Eleições em Angola: “O povo, a vítima”

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Foto da campanha de João Lourenço - Divulgação
Foto da campanha de João Lourenço – Divulgação

Por Domingos da Cruz, Por dentro da África

No dia 23 de agosto, os angolanos foram às urnas para eleger o novo presidente do país. José Eduardo dos Santos estava há quase 38 anos no poder. Após a divulgação dos resultados, os partidos de oposição não reconhecem os resultados e denunciam fraudes por parte do MPLA, partido há 42 anos no poder. 

A farsa eleitoral está consumada (?). Para mim, ainda depende de nós. Da nossa unidade. Da nossa força e poder enquanto cidadãos. Da tomada de consciência do valor da unidade e seu potencial transformador da realidade.

Ao contrário de 1992, 2008 e 2012 que terá ficado dúvidas para inúmeros setores da sociedade sobre a manipulação das eleições (não é o meu caso), desta vez está evidente. Houve subversão da vontade popular, da ordem constitucional e das demais leis infraconstitucionais que regem as eleições. Os bandidos, assassinos, ladrões, traficantes de mulheres, armas e drogas, manipularam as eleições. Não há dúvidas. Foram apanhados com a “boca na panela”!

Inúmeros elementos probatórios iluminam e sustentam a nossa convicção coletiva de que nos foi inviabilizado o direito de escolha livre:

i) Sete comissários nacionais da CNE denunciaram que não houve escrutínio. Ou seja, os resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições, foram fabricados pela cúpula do grupo dominante, e em seguida, ordenaram a sua divulgação pela porta-voz. Somadas às denúncias dos comissários nacionais são centenas de membros das Comissões Provinciais Eleitorais, para não falarmos a dos delegados de listas e fiscais.

ii) Os partidos da oposição reafirmam, com dados probatórios, a discrepância entre os resultados divulgados ilegalmente pela CNE e as atas provenientes dos locais de votação depositadas nos seus centros de contagens paralelo — documentos fiáveis na expressão da vontade cidadã. A criação de centros de escrutínios paralelos, da parte de dois partidos da oposição, provam que não há democracia, e que a CNE não é interlocutora válida. Não imagino a oposição na Coreia do Sul ou no Japão, a criar centros de escrutínio paralelos para monitorar a comissão nacional de eleições.

iii) Em virtude de haver semelhança entre o percentual anunciado antecipadamente pelo regime, de uma falsa vitória do seu partido, e os anunciados posteriormente pela CNE, é mais uma evidência de que os resultados foram produzidos pela cúpula da máfia encapuzada pelas instituições do Estado.

iv) O registo eleitoral conduzido por um árbitro e que ao mesmo tempo é jogador; solução tecnológica e logística sob responsabilidade das empresas INDRA e SINFIC, ambas famosas na fabricação de resultados eleitorais contra a vontade popular.

Foto da campanha de João Lourenço - Divulgação
Foto da campanha de João Lourenço – Divulgação

Algumas considerações de natureza analítica, empurram-me ao seguinte questionamento: será que é mera coincidência que um partido se diz vencedor com variações de 10 pontos percentuais? 2008 (81%), 2012 (71%) e 2017 (61%). Eu não tenho dúvidas que houve fantochada. Esses são resultados autoatribuídos. Queres mais uma evidência? O somatório dos primeiros resultados provisórios, atingiu 100,37%.

Esta estatística não existe em lugar nenhum. Só bestas ladras, enfurecidas pelo ato de roubar, perdem controlo e no momento de fabricarem, falharam rotundamente. Lembra-me em 2008, quando na província do Kwanza Norte, o número de eleitores votantes no partido Estado, ultrapassou os números de eleitores registados! É obra …!

Fontes do regime, informaram que quando começou a contagem, os seus pontas de lança no interior, informaram que estavam a perder. Diante deste facto, o tirano que está prestes a aposentar-se, ordenou a suspensão da contagem e ditou o resultado conveniente à manutenção dos interesses instalados.

