Com informações do Instituto Lula
Rio – Reconhecido mundialmente pelo seu trabalho como africanólogo, Alberto da Costa e Silva, aos 84 anos, mantém firme o seu compromisso com o continente que elegeu para pesquisar com afinco e paixão por toda a vida. “As pessoas dizem que eu tenho mania de ver africano em tudo que é parte”, brinca o representante da cadeira nove da Academia Brasileira de Letras (ABL). Encabeçando a lista de 40 membros do Conselho África, criado pelo Instituto Lula, o escritor, que coleciona mais de 10 obras sobre o continente africano, compartilha o seu entusiasmo com iniciativas em prol da desmitificação e do conhecimento sobre a África.
– Podemos falar que só agora está surgindo, de fato, a primeira geração de professores africanistas no Brasil. Por muito tempo, os estudiosos se interessavam em estudar apenas o processo de descolonização, e isso deixava uma ideia muito parcial sobre a África. Quem não entender a vida familiar dentro da aldeia, quem não compreende o funcionamento da sociedade africana, não vai entender questões tão atuais, como a criação do Boko Haram, por exemplo – ressaltou o também poeta e ensaísta, durante encontro com Celso Marcondes, diretor do Instituto Lula, nesta quarta-feira.
No último dia 23, o Conselho África foi criado com o objetivo de reunir diferentes agentes da sociedade (como pesquisadores, organizações não-governamentais,entre outros) em prol de um objetivo único: visando a compartilhar e estimular o conhecimento sobre a África. Na ocasião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre a escalada da relação entre Brasil e África durante seu governo e o governo da presidenta Dilma. Ao lado de Costa e Silva, que foi Doutor Honoris Causa pela Universidade Obafemi Awolowo, da Nigéria, estão professores africanistas como Fernando Mourão, Luiz Felipe de Alencastro, Kabengele Munanga e Ladislau Dowbor.
Alberto da Costa e Silva, ex-embaixador do Brasil no Benin e Nigéria e também autor do livro Um Rio Chamado Atlântico, lembra que a África ainda é vista de forma muito homogênea, o que acaba desqualificando a sua riqueza cultural e reforçando os estereótipos, um paradoxo diante do acesso à informação. Um dos erros muito comuns, ainda hoje, é o pensamento de que as religiões de matrizes africanas praticadas no Brasil estão disseminadas pela África. Na verdade, elas são originárias apenas da Nigéria e do Benin, que Costa e Silva conhece muito bem.
– Existe uma tendência de as pessoas chamarem a África de uma coisa só, como se toda ela fosse igual. Aqui no Brasil, desenvolvemos uma cultura voltada para o nosso próprio umbigo, mas sem compreender que o país foi criado de fora para dentro: pelos portugueses, africanos (de várias origens), europeus, asiáticos… Tudo isso foi mesclado e ainda está sendo digerido. Nada no Brasil é africano puro, está misturado… Esse país é um grande estômago – disse o escritor que, no momento, escreve o seu terceiro volume sobre a História da África – os primeiros foram A enxada e a lança: A África antes dos Portugueses e A manilha e o Libambo: A África e a Escravidão, de 1500 a 1700.