“África: um novo olhar”, por José Maria Nunes Pereira

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AFRICA UNIONPor dentro da África publica esta pesquisa realizada pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas e produzida por José Maria Nunes Pereira, falecido neste sábado. Agradecemos imensamente pela contribuição do professor no resgate de laços que ligam todos nós. A triste notícia foi dada pelo leitor Marcelo Nicolau.

“África: um novo olhar”

Há muitos milhões de anos, a parte oriental da África produziu um acidente geológico – uma grande fenda, o Rift Valley – que teve repercussões no clima dessa região. Criou condições favoráveis para que primatas se adaptassem à mais propícia vegetação da savana que surgia. Esses primatas deram lugar, entre cinco e quatro milhões de anos atrás, a seres que se tornaram bípedes, o que liberou os seus membros superiores para novas funções. Mais tarde, a evolução da espécie possibilitou que as mãos passassem a ter o polegar oponente aos outros dedos, facilitando a fabricação de instrumentos. Esses foram os primeiros hominídeos dos quais os paleontólogos encontraram ossadas na parte oriental da África.

As pesquisas arqueológicas, que vêm tendo êxito desde a década de 1960, levaram à descobertas em 1974, no Quênia, do esqueleto de uma mulher a quem apelidaram de Lucy, que seria a Eva da humanidade. Essa pesquisa foi feita pela Universidade da Califórnia que investigou o material genético de 189 mulheres de diversas etnias e concluiu que todas seriam descendentes de uma única, Eva, que teria vivido na África entre 160 e 200 mil anos atrás. A fronteira entre os hominídeos e os seres humanos é difícil de ser estabelecida.

O aparecimento destes deu-se quando o clima africano apresentava-se como o mais favorável do planeta. O solo começava a arrefecer e surgiram as savanas. Os primeiros hominídeos de que temos conhecimento foram os Australopitecos, dos quais, até hoje só foram encontrados vestígios na África. O testemunho mais recente surgiu no norte da Etiópia, de quatro a cinco milhões de anos atrás. Cerca de três milhões de anos depois, surge o Homo habilis com o cérebro maior do que o dos australopitecos. Fabricava utensílios de pedra afiada, utilizava o fogo e alimentava-se de carne. Suas ossadas foram encontradas no vale de Olduvai, na Tanzânia.

Em seguida, aparece o Homo erectus, há perto de 1,5 milhão de anos, que também se desenvolveu primeiro na África. Finalmente, há cem mil anos atrás é também neste continente que aparecem os vestígios do Homo sapiens sapiens. Este teria partido da África para colonizar outras partes do mundo. Vale lembrar aqui o historiador J.Iliffe. Para ele, o ponto central da História da África é a saga dos seus habitantes que, como “sertanejos” colonizaram uma região do mundo, particularmente hostil, a bem da raça humana que, a partir dali assumia a sua forma. Iliffe salienta a capacidade do africano de ter sabido “coexistir com a natureza e ter vindo a criar sociedades resistentes capazes de, no decorrer do tempo, resistir a agressões vindas de regiões mais favorecidas”. Dois motivos básicos obrigam-nos a relevar os estudos sobre a África. O primeiro deles, para nós brasileiros, é o caráter de matriz histórica e cultural que os africanos e os seus descendentes tiveram na formação e desenvolvimento da sociedade brasileira, marcando de forma indelével a nossa identidade nacional. O segundo, é a importância intrínseca do continente na História Mundial.

Ele protagonizou, por exemplo, um dos mais importantes processos políticos do século XX, o da descolonização. Além do mais, as crescentes demandas da sociedade brasileira, 10 Para o historiador J. Iliffe, o ponto central da história da África é a saga dos seus habitantes que, como “sertanejos” colonizaram uma região do mundo, particularmente hostil, a bem da raça humana. Os africanos “souberam coexistir com a natureza e criar novidades resistentes capazes de no decorrer do tempo, resistir a agressões vindas de regiões mais favorecidas”. A relevância da história da África para o mundo e para a compreensão da sociedade brasileira em especial os afro-descendentes, e o novo patamar em que o Brasil está se inserindo na cena internacional, exigem um novo tipo de conhecimento sobre a África.

As crescentes demandas da sociedade brasileira, em especial as dos afrodescendentes, e o novo patamar em que o Brasil está se inserindo no cenário internacional, exigem um novo tipo de conhecimento sobre a África.

As prováveis origens do nome África derivam, como é natural, do norte do continente. Uma delas é Afrig, nome de uma tribo berbere do antigo império de Cartago. A segunda, e que prevaleceu por séculos, foi o de Líbia, designando a parte então mais conhecida do continente – da Tripolitânia até a atual Tunísia. O nome de Líbia teria sido dado por Heródoto quando usou o nome de heroínas míticas para designar os três continentes então conhecidos: Europa, Ásia e Líbia. Este último nome predominou até o século XVI quando foi adotado o de Afriquyia, antiga designação árabe, que mais tarde foi latinizada para África.

O continente, de forma triangular, é praticamente uma ilha desde que, na segunda metade do século XIX foi separado da Ásia pelo Canal de Suez. A África apresenta, grosso modo, três grandes fachadas: ao norte, o Mediterrâneo, a leste, o Oceano Índico e a oeste, o Oceano Atlântico.

Leia a pesquisa completa aqui, na Casa das Áfricas