Rio de Janeiro: Instituto celebra 20 anos de descoberta do Cemitério dos Pretos Novos

0
356

Captura de tela 2016-01-05 às 23.32.08
Por dentro da África

Rio – Durante as escavações para uma reforma, no ano de 1996, os proprietários de uma casa acharam um verdadeiro sítio arqueológico enterrado debaixo de seus pés. No próximo dia 16, um grande encontro no Instituto dos Pretos Novos, no Rio de Janeiro, recordará essa história de extrema importância para as relações entre Brasil e África.

-Esse achado veio mostrar uma história que há mais de 200 anos estava esquecida. O Valongo e Valonguinho formaram o maior complexo de venda de almas do Brasil – conta em entrevista ao Por dentro da África Merced Guimarães, responsável pelo Instituto dos Pretos Novos.

Embaixo da estrutura do prédio havia um cemitério de negros vindos da África, que não resistiam à viagem e morriam antes de serem comercializados. Foram encontrados fragmentos de crânios e ossos humanos dentre artefatos de cerâmica, vidros, metais e outras evidências arqueológicas.

musei ipnAo comunicar o achado ao Centro Cultural José Bonifácio, situado na redondeza, o assunto foi diretamente transmitido ao Departamento Geral de Patrimônio Cultural, órgão da Secretaria de Cultura, que logo mandou uma equipe de profissionais da Prefeitura e do Instituto de Arqueologia Brasileira para confirmar o potencial histórico.

-Nos primeiro anos foi muito difícil, pois eu mesma não tinha certeza da importância do achado. Alguns diziam que era muito relevante, mas não faziam nada para ajudar ou pesquisar e assim foi passando o tempo… Em 2001, com o novo prefeito, fomos chamados para uma conversa – lembrou Merced.

O local foi transformado em sítio arqueológico e, mais tarde, em Centro Cultural, visando manter viva não só a história da cidade do Rio de Janeiro, como também a do Brasil e da África.

Saiba mais: Conheça a rota da herança africana no Rio 

-Durante muitos anos, eu deixei de viver para ver essa historia consolidada. Eu abri mão financeiramente para lutar por essa memória. Discuti várias vezes com minha família devido à minha luta, abri mão de alugar os dois imóveis e hoje fico aqui praticamente de domingo a domingo –
Evento 
No dia 16 de janeiro, das 11h até às 22h, haverá uma série de atividades na sede do Instituto que fica na Rua Pedro Ernesto, 36, centro do Rio de Janeiro.

-Teremos um culto inter-religioso com sacerdotes de várias religiões, que possuem forte significado para os que aqui foram sepultados e seus descendentes, com a intenção de mostrar o nosso respeito e reverência a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a construção de nossa identidade étnica e cultural – contou Merced sobre o evento. 

Programação

11h – O IPN recebe visitantes.

15h – Culto Inter religioso

16h – 18h – RODA DE CONVERSA – Marcelo Griot – O Griot de Muitas Vozes 20 ANOS de Respeito à Memória  – Mediador: Marco Antonio Teobaldo, curador do IPN Primeira rodada – Família Guimarães (Merced, Petrucio e filhas) A descoberta que mudaria suas vidas. Memórias familiares e desafios institucionais.

Segunda rodada – Representantes do IPHAN, INEPAC, IRPH, Fundação Palmares. Patrimônio como fonte de auto-conhecimento e a importância do Sítio Arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos no contexto local.

Terceira rodada – CDURP, Alberto Silva Preservação do Sítio Arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos e a sua importância para a candidatura do Cais do Valongo, para Patrimônio da Humanidade.

Quarta rodada – Pesquisadores do IPN (Julio Cesar Medeiros, Claudio Honorato, Reinaldo Tavares, Simone Vassalo e Carla Marques) Descobrindo raízes da história por meio de pesquisas do Sítio Arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos.

Quinta Rodada – Superintendência de Museus RJ, Curador do IPN e artista visual Patricia Gouvea Os novos conceitos de Museus e a trajetória do IPN desde a sua fundação.

No vídeo abaixo, saiba mais sobre o circuito da herança africana no Rio