Por Gabriel Ambrósio, Por dentro da África
Goiânia – Lançado nos Estados Unidos, em 1997, este filme é um drama histórico com consequências presentes. Amistad significa amizade, mas, na verdade, é a inimizade que aparece na história.
“Temos pouquíssimos conhecimentos de como os africanos desalojados, escravizados ou livres que vieram ou foram trazidas contra a vontade para os Estados Unidos se sentiram diante da perda da língua, de ter de aprender Inglês... “HOOKS, 2013, p. 224. – Bell Hooks, Ensinando a transgredir.
Esta questão linguística é bem marcante no filme. Só que a língua desses seres humanos não era reconhecida. A ignorância e a maldade de alguns brancos são marcadas quando defendem que os negros escravos eram culpados da carnificina. E o sangue que se verteu no transporte dos homens negros em condições desumanas?
A religião oferecia Bíblia como se fosse um ato de libertação do sofrimento dos escravos
Durante séculos, a Bíblia legitimava a escravidão. O direito no filme é muito importante. Só a prática que é nula. Os religiosos junto dos padres gritavam que aquilo que os brancos faziam era injusto. A religião é falha desde o passado, ela foi cúmplice e hoje recorre ao continente africano para evangelizar e deixar o povo na alienação.
Julgavam as pessoas como se não existisse identidade
Todos os seres humanos têm um nome, têm uma cultura e uma língua. O comportamento dos escravos nos tribunais era imprevisível porque não conseguiam entender o que era dito durante os julgamentos. Nas cerimônias de óbito, era evidente o valor das suas crenças. É incrível que a cultura seja imortal quando é reconhecida e entendida por seus criadores. Esses eram os sobreviventes em terras distantes culturalmente. Os próprios negros que eram esses escravos são os mais importantes na luta de abolição. Veja na obra de W. Edward B. Du bois, “As almas da gente negra”.
[…] Esquemas de imigração e de colonização surgiram esporadicamente entre eles; mas eles acabaram por voltar-se para o movimento abolicionista como um final…. pois a guerra e a emancipação a grande figura de Frederick Douglass, o maior dos líderes negros americanos, John Brown e militante e abolicionista… Na história de quase todas as raças e povos, a doutrina pregada em tais crises tem sido a de autoestima corajosa. Vale mais do que terras e casas. Um povo que, voluntariamente, abre mão do respeito por si próprio ou que deixa de lutar por ele, não é digno de civilizar-se. GOMES, 1999. Pp. 104 e 107.
A comunicação é essencial em todas as nossas relações
Só com a presença do tradutor é que se estabeleceu a relação do advogado branco em defesa do negro. Na história, muitos negros eram raptados pelos brancos, pela força das armas, com o apoio de muitos pobres de espírito de alguns negros alienados. Isso acabava desesperando aqueles que eram importantes nos seus países. O sonho dos africanos era voltar para África, o seu verdadeiro berço.
A ignorância de muitos brancos por desconhecimento englobando a África como se fosse coisa pequena
Essa é a herança que hoje continua na mente de muitos acadêmicos, doutores, mestres, pesquisadores. Eles não especificam nada sobre o continente africano. Só dizem África! Quem construiu os países americanos? Sabemos, sem dúvida, que uma boa parte foi do trabalho dos negros. A escravidão é muito mais injusta e cruel. A história é uma raiva escondida.
A liberdade nem sempre é plena, talvez, algumas pessoas a tenham só pelo pensamento. Na invocação espiritual dos seus ancestrais nota-se a valorização da identidade cultural, crenças e presença da tradição dos africanos.
O ser humano é um deus em pessoa. Não tem preço. É falta de moral, e de sensibilidade entender a realidade e o valor de um ser humano. Falta de humanidade que o mundo ainda vive em suas desigualdades, misérias que se expandem a cada dia que passa!
Filosoficamente, entendo a história da escravidão como o ato mais desumano. Ninguém nasce para ser simples objeto, e alvo de negociação para conquistar a liberdade. Se no passado ou mesmo nesses séculos da escravidão existiam vários filósofos, pergunto o que tinham feito todos os filósofos. São cúmplices dos grandes males!
E mesmo hoje muitos intelectuais nada falam sobre a neo-escravização das mentes, das culturas, das tradições e das línguas. Hoje, a humanidade ainda clama por verdadeiros filhos que engrandeça o valor do homem e da mulher. E, principalmente, o valor dos negros e negras que ainda sobrevivem em condições muito precárias. Os preconceitos e segregação econômica, e mesmo a racial ou étnica que muitos negros vivem dentro do continente e na sua diáspora é percebida. Almejo que a educação transmita novos valores sobre a humanidade.
A discriminação associada aos agentes de segurança pública ou privada, na detenção dos traficantes, parece acusar sempre os negros. É preciso a conscientização dos policiais que o mundo do crime não pertence à negritude. Mas é dividido pelos brancos e negros!
A quem diga que a história mudou, mas se formos observar cada detalhe nos relacionamentos e vivência dos países ocidentais, encontraremos algumas realidades sociais semelhantes comparadas às realidades retratadas no filme.
Em fevereiro de 2012, aconteceu a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, e os grandes jornais da imprensa escrita não pautaram isso. O silêncio faz parte do dispositivo do racismo brasileiro. Como disse Elie Wiesel: o carrasco mata sempre duas vezes. A segunda mata pelo silêncio. O silêncio é uma maneira de você matar a consciência de um povo.
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3 http://revistaforum.com.br/blog/2012/02/nosso-racismo-e-um-crime-perfeito/ Acesso 13 de novembro de 2013. […houve e mesmo quando tem algo semelhante não se dá valorhttp://revistaforum.com.br/blog/2012/02/nosso-racismo-e-um-crime-perfeito]
Referências
http://www.filmesdecinema.com.br/elenco-amistad-207/# referência do elenco e personagens
DU BOIS W. Edward B, “ As almas da gente negra” Tradução Heloisa Toller Gomes. Editores Lacerda. Rio de Janeiro , 1999. Págs. 104, 105, e 107.
Retirados no site . http://revistaforum.com.br/blog/2012/02/nosso-racismo-e-um-crime-perfeito/.
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir, A educação como prática da liberdade. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. Editora Martins Fontes. São Paulo. 2013. Pág. 224.
[1] Pseudônimo literário do Gabriel Ambrósio, estudante do VIII Período de Letras. PUC GOIÁS. Poeta, cronista e contista. Membro do PROAFRO da PUC Goiás. Email: mavendaanuni@gmail.com
2 Conceitos que os muçulmanos nos Estados Unidos comandos por Líder Elijah Muhammed, viajou pelos principais Estados norte-americanos para pregar as suas ideias e defender a libertação dos negros.