Na última década, após muitos países africanos adotarem novas tecnologias houve um progresso significativo nos diagnósticos de tuberculose. A doença é a nona principal causa de morte no mundo e a principal causa de morte por um único agente infecioso, superando o HIV/SIDA. Mais de 33% das mortes ocorrem na África. Jean de Dieu Iragena, especialista da OMS em diagnósticos de TB na Região Africana, discute essas tecnologias e como aproximá-las das pessoas, para que desafios como a TB multirresistente (TB-MDR) possam ser gerenciados e controlados adequadamente.
*Que fatores estão impedindo o diagnóstico eficaz da TB na região da África?
Muitas áreas rurais carecem de infraestrutura de saúde adequada e ferramentas essenciais de diagnóstico, por exemplo, máquinas GeneXpert. Há também uma escassez significativa de profissionais de saúde treinados, inclusive técnicos de laboratório e especialistas em tuberculose.
Os custos associados ao diagnóstico da TB são mais altos e, muitas vezes, as máquinas de diagnóstico rápido e molecular só são encontradas em centros urbanos. Portanto, as pessoas em áreas remotas geralmente enfrentam longas distâncias de viagem para acessar esses serviços de diagnóstico.
O estigma e a falta de conscientização sobre a tuberculose impedem o diagnóstico oportuno e, portanto, o tratamento. Precisamos de campanhas maciças em todos os países para ajudar as pessoas a entenderem melhor a doença, suas implicações e para aprenderem melhor sobre a rapidez com que essa doença pode ser diagnosticada e tratada. O estigma se baseia na natureza da doença.
A TB é uma doença infecciosa e uma pessoa infectada pode estar sujeita ao estigma da família, da comunidade e da sociedade. Seus sintomas são desagradáveis e, portanto, alguém que esteja muito doente pode ser estigmatizado.
*Que avanços foram feitos nos diagnósticos e em outras medidas importantes de controle da TB na região?
Nos últimos 10 anos, a OMS tem se esforçado muito para aprimorar as tecnologias de diagnóstico para testar a TB. Existem outras tecnologias tradicionais, como a microscopia de esfregaço, que deixam passar uma porcentagem maior de casos porque não são capazes de diagnosticar a TB e a resistência aos medicamentos precocemente.
O foco agora está nos métodos de diagnóstico rápido e molecular, como o GeneXpert, que pode não apenas detectar com precisão a TB, mas também a presença de TB resistente a medicamentos em uma amostra. Há também outros métodos de diagnóstico molecular que foram aprovados, por exemplo, o sequenciamento do genoma, que está realmente progredindo na velocidade do diagnóstico. Outros avanços estão relacionados aos métodos de triagem.
A OMS tem recomendações sobre a triagem sistemática de indivíduos de alto risco que têm maior probabilidade de ter TB, o que pode acelerar a detecção precoce antes do aparecimento dos sintomas.
O que os países e as pessoas podem fazer para evitar a MDR-TB?
Houve um grande progresso em relação aos protocolos aprimorados de tratamento da TB. Com a multirresistência, que tem afetado a região da África, novos regimes de medicamentos foram recomendados para combater as cepas de TB resistente a medicamentos, e esses regimes incluem tratamentos mais curtos, cursos e novas modificações. É claro que um tamanho único não serve para todos e cada tecnologia tem suas vantagens e desvantagens, portanto, o programa de TB deve fazer uma avaliação das necessidades.
Com base nesses requisitos, é necessário identificar melhor a tecnologia que pode se encaixar em um ou outro ambiente, de modo que alguém que seja diagnosticado com TB também possa ser diagnosticado com um perfil de resistência a medicamentos. Isso pode ajudar o clínico ou o médico a prescrever especificamente o medicamento adequado, o que contribuirá para o sucesso do tratamento.
Precisamos garantir que, quando uma pessoa apresentar sintomas, ela seja diagnosticada precocemente para evitar a transmissão da doença e seja imediatamente submetida ao tratamento correto. Isso ajudará a cortar a cadeia de transmissão.
É fundamental que os mecanismos de financiamento para a TB continuem, para garantir que os ganhos obtidos até agora não sejam perdidos. Se não investirmos no sistema laboratorial, será mais difícil conter qualquer pandemia ou surto.