Por dentro da África
Rio – Em 11 de novembro de 1975, Angola se tornou independente de Portugal. Um ano após a derrubada da ditadura em Portugal pela Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974), Agostinho Neto, o primeiro presidente de Angola, exclamou: “diante de África e do mundo proclamo a independência de Angola”. A transição para o período democrático foi marcada pelas negociações com os três principais movimentos de libertação: MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), liderado por Agostinho Neto, FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), de Holden Roberto e UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), de Jonas Savimbi.
O caminho para libertação do país foi traçado em 1961 quando diferentes grupos iniciaram a luta contra o colonialismo português. Logo após a declaração de independência, o país mergulhou em uma profunda guerra civil entre os três movimentos, já que a FNLA e a UNITA não aceitaram a derrota militar nem a saída do sistema político. O conflito tomou grandes proporções durante a Guerra Fria (1945/1991), lembrando que a União Soviética e os Estados Unidos, juntamente com seus respectivos aliados, prestaram assistência militar para as partes envolvidas na guerra. O conflito angolano também provocou impacto em países vizinhos como na República Democrática do Congo e na Guerra da Independência da Namíbia.
Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o confronto de 27 anos fez com que mais de 600 mil angolanos buscassem refúgio no exterior e cerca de 4 milhões se deslocassem dentro do próprio país. Assim, um terço da população do país procurou abrigo fora ou dentro de Angola.
Veja mais: Nzinga, política e religião: contatos e negociações, Por Ademir Barros dos Santos
A guerra que deixou mais de 500 mil mortos chegou ao fim em 4 de abril de 2002 com a assinatura do Acordo de Paz entre o governo do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional pela Independência Total de Angola (UNITA), quando os partidos de maior influência recuaram e depuseram suas armas.
Agostinho Neto
Nascido na província de Luanda em 1922, Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel (Argélia) e de Brazzaville (República do Congo) as atividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974 e 1975. A frente do partido vencedor, Agostinho declarou a independência assumindo as funções de presidente do país e do MPLA.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA. Entre estes, o mais delicado foi o surgimento, no início dos anos 1970, de duas tendências opostas à direção do movimento, a “Revolta Ativa”, constituída por elementos intelectuais, e a “Revolta do Leste”, formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola. Essas divisões foram superadas durante um intenso processo de discussão que levou à reafirmação da autoridade de Agostinho Neto, vencedor do “Prêmio Lênin da Paz” de 1975/1976. Agostinho faleceu na Rússia em 1979 enquanto fazia uma cirurgia para tratar um câncer.
País de contrastes 39 anos depois
Com cerca de 25 milhões de habitantes e um PIB que supera os 121 bilhões de dólares, Angola faz fronteira com República Democrática do Congo, Zâmbia, Namíbia e República do Congo. A presença portuguesa na região começou no século XV, com a chegada do explorador português Diogo Cão, mas a delimitação do território aconteceu apenas no início do século XX.
Veja mais: Política Colonial em Angola: Da 1ª república ao Estado-novista de Salazar
O país possui vastas reservas minerais como as de diamante e petróleo, que ajudam a mover uma economia que cresce em ritmo de dois dígitos desde 1990, especialmente desde o fim da guerra civil. Com a produção de cerca de 1,8 milhão de barris de petróleo por dia, os angolanos ficam atrás apenas da Nigéria, que produz mais de 2 milhões por dia, a maior de toda a África. Apesar disso, os padrões de vida dos angolanos continuam baixos para a maioria da população. De acordo com dados da ONU, em 2001, o nível de pobreza no país era de 68%, em 2008, a pobreza foi reduzida para 37%. A meta para 2015 é de 34%.
Produzido anualmente pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), pelo Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), o relatório “Perspectivas Econômicas Africanas” de 2014 defende que o continente africano pode transformar a sua economia. Segundo o relatório, Angola deve registrar um aumento de 7,9% em 2014 e 8,8 % em 2015.
Por dentro da África