Os elementos que solidificam a anedota eleitoral, não param por aqui. Nem no Ocidente onde as pessoas são bastante reservadas na expressão das emoções, negam-se ao direito de celebrar efusivamente, quando alcançam uma vitória qualquer: no desporto, na ciência ou na política. Os angolanos são conhecidos por serem dos mais ‘desbundeiros’ do mundo. Este regime, talvez seja a maior e mais reputada universidade de desbundas e ‘panbundalização’ do mundo. A única, tenho certeza.

Foto da campanha de João Lourenço - Divulgação
Foto da campanha de João Lourenço – Divulgação

Venceram mesmo as eleições? Porque não festejam então? No lugar de festejos colocaram militares e polícias nas ruas de todo o país. E qual foi a primeira atividade do seu candidato, proclamado pela Cuidado Nós Engananos (CNE)? Foi à Espanha negociar equipamento militar. Clone de quem o escolheu. O seu chefe e o seu regime nunca tiveram outra prioridade que não fosse as armas, a defesa. O que digo aqui pode ser provado nos Orçamentos Gerais do Estado (OGE) desde 1977. Convido-te a estudar. Vá aos arquivos e confirme.

Em entrevistas dadas à midia estrangeira, este “falso eleito” falou do país e do estadista que tem como exemplo: a China e Deng Xiaoping. Não preciso argumentar muito. Isto prova que os angolanos ainda hão-de penar muito.

Eu prefiro democracias e civilizações fundadas sobre os direitos humanos, onde a dignidade humana está acima de tudo, como por exemplo: Botswana, Ilhas Maurícias, Ghana, Cabo Verde, todos os países nórdicos, Canada, Costa Rica, entre outros.

O que fazer? Previamente, devo dizer que esta manipulação das eleições, não é um assunto que tem que ver com os partidos da oposição. É uma questão de interesse nacional e popular. Foi posto em causa o nosso direito de escolha colectiva. A vítima de facto somos nós. Os ditos partidos da oposição não perdem nada.

Se nada fizerem para mudar isto, tomarão acentos no parlamento. E nós? Continuaremos a penar. Pelos sinais à vista, esta “bosta de oposição” já está a sentir o cheiro dos Lexus LX 570. Basta ver que seguiram o caminho inútil e de perca de tempo consubstanciado em queixa na CNE e no Tribunal Constitucional.

Todos sabíamos o que estes (juízes) que já nem sabem o que é a vergonha nem a dignidade, decidiriam ao pedido de impugnação. Sou pela legalidade. Mas, os recursos aos tribunais devem ser quando existem tribunais e um sistema judicial de facto, o que não é o nosso caso. O que existem em Angola, não passam de instrumentos de expansão e continuidade da opressão. E esta é a lógica de qualquer tirania.

Foto da campanha de João Lourenço - Divulgação
Foto da campanha de João Lourenço – Divulgação

Neste contexto, um pedido de impugnação das eleições — nestas células partidárias encapuzadas pelo nome “tribunal” — deve ser feito ao mesmo tempo com pressões por meio de manifestações e outras ações de luta não-violenta, e com um claro aviso de que não se tomará os assento no parlamento (assim se instala um impasse político e institucional) se não se respeitar a legalidade, a ética política e a vontade democrática do povo, por isso, volto a chancelar a posição da sociedade civil, da qual sou parte: «que os partidos da oposição se unam para que em conjunto convoquem o povo, a única vítima desta farsa, para que possamos repor a verdade eleitoral com apoio no artigo 47º da

Constituição da República de Angola (CRA) que nos confere o direito à manifestação até a concretização e o respeito da lei. Que os cidadãos saibam que se não tomarmos uma posição alinhada e unida, jamais sairemos da neo-escravidão na qual fomos colocados pela tirania que quer manter os seus interesses cleptocráticos instalados. Que a Igreja, em nome da verdade, da doutrina social e do sentido profético […], tome uma posição firme.»