Natalia da Luz, Por dentro da África
Ele desenvolve um tipo de performance multimídia que usa o próprio corpo para propor reflexões políticas e sociais. Artista e ativista, Jelili Atiku, nascido na Nigéria, aponta questões como exploração, desigualdade e corrupção em um trabalho realizado nas ruas, centrado na interação.
“No meu trabalho, eu abordo principalmente a migração, o movimento desse corpo na África. Hoje, nós estamos diante do mar, desse mar por onde os africanos chegaram acorrentados. Por isso também que eu gosto de mostrar a energia desse corpo negro. Nós somos sobreviventes”, disse Jelili em entrevista exclusiva ao Por dentro da África.
Assista ao vídeo abaixo:
Em passagem pelo Rio de Janeiro, acompanhamos o artista em sua visita ao circuito da herança africana, no Rio de Janeiro. Diante do Cais do Valongo, o maior porto de desembarque de africanos escravizados do mundo, o nigeriano refletia sobre
a escravidão no país que concentra hoje a segunda maior população negra do mundo, depois da Nigéria. Durante o tráfico transatlântico (entre os séculos 16 e 19), cerca de 5 milhões de africanos chegaram ao Brasil.
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“Eu me tornei um migrante no mundo. Estou no Brasil hoje, mas vim da Nigéria. Nós interagimos com a natureza, com as pessoas, com os lugares. Isso foi moldando a minha experiência e consciência sobre como ainda temos uma liberdade muito limitada nesse mundo de muros entre fronteiras”, disse o artista.
O nigeriano faz uso de inúmeras ferramentas para traduzir e transmitir suas mensagens. Ele provoca, choca e guia os espectadores. Adereços, máscaras, ferro, pedaços de madeira, correntes, animais, pessoas, plantas, vida! Em sua performance Alaagba, ele carrega o público como uma procissão. Nas ruas do Rio (durante a exposição Ex Africa), ele mostrou essa resistência de um sobrevivente. Leia o depoimento de Elizah Rodrigues
“Também somos água, temos que dar liberdade para as pessoas se moverem, temos que redefinir o nosso posicionamento no mundo com civilidade”, contou o bacharel e mestre em Artes pela Universidade de Lagos, Nigéria.
Jelili critica as armas nucleares, homenageia Nelson Mandela, condena a xenofobia. A sua presença em cena é radical e transborda sentimento, todas as faces desse organismo vivo. Seu trabalho já o levou para a prisão em 2016, na Nigéria.
“Estamos em um momento de fazer análises críticas e eu faço bastante isso com o meu povo. A Nigéria é um país com terra, pessoas com energia, então, qual é o grande problema? Eu digo: corrupção, liderança, desigualdade, péssimos governantes que sabotam o povo”, afirmou o artista que já exibiu seu trabalho em mais de 30 países.
Nigéria tem mais de 190 milhões de habitantes. É o país mais populoso do continente africano. Lidera, ao lado de Angola, a produção de petróleo no continente. É a maior economia da África. Quando Jelili fala sobre o seu país, critica o nepotismo, que se estabeleceu e não saiu do país desde a independência, em 1960.
Em Maanifesito IV, a performance de Atiku simboliza a prevalência de práticas de fraude e corrupção na Nigéria. Realizado com Durodola Yusuf e Babatunde Olumide Elufidipe, o projeto de Atiku imagina um partido político fictício, o Partido do Bem-Estar do Povo (PWP), enquanto ele faz intervenções no discurso político na Nigéria.