No episódio de número 20, que marca o encerramento de sua primeira temporada, o Por Dentro África Podcast conversou com Iolanda Évora, psicóloga social e investigadora do Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento (CEsA) do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa.
A especialista em estudos sobre migração e diáspora cabo-verdiana tem como interesse de pesquisa as narrativas sobre as mobilidades africanas contemporâneas. Iolanda Évora questiona porque estas são abordadas como um “problema” e porque é que as noções ocidentais sobre essas deslocações são dominantes, enquanto pouco se reconhece sobre a perspectiva dos africanos a propósito da sua presença no mundo.
Segundo a investigadora, a África ainda é vista como lugar de “falta e pobreza” – uma imagem construída pela Europa que perpetua a relação colonial. Embora apenas 18% da emigração na Europa seja africana, “ao invés de relatos de epopeias e eventos ou realizações humanas gloriosas a migração africana sendo um problema não descreve o lugar do africano no mundo contemporâneo, este não participa porque nele não pertence,” afirma Iolanda Évora.
Com base em reflexões de filósofos africanos como Achille Mbembe, Felwine Sarr e Louis Mendy e, europeus como Guillaume le Blanc ou Claire Rodier, Iolanda pesquisa várias temáticas e conceitos desde questões de pertença, seguridade ao próprio termo de emigrante, que se confunde com outros como de refugiado ou afrodescendente.
De acordo com Iolanda Évora, “tratam-se de pesquisas qualitativas que buscam compreender o porquê dessas formulações dominantes sobre o fenômeno da mobilidade e refletir sobre o seu alcance e influência nos modos de estar no mundo, num tempo em que a circulação pelo mundo tornou-se uma realidade muito mais abrangente. Ao mesmo tempo, que as mobilidades se tornaram um elemento de exercício de controle e poder entre as nações.”
Iolanda Évora também é a investigadora principal do projeto Afro-Port. Afrodescendência em Portugal: sociabilidades, representações e dinâmicas sociopolíticas e culturais. Um estudo na Área Metropolitana de Lisboa, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
Um projeto que tem trazido contribuições para a área numa altura em que celebra a década dos afrodescendentes declarada pelas Nações Unidas (2015-2024) e para a qual Portugal não apresentou ainda uma agenda.
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