Natalia da Luz, Por dentro da África
Rio – Usar a energia para mover o futuro. Essa é a missão de uma organização que vem desenvolvendo atividades e tecnologias alternativas para aumentar, ao mesmo tempo, o acesso à eletricidade e à educação. Em Pediatorkope, uma ilha no sudeste de Gana, crianças produzem energia para as suas escolas e comunidade, enquanto brincam na hora do recreio.
– Em Gana, normalmente crianças em idade escolar têm pausa entre as aulas, duas vezes por dia. Durante esses intervalos, elas jogam, brincam e geram energia – disse o diretor da empresa Empower Playgrounds para Gana Isaac Darko-Mensah, em entrevista exclusiva ao Por dentro da África.
Em Pediatorkope, há um balanço e um carrossel onde mais de 400 crianças podem brincar e gerar energia Apesar de a ilha ter ganhado projeção com a iniciativa, o programa já funciona em diferentes lugares do país, atendendo mais de 40 escolas.
Para cada 30, 40 minutos de brincadeira, a criança pode gerar cerca de 700 watts de potência, o que faz com que um gerador de moinho de vento produza eletricidade com uma eficiência acima de 70%! Isaac explica que um cabo enterrado transmite a corrente a um conversor para que a energia elétrica possa ser armazenada em uma bateria com tecnologia de gestão para maximizar a sua vida útil. Ele ainda lembra que um painel solar também é instalado com o gabinete de energia para manter a bateria durante as férias escolares.
De acordo com o Banco Mundial, apenas uma dentre quatro crianças tem acesso à rede de eletricidade na África. Crys Kevan Lee, diretor-executivo da empresa que também conversou com Por dentro da África, lembra que, segundo o Estudo de Iluminação na África realizado em 2008, 67% das pessoas em Gana têm acesso à rede de energia, mas apenas 23% das pessoas em áreas rurais têm acesso à rede elétrica.
– O objetivo do nosso projeto é fornecer luz para as crianças, para as escolas e viabilizar o estudo durante a noite. Crianças em áreas rurais precisam trabalhar para ajudar suas famílias, antes e depois da escola. Suas horas de luz do dia são gastas para trabalhar na aldeia, buscar água, apanhar lenha, cuidar dos irmãos mais novos… O único tempo que elas têm para estudar é à noite, mas sem eletricidade, não conseguem – explica o diretor, lembrando que, por isso, as crianças levam lanternas para completar a lição de casa à noite.
Empoderando as meninas
Kevan destaca que muitas famílias podem enviar apenas alguns de seus filhos para a escola. Infelizmente, essas crianças tendem a ser meninos. Por isso, a organização que cria equipamentos voltados para crianças em países em desenvolvimento aproveita para incentivar a mudança, colocando as meninas na posição de “líderes das lanternas.”
Pergunto a ele qual é a importância desta iniciativa para capacitar as meninas e a população como um todo. Em sua resposta, diz que, nos países em desenvolvimento, as meninas são, muitas vezes, subestimadas, que sua educação é frequentemente adiada, principalmente, nas áreas rurais.
– Pelo fato de os professores e diretores atribuírem às meninas a liderança das lanterna, isso mostra aos pais que eles devem dar importância à educação das meninas. Essa simples atitude também permite que as meninas possam ter uma posição de liderança em seu grupo. Ser um “líder-lanterna” dá a elas responsabilidade! – afirma Kevan, completando que os líderes da lanterna têm a responsabilidade de se certificarem de que a lanterna está acendendo à noite para estudar.
Como surgiu a ideia
Depois de se aposentar como vice-presidente de Engenharia da ExxonMobil, Ben Markham e a esposa se mudaram para Gana, em 2006. Observando as aldeias,Markham viu que a falta de energia elétrica era um grande problema. Percebendo a escassez de brinquedos nos pátios das escolas, ele se perguntou: “E se uma parte da energia usada para brincar pudesse seraproveitada? E se essa energia pudesse se transformar em luz para as salas de aula e para as casas? “
Com a ajuda de professores e alunos da Universidade Brigham Young, ele criou brinquedos para serem usados durante o recreio. Markham conta em seu site que, após um rigoroso processo de seleção da escola, envolvendo cientistas sociais e o Ministério da Educação de Gana, os brinquedos foram instalados. O primeiro carrossel foi colocado em 2008. Estas escolas não só se beneficiam de eletricidade geradora de equipamentos, mas também a partir de um módulo de educação científica, que ajuda a melhorar a aprendizagem do aluno.
A lanterna inteligente tem um chip de computador que gerencia tanto o carregamento da bateria quanto o funcionamento das luzes especiais de LED. A iluminação equivalente a uma lâmpada de 25 watts por mais de 40 horas é fornecida por cada recarga. A lanterna LED que as crianças levam para casa dura 40 horas a partir de uma única carga. Já a quantidade de energia produzida por dia depende da quantidade de tempo que as crianças brincam no equipamento! É difícil de mensurar, mas Kevan garante que a energia gerada é suficiente para suprir a necessidade da comunidade.
– Esse projeto tem um grande impacto nas áreas rurais, proporcionando que as crianças possam completar a lição de casa e ter uma educação mais completa. Sem o dever de casa, sem as experiências das crianças fora da sala de aula, não há tanto progresso na educação.