Natalia da Luz, Por dentro da Africa
Cidade do Cabo – Com o objetivo de estudar a origem do universo, o maior radiotelescópio do mundo é construído no deserto de Karoo, na África do Sul. Com um milhão de metros quadrados de área coletora, o projeto coloca africanos como protagonistas de uma iniciativa importante para toda a humanidade.
-A ideia do radiotelescópio é pesquisar a estrela que formou o universo há 13 bilhões de anos, mas essa é a parte astronômica… A tecnologia que estamos desenvolvendo já foi exportada para 23 países do mundo inteiro como Estados Unidos, Canadá e Austrália. Então, isso é muito mais do que galáxias, é sobre desenvolvimento – disse, em entrevista exclusiva ao Por dentro da África, Claude Carignan, pesquisador-chefe do projeto SKA (Square Kilometre Array), um projeto internacional que é gerenciado por pesquisadores na Universidade da Cidade do Cabo.
O SKA representa um grande salto na engenharia, pesquisa e desenvolvimento para o continente africano. A implantação de telescópios poderá examinar o céu milhares de vezes mais rápido do que qualquer sistema existente. Para ter uma ideia da importância desse projeto, o SKA terá a qualidade de resolução de imagem 50 vezes maior do que o telescópio Hubble (satélite não tripulado que transporta um grande telescópio para a luz visível e infravermelha lançado pela NASA, em 1990).
-É um projeto que está há muito tempo para ser concretizado. Estávamos discutindo isso lá nos anos 90… Três quartos do programa estão aqui no deserto do Karoo, mas ele também envolve outros oito países africanos, como Quênia, Moçambique, Burkina Faso e Madagascar – disse o professor que também dá aulas de astronomia na Universidade de Montreal (Canadá) e na Universidade de Ouagadougou (Burkina Faso).
Convidado por amigos sul-africanos para participar do programa, o canadense conta que o Karoo foi escolhido porque reúne as características mais importantes para esse tipo de pesquisa. Isso porque a região está bem longe da cidade, não está vulnerável à poluição e não tem antenas de TV e telefone que possam causar interferência. Toda a pesquisa no deserto está ligada às salas de controle da universidade, que fica no coração da Cidade do Cabo.
ASSISTA AO VÍDEO ABAIXO:
Até à data, Claude lembra que o SKA financiou cerca de 400 bolsas de estudo, bolsas de pós-doutorado, cargos acadêmicos nas universidades da África do Sul, visitas e investigação. Muitos países diferentes estão trabalhando juntos. No total, 100 organizações de 20 países participaram da concepção e desenvolvimento do SKA.
A África do Sul, responsável pelo financiamento do protótipo, vem demonstrando suas habilidades em ciência e engenharia ao projetar e construir o telescópio MeerKAT – como um descobridor do SKA. As primeiras sete antenas (KAT-7) estão completas e já produziram suas primeiras fotos. O telescópio MeerKAT (com 64 antenas), atualmente em construção, será, no futuro, integrado ao SKA. O plano para erguer as 64 antenas deverá ser concluído em 2018. O SKA ainda tem mais de uma década pela frente para ser concluído e, em 2030, deverá somar 2500 antenas na África.
-O nosso primeiro protótipo (KAT-7) tem 7 antenas para treinar os nossos estudantes. O mais importante para mim nisso tudo é treinar estudantes africanos. Isso porque, muitas vezes, os africanos são apenas espectadores. Agora, eles estão tomando parte disso – destacou o especialista em astrofísica pela Universidade Nacional da Austrália.
A tecnologia desenvolvida para MeerKAT está criando um grande grupo de jovens cientistas e engenheiros com conhecimentos nas tecnologias que serão cruciais para os próximos 20 anos.
-Costumo dizer que existe um efeito colateral muito importante nesse projeto. Claro que, para mim, é magnífico poder observar as estrelas e galáxias, mas há muito desenvolvimento que pode vir para a África. Não apenas na astronomia, mas na física, matemática, engenharia.