África em Crônica: “Abracadabra”, por Hirondina Joshua

0
265
Bom dia de Burundi! Registro da leitora Fotógrafa Virginia Maria Yunes!
Bom dia de Burundi! Registro da leitora Fotógrafa Virginia Maria Yunes!

Por Hirondina Joshua, Por dentro da África

Não me esqueço desse professor que não cansava de nos emails com baixa frequência da turma escrever como nota de rodapé: ” se quiseres esconder algo para um africano ponha num livro”. “Uma frase que nunca me irei esquecer”.

Assinava carinhosamente e com os devidos cumprimentos. O mais estranho de tudo é que nunca dizia a frase ao vivo. Então aquilo era assunto virtual coisa de email. Na sala ele só dava aula. Nada de misturar assuntos. Dizem que nós africanos, temos conhecimento guardado nas portas do medo.

Temos medo de dar o que sabemos e preferimos ficar inertes que ver um outro a usar o que supostamente é nosso e foi para nós feito. Negamos a condição da “tradição”, passagem que enriquece mais o mundo em que moramos. Outro dia, estava numa rua a ouvir uma conversa de uma jovem senhora que se lamentava por não saber qual era a raíz que tomava quando criança para aliviar as dores estomacais.

Dizendo que só importava em receber o remédio nunca se interessou em saber como prepará-lo e menos em que árvore encontrar. Nem ela nem as pessoas que a rodeiavam. Assim morria tudo: o conhecedor, o desconhecedor e desconhecido. É relíquia o conhecimento, sendo assim não deve ser deixado de qualquer maneira e os seus detentores autorizados são os que têm mais idade; – assim se faz.

O estranho disto tudo é que tais detentores não nasceram com a idade foram se fazendo com o tempo. Ora, temos dois dilemas: o não interesse pelo saber; e o saber exilado como modo de proteger, invólucro para se defender dos outros. Porque se defender dos outros é conservar bem o “ego”.

Esta é a nossa forma de operar enquanto “pessoas”, indivíduos deseducados na educação que a todo custo devem desempenhar as suas funções como a antiga “máscara” a “persona” com quem nos deparamos todos os dias. Para que vale o conhecimento senão para ser usado para coisas práticas?

A primeira prática do conhecimento é mostrar aos outros o que se conhece. Aqui não se perde como muitas vezes se pensa. Ganha-se e muito. Esconder o que valeria para os outros é corromper o mundo com as mãos. Estragar-lhe o movimento, os dias e as noites. Imagino se tivessemos que nascer sempre a primeira vez para o mundo, o próprio mundo se aborrecia; esta é a principal doença dos africanos: esconder o que é seu.

As descobertas são extensões de outras descobertas. O conhecimento vai passando de pessoa para pessoa, geração para geração. Nós africanos, em vez de combatermos, e lutar contra estes males…. Puxamos a cadeira e assistimos de camarote, a ciência dos ousados.