“As crianças devem ver representações positivas de si mesmas e de outras culturas e raças”, diz Ibrahim Waziri

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Natalia da Luz, Por dentro da África 

Rio – Desde criança, o nigeriano Ibrahim Waziri alimentava o imaginário, transportando a sua realidade para os desenhos estrangeiros a que assistia pela televisão. Apenas na fase adulta ele pode, de fato, inserir sua cultura no trabalho, compartilhando seu sonho com mais africanos. Na tentativa de explorar a cultura africana para as crianças, nasceu Bino e Fino.

– Eu sempre quis fazer desenhos animados para crianças. Eu queria que o primeiro desenho fosse bem educativo! Só muito mais tarde, é que eu notei a ausência de conteúdo africano. Um ponto interessante é que, quando eu era muito jovem, eu só desenhava personagens brancos. Foi só na minha adolescência que eu percebi essa mudança. Foi um processo natural – conta em entrevista exclusiva ao Por dentro da África o desenvolvedor da série Bino e Fino, que foi exibida não apenas na Nigéria, mas também na África do Sul e Reino Unido.

O filme está disponível em inglês, mas está sendo dublado para francês e português, além do iorubá, língua falada na Nigéria, Benim e em países com grande população de afrodescendentes e praticantes de religiões de matrizes africanas, como no Brasil. Ibrahim conta que os personagens principais de Bino e Fino não são baseados em ninguém em particular, mas, vagamente, lembram seus avós.

Peço para Ibrahim listar os desafios de um projeto tão inovador em uma África globalizada, mas que ainda consome referências de cinema e animações dos Estados Unidos, e ele cita:  financiamento, financiamento e financiamento. Ele lembra que, infelizmente, ainda não há uma indústria de animação estruturada na Nigéria e que, associado a este obstáculo, encontrar e treinar os animadores seria o momento mais difícil do projeto.

– Claro que existem os desafios de infraestrutura básica pelos quais passam a maioria das empresas na Nigéria. Há também o desafio da distribuição do desenho animado, a pirataria… O importante é que estamos descobrindo soluções para eles – destaca, ansioso pelo lançamento da próxima temporada, marcada para 14 de agosto.

O desejo dele a longo prazo é o de criar diferentes tipos de conteúdo africano para crianças e adultos e distribuí-los em todo o mundo.

– Nós todos sabemos que o mundo está cada vez mais interligado. Há alguns anos, a maioria das crianças do mundo que tinha acesso aos televisores estavaassistindo a desenhos produzidos principalmente pelos EUA, Reino Unido e pelas empresas europeias. Hoje, estamos mudando isso – contou Ibrahim, irmão do criador da série, Adamu Waziri.

Representações positivas 

Com mais de 170 milhões de habitantes, a Nigéria, a maior economia da África, vem inovando na indústria audiovisual. Em Por dentro da África, publicamos reportagens exclusivas sobre Nollywood e sobre o primeiro filme de um super-herói orixá. Para Ibrahim, esse objetivo de retratar a identidade nigeriana e as questões africanas é vital para influenciar as novas gerações.

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11045327_948615218504309_3618089215275154947_o– Acredito que as crianças devam ser capazes de ver representações positivas de si mesmas e de outras culturas e raças. Se não fizerem isso, poderão gerar interpretações perigosas, como o pensamento de inferioridade em relação à cor, à língua, à história… Trata-se de uma representação positiva de si mesmo na mídia que você consome diariamente, não importa sua raça ou cultura – lembrou.

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O sonho de Ibrahim é poder alcançar o maior número de crianças possível, independentemente de sua posição geográfica. Para isso, ele cita a educação e tolerância como os pilares de um conteúdo de sucesso. E esse sucesso deve estar relacionado à África Negra.

– A maioria das pessoas associa os avanços tecnológicos com os EUA, China, Índia, Europa… Raramente falam da África, o que é extremamente perigoso. Isso está mudando, mas não rápido o suficiente. Se a Disney não pode ganhar dinheiro com uma animação “negra africana”, então, por que deveria fazê-la?  Como produtores, temos de produzir excelente conteúdo e exportá-lo. Há dinheiro suficiente e mercado dentro da comunidade negra para fazer isso!

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