Editoras em movimento: a revolução literária africana

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Com informações da UNESCO

A criatividade não apenas sustenta a diversidade cultural — ela também é um poderoso motor do desenvolvimento sustentável. Isso é especialmente verdadeiro na África, onde um setor editorial em expansão pode gerar 18,5 bilhões de dólares por ano, segundo um novo relatório da UNESCO.

Para fortalecer a economia criativa africana, a UNESCO está lançando iniciativas em comemoração aos 20 anos da Convenção de 2005 sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais.

Apesar de concentrar 18% da população mundial, a África representa apenas 5,4% da receita global do setor editorial, estimada em quase 129 bilhões de dólares. O novo relatório da UNESCO, A indústria do livro na África: tendências, desafios e oportunidades de crescimento, mapeia o setor editorial africano, identificando tendências, obstáculos e recomendações estratégicas para destravar o seu potencial.

O relatório destaca avanços positivos — a começar por uma nova geração de autores que abraça formatos emergentes, como romances gráficos e livros digitais. Também enfatiza a crescente participação das mulheres no setor editorial, promovendo a equidade de gênero.

“Hoje há um verdadeiro entusiasmo em torno das escritoras em Burkina Faso. Há poucos anos, havia apenas uma dúzia delas, mas agora já são mais de duzentas.” — Rose Kouévi, escritora e idealizadora do Salão Internacional Feminino do Livro de Uagadugu (SIFLO), Burkina Faso

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O relatório também aponta para a crescente profissionalização do setor, com organizações nacionais e regionais atuando ativamente na defesa da reforma de políticas públicas e da aplicação de leis de direitos autorais.

Essa reforma é, de fato, necessária. Segundo o relatório, apenas 5 dos 54 países africanos têm leis específicas que regulam o setor do livro. O acesso aos livros é outro desafio: em média, existe apenas uma biblioteca para cada 189 mil pessoas e uma livraria para cada 116 mil pessoas. Em 2023, o continente importou 597 milhões de dólares em livros, enquanto exportou apenas 81 milhões.

Para liberar o potencial deste setor inexplorado, o relatório da UNESCO propõe uma série de recomendações, desde o fortalecimento do ambiente regulatório até a construção de mercados internos mais robustos. Isso inclui aproveitar a demanda por literatura infantil e por livros publicados em línguas locais e indígenas.

“Os livros infantis são não apenas os mais consultados no mundo, como também representam o setor mais lucrativo da indústria editorial. Portanto, negligenciar essa área na África seria um erro fundamental.” — Christian Elongué, empreendedor em literatura infantil, Senegal

A UNESCO já está implementando essas recomendações, trabalhando com editoras africanas para co-produzir livros infantis em línguas locais. A série Bintou & Issa visa conscientizar crianças sobre a escravidão e suas consequências contemporâneas, enquanto o aclamado livro O Que Nos Torna Humanos ajuda jovens leitores a entender como as línguas enriquecem nossa humanidade comum — com traduções já em crioulo mauriciano, bambara, soninquê e, em breve, em pular e wolof.

Este relatório da UNESCO é o terceiro de uma série que explora diferentes facetas das indústrias criativas africanas. Os relatórios sobre cinema, moda e, agora, edição de livros, ressaltam que a criatividade é essencial para a diversidade cultural do continente — além de ser um poderoso motor de inovação e desenvolvimento.

Essa ideia também está no cerne da Convenção da UNESCO de 2005 sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. Ratificada por 158 países e pela União Europeia, a convenção apoia medidas para promover a economia criativa — que representa quase 50 milhões de empregos no mundo, quase metade ocupados por mulheres.

Para celebrar o 20º aniversário da Convenção, a UNESCO organizará uma conferência internacional em 20 de junho, em Paris. Novas iniciativas serão anunciadas para apoiar as indústrias criativas africanas, incluindo uma nova residência cinematográfica para dez cineastas africanas emergentes. Organizada em parceria com a Tamayouz Cinema Foundation, a residência contará com a mentoria dos artistas Abderrahmane Sissako e Hicham Lasri. As inscrições serão abertas em julho de 2025.