Ed Mulato, Por dentro da África
Homenagem à minha mãe e todas as demais fazedoras de gente deste mundo!
Tudo estava muito escuro e úmido naquele canto estranho, sem forma e apertado, em que, há tempos, eu me encontrava. Desde quando? Não sei!
Embora tudo muito aconchegante, eu sabia, desde muito antigamente, que precisava sair dali: afinal, havia a missão que eu teria que cumprir.
Porém, não havia qualquer saída. Por mais que eu me mexesse, e procurasse, e me mexesse, e procurasse, não encontrava qualquer luz; nem caminhos plausíveis para qualquer escapulida. Mas, eu pre-ci-sa-va, urgentemente, saiiir daliiiii!
Tateei em volta, tudo, mais uma vez; então senti que em terremoto manso, tudo se mexia; só que não me mostrava qualquer saída; e eu precisava, mesmo, e muito, e urgentemente, saiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiir dali.
Foi quando lenta, lentamente, algo se expandiu; e me descobri deslizando por um túnel muuuuuuuuuuuuuuuuito apertado, mas que, aparentemente, me levaria à porta de saída.
A partir de então, esgueirei-me como pude; até que me invadiu um sentimento novo, quando vi que me indicava o caminho, logo ali à frente, a luz que, enfim, em breve me banharia.
Mas só descobri que aquele sentimento novo se chamava felicidade quando, chorando de alegria, me ajeitei e senti-me aconchegado naquele ninho terno e tenro, que me acarinhava enquanto me cedia sua seiva caridosa e doce.
Era minha mãe.
Foi assim que nasci para este mundo novo, onde tento cumprir a incontornável e prazerosa missão de dar continuidade ao que meus ancestrais deixaram preparado para mim.