Por Gabriel Ambrósio, Por dentro da África
Luanda – Até ao presente século o povo negro em Angola, na África e no mundo continua reproduzindo o padrão europeu. As mulheres negras em Angola jamais se sentem lindas, maravilhosas sem os postiços ou cabelos alisados. O mestre Frantz Fanon, já falava sobre o problema de autoestima que o nosso povo sofria e sofre ainda hoje.
Bell Hooks, Toni Morrison, Malcolm X, entre muitos intelectuais negros e negras colocavam que a questão da autoestima aparecia como uma doença, especialmente entre as mulheres. Esse assunto não é novidade para as africanas no Brasil, Haiti, Colômbia e também na África. A diferença é que muitas negras em diferentes lugares já resistem diasporicamente, enquanto em Angola, percebo que é difícil essa resistência.
Reconheço, porém, que há um grupo de mulheres angolanas que lutam, mas a doença de baixa autoestima entre as angolanas é visível. Percebo também que há uma certa falta de ideologias panafricanistas nas mulheres que não se orgulham de sua identidade.
Garvey (ativista jamaicano morto em 1940) , um dos principiantes do panafricanismo no mundo, já alertava, no século XX, para o resgate da beleza preta. Acontece que o sistema eurocêntrico sempre impediu que as mensagens chegassem à Angola. “Nas primeiras décadas do século 20, por todo o mundo, a autoestima negra era constantemente diminuída e submetida a um padrão de beleza branco europeu. Negros e negras eram induzidos a não perceberem sua descendência africana e aceitarem sua inferioridade relacionada à sua cor” (p. 57).
Pensando nessa citação continuamos colonizados ideologicamente pelo europeu, pois as mulheres negras em Angola não aceitam o seu cabelo natural. Na verdade, as belezas naturais merecem “rebatismo” identitário para erguerem a autoestima secular.
Garvey tinha toda razão ao afirmar que devemos “restaurar a pérola e a coroa da orgulhosa Rainha Sheba”. Por que vocês pretas angolanas e diaspóricas africanas negam o cabelo da negritude imitando as chinesas e europeias? Por que imitais, por que se negam? Por que não imitam as pretas rainhas da África pura?
Não me odeiem porque é o que vejo nas ruas de Luanda, nos musseques; no Soyo, ou Tomboko(co) e nos Kongos. Como me calar, se sou panafricanista, afrocentrista, filho de Marcus Garvey, sobrinho de Assata Shakur, sobrinho materno de Ntotila? Como calar-me se a humanidade espera por nós? Como calar-me se o eurocentrismo está calado e os seus seguidores continuam explorar e destruir a sua beleza preta?
A receita de autoestima se torna simples com o africanismo. A comunidade agradece e as crianças se inspiram na beleza natural. Não é possível até nos salões de beleza que haja predominância de estéticas não africanas. Quem mora nos musseques sabe exatamente a realidade, e não apenas nas periferias e guetos do mundo.
Essas são observações pessoais e coletivas, partindo do musseque a centros urbanos. Novo ano, novos olhares, novas críticas e reafirmação cultural.