As chagas na pele que o chicote provocou,
não traduzem toda a amargura que o negro carrega no semblante triste:
os maus tratos impingidos ao escravo negro,
a distância da terra natal
e a separação das pessoas amadas,
doem muito mais.
Mas ele obstinadamente, persegue seu ideal:
não se render, não se dobrar,
se vendido, sim; vender-se, jamais!
Ainda é difuso o ideal maior: a liberdade plena
escondido em estranha neblina,
o vulto desta liberdade, dilui-se
mas, ele está lá…
Os anos caminham lentos;
perseverante, olhos no futuro,
o negro verá, um dia,
raiar o sol da outra meia liberdade.
Ai de ti,
embora livre dos grilhões
continua escravo na meia libertação !
Sentes, na pele,
todas as agruras que nos impõe esta sofrida vida
mistura-te, em lágrimas,
àqueles que mastigam línguas,
pois a fome é longa.
No sonho, num profundo sono,
Bebes o próprio sangue para amenizar a sede…
reza e envia ao Deus, implorando a Morte
Trabalho intenso na terra dura…
cavoucas o chão, ignorando a procura
quando percebes que não encontras nada,
fazes, do buraco, a tua sepultura…
Outrora, para ser escravo,
tinhas que ter a pele escura…
Agora, é diferente:
Basta-te a pobreza.
Ruy Silva Santos