Poema em homenagem ao meu mestre Manoel de Barros (1916-2014)
Por Morgado Mbalate, poeta moçambicano
Nasci falando aves, pedras, rãs e águas.
Uma parte de mim é rio e a outra parte é passarinho.
Estou sempre enamorado de sol e águas.
Escrevo sempre com o lápis dos musgos e a letra dos sapos.
Meus versos sujos são passados a limpo pelas pedras, rãs, árvores e caracóis.
Meu corpo anda aves e ventos.
O meu céu é o mundo silencioso das coisas.
O meu espírito é um passarinho voando para tomar banho de rio.
Eu quero um planeta feito de anêmonas.
Eu quero aquela ave vestida de sol na margem do olho da água.
Eu tenho vocação para ser poesia.
Tenho a medida do sol, da chuva, e a de um beija-flor.
Tenho em mim pedras e lagartos.
Cada passarinho no mundo é uma imagem de mim.
Minha mente é uma máquina de fazer passarinhos.
Eu tenho lugar no mundo das aves.
De corpo inteiro gorjeio pássaros.
Minhas mãos guardam o corpo de Deus ao vento.
Circundo-me de árvores, penso vento e falo sol.
Eu sou água, escuto peixes.
Falecido nesta quinta-feira, o poeta brasileiro Manoel de Barros recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis.
Por dentro da África