Está disponível para download o livro “Áfricas: política, sociedade e cultura” organizado pelo grupo de pesquisa “Áfricas”, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
O grupo tem como finalidade produzir pesquisas e debates relativos ao continente africano a partir da relação entre História, Literatura e Antropologia.
Leia a apresentação de Helena Wakim Moreno e Washington Santos Nascimento
O livro “Áfricas: política, sociedade e cultura” consiste em uma ampliação dos debates realizados no Simpósio Temático de “Áfricas: políticas, literaturas e identidades” na X Semana de História Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 2015. O livro tem como foco principal a história política e as relações de poder e sociabilidades no continente africano, assim como o próprio evento acadêmico do qual foi fruto. Refletindo sobre questões que versam acerca da história das Áfricas através do prisma político e suas diversas interseções com a cultura e a sociedade, no processo de transmissão de crenças e tradições, interação com os movimentos sociais, construção de identidades, entre outros aspectos.
O primeiro capítulo, escrito pela doutoranda em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Angélica Ferrarez, faz uma discussão sobre a palavra dos griôs enquanto formadores de identidades e nacionalidades na África Ocidental. A autora discute de maneira pormenorizada sobre a mitificação, classificação e a dimensão da palavra no contexto africano e os jogos de negociação e resistências em torno do direito a história.
Ariane Carvalho da Cruz, doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apresenta uma discussão sobre a dinâmica militar no espaço identificado como reino de Angola na segunda metade do século XVIII analisando para tanto as relações entre portugueses, africanos e “filhos da terra”, assinalando através de uma minuciosa pesquisa em acervos militares da coroa que a presença portuguesa dependia em boa medida da cooperação da população, travando assim uma relação mais próxima da interdependência do que da submissão, não obstante as assimetrias do processo.
No capítulo seguinte, a doutoranda pela Universidade de São Paulo (USP) Mariana Bracks Fonseca, se volta para o território de Angola no século XVII afim de analisas como a partir do percurso político da rainha Jinga tem início um processo de reconfiguração das identidades étnicas, que deram origem à etnia que recebe o seu nome, após a morte da soberana.
O quarto capítulo, de autoria de Helena Wakim Moreno, doutoranda da Universidade de São Paulo (USP), trata das transformações ocorridas em Luanda, no contexto do enraizamento do estado colonial em Angola. A partir do grupo conhecido como “filhos do país” são analisadas as variações demográficas, além de mudanças de ordem social e econômica que implicaram em novas formas de uso e circulação pelo espaço da cidade e adjacências.
Finalizando a sequência de reflexões sobre Angola, Washington Santos do Nascimento, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), se debruça sobre o grupo juridicamente intermediário criado pelo estado colonial português, os “assimilados”, entendido aqui como uma forma de negociação/ conflito com as elites locais, em meio às mudanças trazidas pelo estado novo português. Para observar são observadas às legislações que concernem a condição de assimilado, publicadas entre os anos 1926 e 1961.
Inaugura a sequência de capítulos sobre temas contemporâneos acerca do continente africano e sua interação com a cultura afro-brasileira a interpretação acerca das noções de cultura e emancipação no pensamento de Amílcar Cabral, realizada por Danilo Ferreira da Fonseca, professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). A reflexão salienta como o líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) possuía uma percepção original, que se distanciava dos recorrentes determinismos teóricos da época, e valorizava sobretudo a dimensão da experiência local para a construção e a práxis de um pensamento da emancipação.
Por sua vez, Gustavo de Andrade Durão, pós-doutorando da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), contribui com uma apresentação da trajetória do martinicano Frantz Fanon, detendo-se em seu pensamento, buscando caracterizar sua “teoria da violência”, desenvolvida durante a guerra de independência da Argélia, entendendo-a como a via de ruptura com o colonialismo, que teria o potencial de devolver ao colonizado sua liberdade e humanidade.
Na sequência, Isa Bandeira, doutoranda da Universidade de São Paulo (USP), analisa o protagonismo feminino em uma série fotográfica registrada na antiga Lourenço Marques (hoje Maputo) pelo fotógrafo moçambicano Ricardo Rangel. A partir de uma sequência de fotografias de prostitutas que circulavam nas proximidades do porto, a autora demonstra as especificidades e sensibilidades do olhar do fotografo em meio a tarefa de retratar mulheres que pertencem à espaços estigmatizados.
O último capítulo do livro é de autoria da graduada em Letras pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Nathalia Rocha Siqueira, que aborda as interfaces que o escritor angolano Uanhenga Xitu realiza com a religiosidade afro-brasileira em seu livro “Vozes na Sanzala”. A partir de uma leitura da trajetória de Kahitu, protagonista da obra, a autora consegue traçar meios para identificar e compreender como se dava a agência da reorganização do mundo visível e o invisível e relacionando-o com o universo religioso afro-brasileiro.
Ao todo os capítulos presentes no livro dão um bom panorama das pesquisas desenvolvas em torno da história da África no Brasil, esperamos desta forma que todos tenham uma leitura proveitosa.