simplesmente. A origem de ciência nunca é revelada que é afrikana. Porque senão darão mérito aos não-ocidentais.
12 – Consumo da moda com tamanhos europeu, norte-americano e brasileiro – Isso acontece como se nós não tivéssemos modelos com tamanhos mais próximos dos nossos países.
13 – A alienação fílmica é tão real que até as crianças chegam ao ponto de imitarem as artes como a violência, tráfico de armas e drogas. Os filmes de Hollywood influenciam negativamente, as crianças e jovens afrikanos.
14 – Os europeus entre todos os outros povos são ditos “superiores” em todos os aspectos e tudo deles também é referência cultural mundial. Até o plágios de “deus” é seguido em todos os continentes. Em termos culturais, muitos europeus se inspiravam (inspiram) na cultura afrikana, e referenciam o berço mundial.
15 – Imita-se os fardamentos militares, sempre de cor verde. Pelos menos, todos os países que fazem guerras têm os seus militares com as cores dos fardamentos ou uniformes. Será que é a norma?
16 – Os conteúdos educacionais e os métodos gregos antigos e romanos são reproduzidos ainda nos nossos dias. São obrigados a fazer coisas que nem sabem onde usar, e isso, até nas universidades, onde a maioria dos formandos está com os olhos no dinheiro. E o consumo à espreita de uma forma consciente e inconsciente.
17 – Ensinaram a etiquetas principalmente os utensílios como faca, e garfo, uns colocam garfo na esquerda como é caso das colônias portuguesas, e já no Brasil é o contrário.
18 – Os feriados criados pelos europeus no passado ainda são comemorados. Será que esses eventos eram praticados pelos pagãos e ainda servem para faturar o dinheiro pelos comerciantes do mundo inteiro?
19 – O sistema de exclusão étnica, que começara na Europa, estabelece as etnias em termos de “raças” superiores, médias e inferiores. O racismo tem origem e se espalhou por todos os lados. Ninguém questiona o motivo de discriminarem a cor das pessoas.
20 – As línguas europeias são oficiais em muitos países. Todos os países afrikanos têm as línguas estrangeiras como oficiais. Isso é uma vergonha para os autóctones e intelectuais afrikanos.
A minha tristeza é que, quando penso que os nossos reinos tinham línguas oficiais como o Kikongo no Reino do Kongo, os europeus impuseram e proibiram que os autóctones continuassem a falar as suas línguas. Hoje, alguns políticos angolanos não falam as línguas nacionais. Aqueles que ainda tentam falar, sentem vergonha, e sofrem preconceito.
A herança da hipocrisia e da violência prevalece. Afinal, por que estudamos? Como estudamos e o por que sempre estudamos as realidades alheias? Somos capazes de inventar os nossos modos de fazer política? Hoje, todos os sistemas políticos, são/ foram criados pelos europeus, e hoje esses sistemas maltratam os povos nativos.
As moedas europeias e norte-americanas são as mais altas no mundo. Isso é semelhante à alienação do futebol europeu. Eles não torcem pelas equipes angolanas ou guineenses, congolesas, camaronesas… Por que os acordos com grandes corporações que causam mal à humanidade que inventam vacinas para o extermínio das crianças afrikanas? Que mundo é esse onde as más coisas são protegidas? As boas coisas são menosprezadas?
Não sou moralista ou hipócrita. As correntes e as amarras nos pensamentos alheios continuam como se nós não tivéssemos outra postura de nos afirmarmos, de pensarmos por nossas próprias cabeças. Devemos viver os nossos valores culturais. Veja e lembre-se de que os livros ensinam a tecnologia para ser usada de uma forma consciente. O ser humano pode ser alienado (a) de várias formas. Desalienação e descolonização partem do questionamento e reconhecimento da verdadeira história e do funcionamento do cérebro junto com a crítica, e autocrítica.
Gabriel Ambrósio, estudante da PUC GOIÁS, ( poeta, escritor e pesquisador da cultura, História e literatura afrikana. Membro do PROAFRO e tem o pseudônimo literário, Mavenda Nuni ya Áfrika. E-mail. mavendanuni@gmail.com . Tem conto, crônicas, publicados nas antologias poéticas “ Incertezas e suas Fragilidades, vol. I, e Sensações Facebook III ª edição” em 2014.