A juventude como motor do desenvolvimento digital africano

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Young women participants work together on a laptop during an African Girls Can Code Initiative’s in April 2024. Photo: UN Women

Com informações da ONU News

A inovação digital e o avanço tecnológico ainda estão longe de alcançar todo o seu potencial no continente africano. É o que mostra um relatório sobre o desenvolvimento da África apresentado na Assembleia Geral das Nações Unidas nesta segunda-feira.

De acordo com os dados, em 2024 apenas 34% das mulheres e 45% dos homens africanos utilizavam a internet – muito abaixo das médias globais, que são de 65% e 70%, respectivamente. E o cenário da educação não é mais animador: cerca de 98% dos jovens africanos com menos de 18 anos não concluem os estudos com competências básicas em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

Essa lenta integração digital, somada ao fraco investimento em educação tecnológica, compromete o avanço rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. O chamado “fosso digital” atinge com mais força os grupos marginalizados, incluindo mulheres e comunidades rurais.

“A África é um continente vasto e populoso, rico em recursos naturais e talentos. Mas grande parte desse potencial ainda está subaproveitado”, afirmou Philémon Yang, presidente da Assembleia Geral da ONU.

O poder da juventude africana

Durante o encontro, a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, foi enfática: é preciso apostar na juventude africana.

Até 2050, o continente terá mais de 850 milhões de jovens. “Essa é uma oportunidade extraordinária. Aproveitar esse potencial exige investimento agora em educação STEM e em infraestrutura digital que conecte talento a oportunidades”, defendeu Amina.

Contudo, os sistemas atuais ainda falham em apoiar os jovens inovadores. Segundo o relatório, três em cada quatro jovens africanos enfrentam empregos precários, sem qualquer tipo de proteção social básica.

Em 2023, apenas 19% da população africana tinha acesso a ao menos uma forma de proteção social — como seguro de saúde ou previdência. No restante do mundo, a média é de 53%.

“Proteção social não é apenas uma rede de segurança. É a base para que sociedades possam inovar, correr riscos e crescer”, afirmou a vice-secretária.

Inovação com foco nas pessoas

O relatório pede que governos e parceiros internacionais adotem uma abordagem centrada nas pessoas — promovendo a inovação tecnológica sem abrir mão do trabalho decente, dos direitos e da valorização da propriedade intelectual.

“A resiliência só é possível com uma governança que coloque as pessoas no centro da formulação e da implementação das políticas públicas.”

Outro ponto de destaque foi o papel do conhecimento local. Representando o Grupo Africano, o ministro da Saúde de Gâmbia, Ahmadou Lamin Samateh, declarou:

“Reafirmamos nosso compromisso coletivo com um desenvolvimento africano liderado pelo próprio povo, baseado em conhecimento, inovação e justiça social.”

Cooperação regional é chave

Para o presidente da Assembleia Geral, nenhum país africano conseguirá alcançar a plena integração digital sozinho. A cooperação regional e o apoio multilateral são cruciais.

“As ferramentas digitais podem abrir portas para o futuro… mas nenhum país poderá superar esses desafios de forma isolada. A cooperação multilateral, com a ONU no centro, foi o motor de oito décadas de progresso humano sem precedentes”, disse Yang.

Encerrando o encontro, Amina Mohammed deixou um alerta:

“A escolha está em nossas mãos — podemos seguir com o ‘mais do mesmo’ e ver a Agenda 2030 escapar por entre os dedos, ou podemos apoiar uma transformação sistêmica real.”