África em Verso: “Cotidiano Palhaço De Mão Cheia”

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 Zaire - Angola. - Foto de Jorge Capucho
Zaire – Angola. – Foto de Jorge Capucho

“Cotidiano Palhaço De Mão Cheia”

Por Manuel de Sousa
Sou um palhaço multiversatil dum raio
Não sei se rir a chorar ou chorar a rir
Nem se ficar triste ou tão contente assim
Tenho a expressão pintada às pintas e às riscas
Visto-me sempre de cores garridas e vistosas
Gosto de finos cetins e sedas brilhantes
Adoro ver os olhos sorridentes de crianças
De idiota tenho muito pouco ou nada
A estupidez não se me apega à pele
Retorço-me a chutar tudo isso a largas distâncias
Piso o solo com meus longos sapatos
Ando de pernas abertas e bamboleantes
Rio-me amiúde ao espelho de minha cara
Caracterizo-me para parecer-me com o mundo
Na lapela carrego sempre uma flor alegre
Sei fazer malabarices de corpo e mãos enluvadas
Faço piruetas difíceis de fazer a qualquer um
Caio facilmente imenso da corda bamba abaixo
Tento manter o equilíbrio onde ele não há
Minhas palhaçadas são de alguém consciente
Sou tão sensato e racional que desato a rir disso…Escrito em Luanda, em abril de 2015, pelo poeta angolano Manuel de Sousa, em homenagem aos que têm coragem e arte para fazer rir crianças e aqueles de coração e semblante triste.