De volta para reconstruir: diáspora somali traz conhecimento e esperança

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© IOM Through the MIDA program, diaspora are returning to Somalia to help build the capacity of local institution

Com informações da ONU

Para muitos países em crise, a chamada “fuga de cérebros” parece um ciclo sem fim. Conflitos armados, choques climáticos e crises econômicas empurram para fora profissionais qualificados que levam consigo o conhecimento essencial para reconstruir suas comunidades.

O resultado é um círculo vicioso: o país perde talentos, a crise se agrava e ainda mais pessoas partem. Mas, e se fosse possível reverter esse processo? Essa é a pergunta que a Organização Internacional para as Migrações (OIM) tem feito a respeito da Somália.

“Houve uma grande fuga de cérebros na Somália. Como trazer de volta as habilidades que eles conquistaram no país de residência para o país de origem?”, questiona Yvonne Jepkoech Chelmio, especialista da OIM em trabalho e migração na África.

O programa MIDA: talento que volta para casa

A resposta tem sido o Programa Migração para o Desenvolvimento na África (MIDA), que seleciona membros da diáspora somali qualificados em suas áreas de atuação e os reinsere em instituições locais — hospitais, escolas, universidades e ministérios — fortalecendo a autossuficiência do país.

© IOM Through the MIDA program, Somali diaspora were placed in hospitals to mentor local doctors.

Nos últimos 20 anos, o MIDA já apoiou o retorno de mais de 400 somalis vindos de 17 países. Esses profissionais atuaram em setores como educação, saúde, ação climática, urbanismo e Estado de direito, sempre com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável da Somália.

“[A diáspora] atua como ponte, como embaixadora, como motor de mudanças e agente de desenvolvimento”, afirma Nasra Sheikh Ahmed, oficial da OIM e integrante da diáspora somali.

Segundo ela, o sucesso do programa está em aproveitar algo que já existe: o desejo de muitos somalis de contribuir com seu país de origem.

“Eles ainda veem a Somália como sua casa. Não se consideram imigrantes em outro país, mas sim uma extensão do seu povo vivendo em outro lugar.”

© IOM/Spotlight Communications Solar panels provide consistent power to the university in Abudwaq, Galmadug.

Educação no centro da reconstrução

Embora o MIDA tenha alcançado diferentes setores, a educação tem recebido atenção especial. O professor Mohamed Gure, da Universidade Nacional da Somália, participou do programa como profissional local, trabalhando lado a lado com membros da diáspora para reformular o currículo de formação de professores.

Ele lembra que, quando iniciou seus estudos, não havia doutorado em educação no país, obrigando estudantes a buscar formação no exterior. Hoje, enfrenta outro desafio: poucos jovens desejam se tornar professores e, quando escolhem a profissão, não veem necessidade de formação pedagógica adequada.

Graças à parceria com especialistas da diáspora e à colaboração com a Universidade de Helsinque, na Finlândia, foi possível criar um novo currículo e ampliar a rede internacional de cooperação.

“Todo esse treinamento é um recurso que fica para o país. Os currículos desenvolvidos continuarão sendo usados e transmitidos a novas gerações de docentes”, comemora Gure.

Uma via de mão dupla

As parcerias são a chave para garantir a sustentabilidade do programa, criando uma via de mão dupla entre os retornados e os profissionais locais.

Muitos membros da diáspora vivem fora há décadas e enfrentam o desafio de readaptar seu conhecimento ao contexto somali. Nesses casos, são os especialistas locais que fornecem a perspectiva necessária para aplicar as técnicas de forma eficaz.

“[A diáspora] não entende totalmente a dinâmica do país. O especialista local é quem ajuda a contextualizar”, explica Chelmio.

© IOM The MIDA program has focused on empowering the education sector in Somalia.

O futuro: quando não houver fuga a reverter

Apesar dos avanços, a Somália continua a enfrentar o dilema da emigração. Milhares de pessoas ainda deixam o país em busca de oportunidades, muitas vezes arriscando suas vidas em rotas perigosas para o Golfo ou para a Europa.

O pedagogo Shire Salad, que retornou ao país pelo MIDA, resume o desafio:

“Se tivessem esperança neste país, eles teriam ficado. Minha esperança é que as novas gerações encontrem esse motivo para permanecer.”

Artigo adaptado para português escrito por Naima Sawaya, na ONU News