Paula Reis, Por dentro da África
(Paula Reis é aluna da UNILAB de São Francisco do Conde)
Já tinha concluído aquele livro desde a semana passada. O mais difícil agora era encontrar um título. Nunca fora boa com essas coisas e achava que isso poderia estragar um romance, inclusive. Mas dessa vez, era obrigada a nomear. A editora não aceitaria um livro sem título, obviamente.
— Por que as pessoas precisam dar nomes a tudo? — Indagava Vênus.
Vênus era o nome dela, mulher negra dos cabelos rebeldes mais lindos do mundo. Ela até que gostava do nome que tinha recebido do avô intelectual, mas não se achava, nenhum pouquinho, parecida com as “deusas” que via na televisão. Seu livro falava exatamente sobre isso: a não-representatividade da mulher negra na TV.
Gostava de inovar nos seus escritos sempre. Já era conhecida pelos textos questionadores que publicava na sua página no facebook, mas essa seria a primeira vez que publicaria um livro. Após longas horas quebrando a cabeça, decidiu que o livro chamaria “ Não, porque não, e pronto — não nos querem na TV”. Título bastante condizente com o conteúdo das páginas.
A editora não aceitou. Nem o título. Nem o livro. Nem uma Vênus negra. Não, porque não, e pronto! A história de Vênus poderia ser como a de quase todas as outras mulheres negras, que apesar de serem “de cor”, são invisibilizadas. Mas não! Vênus buscou uma editora menos conhecida, conseguiu publicar não somente o livro em questão, mas muitos outros.
A deusa da beleza e do amor, continua espalhando solidariedade para com as suas companheiras de luta. A literatura foi a maior libertação para essa guerreira. Ainda ontem, no lançamento do seu mais novo livro, Vênus dizia: — Nós não nos permitiremos desistir! Não, porque não, e pronto!